Luís Vaz de Camões, retalhos

(Comemoração dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões)

Camões lendo os Lusíadas ao rei D. Sebastião na Penha Verde, em Sintra.
Desenho de Manuel Macedo, executado por ocasião do III Centenário da morte de Luís de Camões (excerto). In Camões lendo os “Lusiadas” a D. Sebastião na Penha Verde, em Cintra [Material gráfico] / Manuel Macedo Pereira Coutinho. – Lisboa : Bertrand, Ldª, 1934. – 1 litogravura : papel, p & b ; 20 x 30 cm.

Um dos principais autores desta história foi Almeida Garrett, alguém com uma grande influência em Portugal. No seu poema Camões (1825), no canto VII, Garrett conta como Camões narrou ‘Os Lusíadas’ a D. Sebastião.

Aqui ficam os versos:

VII (IX)

“E el‑rei, como inquieto, ao aio antigo:

— «Dom Aleixo, entre tantos pretendentes

O vosso protegido não no vejo.»

— «Ei‑lo, senhor, o nobre cavaleiro

Que desejais ouvir.»

— «Sim, quero ouvi‑lo,

Quero e desejo: não ignoro o preço

Das boas letras, nem dum raro engenho

A estima desvalio: em prol da pátria

Uns obramos coa espada; cumpre a outros

Coa pena honrá‑la.»”

Almeida Garrett situou o momento da leitura na Penha Verde (hoje corresponde a uma propriedade privada):

VII (X)

— «Iremos, para ouvir‑vos,

Da Penha‑verde à fresquidão sentar‑nos.

Calmoso vai o tempo; e ademais, prazem

Dobrado entre a verdura os dons das musas.»

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«Está-se a Primavera trasladando

em vossa vista deleitosa e honesta;

nas lindas faces, olhos, boca e testa,

boninas, lírios, rosas debuxando.

De sorte, vosso gesto matizando,

natura quanto pode manifesta

que o monte, o campo, o rio e a floresta

se estão de vós, Senhora, namorando.

Se agora não quereis que quem vos ama

possa colher o fruto destas flores,

perderão toda a graça vossos olhos.

Porque pouco aproveita, linda Dama,

que semeasse Amor em vós amores,

se vossa condição produz abrolhos.

Se Agora não Quereis quem vos Ama»

(Luís de Camões, Sonetos)

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Luís Vaz de Camões nasceu em 23 de janeiro de 1524 (!), na cidade de Lisboa.

Num soneto do poeta é feita uma alusão a um eclipse solar visível em Portugal um ano antes do seu nascimento.

Imagem

Retrato póstumo de Luís de Camões, oferecido por Fernão Teles de Meneses a D. Luís de Ataíde, datado de Goa, 1581.

In https://franciscabrancoveiga.com/…/fernao-teles-de…/

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Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões, obra publicada em Lisboa em 12 de março de 1572, no período literário do Classicismo, ou Renascimento tardio, três anos após o regresso do autor do Oriente.

Os Lusíadas na edição monumental da obra editada por D. José Maria de Sousa Botelho Mourão, Morgado de Mateus.

Os Lusíadas: Poema épico / de Luís de Camões Nova ed. correcta, e dada à luz / por Dom Joze Maria de Souza-Botelho, Morgado de Mateus, sócio da Academia Real das Sciencias de Lisboa. – Paris: Officina Typographica de Firmin Didot, 1817.- [8], CXXX, [2], 413p.;37cm.- Contém anotações ms. de José Maria de Souza-Botelho.-Lombada em pele. Literatura portuguesa-poesia épica.

O Morgado de Mateus confiou a François Gérard, pintor de Luís XVIII, a escolha e a direção dos desenhadores e dos abridores das 12 gravuras (Évariste Fragonard, Alexandre Desenne, Raphael-Urbain Massard, …).

Fotografia: Francisca Veiga

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Luís de Camões

Os Lusíadas

Canto IX (Est. 1-95)

Ilha dos Amores

«95

E fareis claro o Rei que tanto amais,

Agora cos conselhos bem cuidados,

Agora co as espadas, que imortais

Vos farão, como os vossos já passados.

Impossibilidades não façais,

Que quem quis, sempre pôde; e numerados

Sereis entre os Heróis esclarecidos

E nesta «Ilha de Vénus» recebidos.»

Monumento de Homenagem a Luís de Camões

Parque dos Poetas – Oeiras

Autoria do escultor Francisco Simões

Fotografia: Francisca Branco Veiga

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Luis de Camões

Palácio Nacional de Mafra, Portugal, Autoria? | Séc. XIX

Fotografia: Francisca Veiga

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A mais antiga edição de Os Lusíadas existente na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra.
Edição em castelhano, de 1591.

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LUSÍADAS

(Canto X, estrofes 154–156)

Considerações finais do poeta

Camões apresenta-se a D. Sebastião como um poeta cujo patriotismo o motiva a servir o país através das armas e da escrita.

154

Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo,

De vós não conhecido nem sonhado?

Da boca dos pequenos sei, contudo,

Que o louvor sai às vezes acabado.

Nem me falta na vida honesto estudo,

Com longa experiência misturado,

Nem engenho, que aqui vereis presente,

Cousas que juntas se acham raramente.

155

Pera servir-vos, braço às armas feito,

Pera cantar-vos, mente às Musas dada;

Só me falece ser a vós aceito,

De quem virtude deve ser prezada.

Se me isto o Céu concede, e o vosso peito

Dina empresa tomar de ser cantada,

Como a pres[s]aga mente vaticina

Olhando a vossa inclinação divina,

156

Ou fazendo que, mais que a de Medusa,

A vista vossa tema o monte Atlante,

Ou rompendo nos campos de Ampelusa

Os muros de Marrocos e Trudante,

A minha já estimada e leda Musa

Fico que em todo o mundo de vós cante,

De sorte que Alexandro em vós se veja,

Sem à dita de Aquiles ter enveja.

As estrofes finais de Os Lusíadas retomam a Dedicatória do Canto I, estabelecendo um vínculo entre o início e o desfecho da epopeia, ao dirigir-se uma vez mais a D. Sebastião. Contudo, enquanto na abertura o propósito era oferecer-lhe a obra como expressão de lealdade e homenagem, neste momento final Camões relembra ao jovem monarca a responsabilidade que lhe cabe na condução do povo português e na regeneração moral e política do reino. Simultaneamente, exorta-o à realização de novos feitos heróicos, dignos de serem perpetuados em verso, apelando a um compromisso firme com a grandeza da pátria.

Na sua invocação final, o poeta caracteriza-se de modo humilde, enfatizando a sua condição modesta e a falta de reconhecimento: «humilde, baixo e rudo, / De vós não conhecido nem sonhado». Apesar disso, afirma reunir qualidades excecionais — o estudo honesto, a experiência e o engenho — que, como refere, «juntas se acham raramente».

Camões denuncia ainda a vileza da sociedade em que está inserido, ciente de que não será valorizado pelos seus contemporâneos. Reforça, por isso, o apelo a D. Sebastião, instando-o a contemplar os feitos passados como inspiração para restaurar a glória nacional. Neste contexto, coloca-se inteiramente ao serviço do rei, quer pelas armas — disposto a combater, se necessário — quer pelas letras, pronto a exaltar os futuros feitos de Portugal em nova e renovada epopeia.

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VEIGA, Francisca Branco, Luís Vaz de Camões, retalhos(blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [02 de Novembro de 2024].

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