As primeiras casas dos jesuítas em Lisboa

A Companhia de Jesus nos séculos XVI a XVIII esteve ativa em Portugal ao longo de um período de duzentos e dezanove anos, desde a sua fundação em Roma, em 27 de setembro de 1540, até 3 de setembro de 1759, data do decreto do Marquês de Pombal que promulgou a sua extinção no nosso país.

Foi em 1540 com D. João III (1521-1557), que a Companhia de Jesus entrou em Portugal, sendo o nosso país a primeira Província jesuíta no mundo. Numa época de forte expansão territorial D. João III irá ser o primeiro rei na Europa a contactar Inácio de Loyola devido à necessidade de encontrar missionários, homens letrados, para evangelizar o Oriente, pregando e convertendo à Fé cristã os nativos. D. João concedeu privilégios aos jesuítas, nomeadamente casas gratuitas, liberdade de enviar missionários para todo o mundo e de fundar colégios.

A Companhia de Jesus instalou-se em Portugal continental e Ilhas Atlânticas, durante este período, fundando diversas Casas Professas, Colégios, Noviciados e quintas de recreio. Só em Lisboa, à data da extinção da Companhia havia sete instituições jesuítas: a Casa Professa de S. Roque, o Colégio de Santo Antão, o Seminário de S. Patrício dos irlandeses católicos[1], o Noviciado de Nossa Senhora da Assunção (da Cotovia), o Colégio de S. Francisco de Xavier em Alfama, o Hospício de S. Francisco de Borja e o Noviciado de Nossa Senhora da Nazaré em Arroios (noviciado das Missões).


[1] Em 1611 António Rodrigues Ximenes instalou num edifício antigo da Tutoria da Infância este Seminário que se encontrava sob a direção dos jesuítas. Expulsos os jesuítas por Pombal em 1759, o Colégio de S. Patrício manteve-se em atividade até cerca de 1830, instruindo crianças pobres.

Seminário de S. Patrício dos irlandeses católicos

Noviciado de Nossa Senhora da Assunção (da Cotovia)

Colégio de S. Francisco de Xavier em Alfama

Hospício de S. Francisco de Borja

Noviciado de Nossa Senhora da Nazaré em Arroios (noviciado das Missões)

Veja-se, inclusive, VEIGA, Francisca Branco. Noviciado da Cotovia: O Passado dos Museus da Politécnica 1619-1759. Dissertação (Mestrado em Património Cultural) – Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2009.

O Pão e o Peixe Eucarísticos

Pão e Peixe Eucarísticos, arte paleocristã, séc. III (alegoria representando Jesus Cristo).

«Só temos cinco pães e dois peixes; a não ser que vamos nós mesmos comprar comida para todo este povo!»
(Lc 9, 12-13).  
«E, tendo mandado que a multidão se assentasse sobre a erva, tomou os cinco pães e os dois peixes, e, erguendo os olhos ao céu, os abençoou, e, partindo os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos à multidão.
E comeram todos, e saciaram-se; e levantaram dos pedaços, que sobejaram, doze alcofas cheias.
 E os que comeram foram quase cinco mil homens, além das mulheres e crianças».

(Mt 14,19-21)

Homilia Do Cardeal Patriarca. Lisboa, Praça do Município, 26 de Maio de 2005

“Eucaristia, memória do Coração de Cristo”

SOLENIDADE do Corpo de deus

           “ … A bênção de Deus é eficaz, realiza maravilhas. Sentir-se abençoado é sentir-se enviado, capaz de percorrer caminhos novos, que só o amor revela e torna possíveis. Cristo eleva os olhos ao Céu e pronuncia a bênção sobre o pão e o peixe, e eles multiplicam-se na medida justa do Seu amor por aquela multidão. Se o pão é um sinal de bênção, este tem de chegar a todos e para todos. “Isto é o meu Corpo, que é para vós”. E se era para todos, ele tinha de chegar a todos e para todos, para que cada um sentisse e acolhesse o dom de amor do próprio Cristo…”. In http://www.patriarcado-lisboa.pt/vidacatolica/

 

O Peixe

Além de código para se reconhecerem nos tempos de clandestinidade, o anagrama era uma proclamação de fé

Símbolo ambivalente de benção e maldição, como tudo o que é originário das profundezas marinhas, o peixe é para Jonas o instrumento da sua expiação: fugindo da ordem divina, foi engolido por um grande peixe, no ventre do qual passou três dias e três noites até ser, por fim, cuspido à beira- mar, são e salvo (Jn2,1-11). Na tradição cristã, a estadia de Jonas na barriga do peixe tem sido comparada à habitação dos mortos, de onde Cristo saiu vencedor através da Ressurreição (Mt12,40; Lc11,30). Para Tobias, o peixe foi a origem de numerosas benesses: graças ao fígado do animal, o jovem Tobias conseguiu expulsar os demónios de Sara, que ele havia desposado; e devolveu a vista ao seu pai cego.

No Novo Testamento, os peixes representam a alma dos homens chamados a serem salvos nas redes de Deus e de seus servidores (Mt13,48-49; Lc5,1-11; Jo21,1-13). Ligado ao pão (Mt14,13-21,15,23-29; Mc6,30-44, 8,1-10;Lc9,12-17;Jo6,1-15) e, geralmente, à refeição (Jo21,13), o peixe foi durante muito tempo associado à eucaristia; S. Pedro, por instrução de Jesus, encontrou, miraculosamente, a moeda necessária para pagar o imposto (Mt17, 24-27).

Devido a essas referências evangélicas, o peixe tornou- se para os primeiros Cristãos num símbolo de Cristo: um navio sustentado ou puxado por um peixe é a imagem da Igreja guiada pelo Senhor. O simples desenho de um peixe era, inicialmente, uma forma de afirmar a Fé em Cristo: a palavra IX0YE significa peixe em grego, o que na transcrição latina deu ICHTUS sendo também as iniciais de Iêsou Christos Theou Uios Sôtêr com o significado de Jesus Cristo Filho de Deus Salvador. Um símbolo mas, no entanto, com o verdadeiro sentido do Credo.

O Pão e o Peixe

Relatam os católicos que Jesus por duas vezes multiplicou pães e peixes para atender à multidão que o seguira até uma região “deserta” (longe de cidades) e ali ficara ouvindo-O e recebendo curas mas, por não se terem munido de alimentos, estavam a ponto de passar fome.

A primeira multiplicação é relatada

 por Mt14,13/23

13 Quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu, e foi de barca para um lugar deserto e afastado. Mas, quando as multidões ficaram sabendo disso, saíram das cidades, e o seguiram a pé.

14 Ao sair da barca, Jesus viu grande multidão. Teve compaixão deles, e curou os que estavam doentes.
15 Ao entardecer, os discípulos chegaram perto de Jesus, e disseram:

“Este lugar é deserto, e a hora já vai adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar alguma coisa para comer.”

Sacrário Peixe e Pão

16 Mas Jesus lhes disse:

“Eles não precisam ir embora. Vocês é que têm de lhes dar de comer.”

17 Os discípulos responderam:

“Só temos aqui cinco pães e dois peixes.”

18 Jesus disse:

“Tragam isso aqui.”                                                                     

19 Jesus mandou que as multidões se sentassem na grama. Depois pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu, pronunciou a bênção, partiu os pães, e os deu aos discípulos; os discípulos distribuíram às multidões.

20 Todos comeram, ficaram satisfeitos, e ainda recolheram doze cestos cheios de pedaços que sobraram.

21 O número dos que comeram era mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.

22 Logo em seguida, Jesus obrigou os discípulos a entrar na barca, e ir na frente, para o outro lado do mar, enquanto ele despedia as multidões.

23 Logo depois de despedir as multidões, Jesus subiu sozinho ao monte, para rezar. Ao anoitecer, Jesus continuava aí sozinho.

por Mc6,30/44,

 30 Os apóstolos se reuniram com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado.

 31 Havia aí tanta gente que chegava e saía, a tal ponto que Jesus e os discípulos não tinham tempo nem para comer. Então Jesus disse para eles: “Vamos sozinhos para algum lugar deserto, para que vocês descansem um pouco.

32 Então foram sozinhos, de barca, para um lugar deserto e afastado.

 33 Muitas pessoas, porém, os viram partir. Sabendo que eram eles, saíram de todas as cidades, correram na frente, a pé, e chegaram lá antes deles.

 34 Quando saiu da barca, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão, porque eles estavam como ovelhas sem pastor. Então começou a ensinar muitas coisas para eles.

 35 Quando estava ficando tarde, os discípulos chegaram perto de Jesus e disseram: “Este lugar é deserto e já é tarde. 36 Despede o povo, para que possa ir aos campos e povoados vizinhos comprar alguma coisa para comer.”

37 Mas Jesus respondeu: “Vocês é que têm de lhes dar de comer.”Os discípulos perguntaram: “Devemos gastar meio ano de salário e comprar pão para dar-lhes de comer?”

38 Jesus perguntou:”Quantos pães vocês têm? Vão ver.”Eles foram e responderam: “Cinco pães e dois peixes.” 

39 Então Jesus mandou que todos se sentassem na grama verde, formando grupos. 40 E todos se sentaram, formando grupos de cem e de cinquenta pessoas.

41 Depois Jesus pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e ia dando aos discípulos, para que os distribuíssem. Dividiu entre todos também os dois peixes.

42 Todos comeram, ficaram satisfeitos,

43 e recolheram doze cestos cheios de pedaços de pão e também dos peixes.

44 O número dos que comeram os pães era de cinco mil homens.

 por Lc9,10/17

10 Os apóstolos voltaram, e contaram a Jesus tudo o que haviam feito. Jesus os levou consigo, e se retirou para um lugar afastado na direcção de uma cidade chamada Betsaida.

11 No entanto, as multidões souberam disso, e o seguiram. Jesus acolheu-as, e falava a elas sobre o Reino de Deus, e restituía a saúde a todos os que precisavam de cura.
12 A tarde vinha chegando. Os doze apóstolos se aproximaram de Jesus, e disseram:

“Despede a multidão. Assim eles podem ir aos povoados e campos vizinhos para procurar alojamento e comida, porque estamos num lugar deserto.”

13 Mas Jesus disse:

“Vocês é que têm de lhes dar de comer.”

Eles responderam:

“Só temos cinco pães e dois peixes… A não ser que vamos comprar comida para toda esse gente!”

14 De fato, estavam aí mais ou menos cinco mil homens. Mas Jesus disse aos discípulos:

“Mandem o povo sentar-se em grupos de cinquenta.”

15 Os discípulos assim fizeram, e todos se sentaram.

16 Então Jesus pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu, pronunciou sobre eles a bênção e os partiu, e ia dando aos discípulos a fim de que distribuíssem para a multidão.

17 Todos comeram, ficaram satisfeitos, e ainda foram recolhidos doze cestos de pedaços que sobraram.

e por Jo6,l/15

 1 Depois disso, Jesus foi para a outra margem do mar da Galileia, também chamado Tiberíades.

2 Uma grande multidão seguia Jesus porque as pessoas viram os sinais que ele fazia, curando os doentes.

3 Jesus subiu a montanha e sentou-se aí com seus discípulos.

4 Estava próxima a Páscoa, festa dos judeus.

5 Jesus ergueu os olhos e viu uma grande multidão que vinha ao seu encontro. Então Jesus disse a Filipe:

“Onde vamos comprar pão para eles comerem?”

6 Jesus falou assim para testar Filipe, pois sabia muito bem o que ia fazer.

7 Filipe respondeu:

“Nem meio ano de salário bastaria para dar um pedaço para cada um.”

8 Um discípulo de Jesus, André, o irmão de Simão Pedro, disse:

9 “Aqui há um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas, o que é isso para tanta gente?”

10 Então Jesus disse:

“Falem para o povo sentar.”

Havia muita grama nesse lugar e todos sentaram. Estavam aí cinco mil pessoas, mais ou menos.

11 Jesus pegou os pães, agradeceu a Deus e distribuiu aos que estavam sentados. Fez a mesma coisa com os peixes. E todos comeram o quanto queriam.

12 Quando ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos:

“Recolham os pedaços que sobraram, para não se desperdiçar nada.”

13 Eles recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães que haviam comido.

14 As pessoas viram o sinal que Jesus tinha realizado e disseram:

“Este é mesmo o Profeta que devia vir ao mundo.”

15 Mas Jesus percebeu que iam pegá-lo para fazê-lo rei. Então ele se retirou sozinho, de novo, para a montanha.

A segunda somente,

 por Mt15,32/39

32 Jesus chamou seus discípulos, e disse:

“Tenho compaixão dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo, e não tem nada para comer. Não quero mandá-los embora sem comer, para que não desmaiem pelo caminho.”

33 Os discípulos disseram:

“Onde vamos buscar, nesse deserto, tantos pães para matar a fome de tão grande multidão?”

34 Jesus perguntou:

“Quantos pães vocês têm?”

Eles responderam:

“Sete, e alguns peixinhos.”

35 Jesus mandou que a multidão se sentasse no chão.

36 Depois pegou os sete pães e os peixes, agradeceu, partiu-os, e ia dando aos discípulos, e os discípulos para as multidões.

37 Todos comeram, e ficaram satisfeitos. E encheram sete cestos com os pedaços que sobraram.

38 Os que tinham comido eram quatro mil homens, sem contar mulheres e crianças.

39 Tendo despedido as multidões, Jesus subiu na barca, e foi para o território de Magadã.

e por Mc8,1/10

1 Naqueles dias, havia de novo uma grande multidão e não tinham o que comer. Jesus chamou os discípulos e disse:

2 “Tenho compaixão dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo e não têm nada para comer. 3 Se eu os mandar para casa sem comer, vão desmaiar pelo caminho, porque muitos deles vieram de longe.”

4 Os discípulos disseram:

“Onde alguém poderia saciar essa gente de pão, aqui no deserto?”

5 Jesus perguntou:

“Quantos pães vocês têm?”

Eles responderam:

“Sete.”

6 Jesus mandou que a multidão se sentasse no chão. Depois pegou os sete pães, agradeceu, partiu-os e ia dando aos discípulos, para que os distribuíssem.

7 Tinham também alguns peixinhos. Depois de pronunciar a bênção sobre eles, mandou que os distribuíssem também.

8 Comeram e ficaram satisfeitos, e recolheram sete cestos dos pedaços que sobraram.

9 Eram mais ou menos quatro mil. E Jesus os despediu.

10 Jesus entrou na barca com seus discípulos e foi para a região de Dalmanuta.

As diferenças entre as duas são pequenas, pois em ambas Jesus:

  • aproveitou do que dispunham (alguns pães e peixes);
  • mandou que o povo se sentasse em grupos (ordenou a multidão);
  • orou (tomando os pães e peixes, ergueu os olhos aos céus e abençoou- os);
  • depois fez a repartição entre os discípulos e destes para o povo;
  • todos comeram à vontade (milhares de homens, além das mulheres e crianças);
  • e ainda sobraram muitos cestos com pedaços de pão e de peixe, que Jesus mandou recolher para nada se perder.

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 Existem várias interpretações sobre o texto da Multiplicação dos Pães e Peixes, escrita na Bíblia. Quero destacar uma que relaciona esta passagem bíblica com a metodologia VER – JULGAR – AGIR – AVALIAR – CELEBRAR.

 Segundo o Evangelho de S. João, capítulo 6, versículo 1 a 15 passou-se o seguinte:

Quando as pessoas que ouviam Jesus resolveram acompanhá-lo para um lugar fora da cidade, certamente alguns deles levaram consigo alguma provisão de comida, já que dificilmente alguém sai para um lugar deserto totalmente desprevenido, sem levar um pouco de água e algum lanche. No momento da refeição, as pessoas provavelmente ficaram inseguras na hora de mostrar o que tinham, pois poderia ser pouco se no caso o vizinho estivesse sem nada. Jesus procurou fazer com os discípulos um levantamento do que existia: cada um tinha um pouco (VER). As pessoas da multidão, possivelmente estavam próximas de pessoas conhecidas umas das outras, e isto contribuiu para saber quem levou algo para comer ou não. Jesus propôs a organização em pequenos grupos como estratégia para as pessoas conversarem sobre a questão (JULGAR). A partilha do alimento é expressa por Jesus com a simplicidade de um menino com cinco pães e dois peixes – primeiro passo é simples e concreto (AGIR). Depois da partilha, as pessoas recolheram doze cestos de comida – sinal que sobrou (AVALIAR). Vendo este milagre da partilha, a multidão festejou a descoberta de que Jesus era verdadeiramente o salvador.

PELICANO EUCARÍSTICO

 

«Senhor Jesus, Pelicano bom, /
Limpa-me com teu Sangue, /
Do qual uma só gota pode libertar /
De todos os crimes o mundo inteiro».

PELICANO EUCARÍSTICO. Séc. XVIII. Portugal. Museu de São Roque, Lisboa.

Presente do Papa Bento XVI aos Bispos do Sínodo

Segundo anunciou Dom Nikola Eterović, Secretário Geral do Sínodo dos Bispos, o Santo Padre Bento XVI decidiu que a todos os Bispos participantes do Sínodo se desse um presente especial: um anel apresentando a figura de um pelicano, que é um símbolo eucarístico tradicional.

 O pelicano, que vive nas margens de lagos e rios nas regiões cálidas, dá de comer aos seus filhotes com o alimento que extrai da bolsa de pele que tem no peito. Segundo explicou a Sala de Imprensa da Santa Sé, tomando este fato como ponto de partida, antigas lendas imaginaram que o pelicano, em caso de necessidade, nutre os seus filhotes com a sua própria carne. A tradição cristã, por isso, a partir da Idade Média, começou a utilizar o pelicano como símbolo eucarístico, vendo nesse dar a própria carne como alimento uma figura de Cristo que entrega seu o Corpo e Sangue aos homens na Eucaristia. Com efeito, o conhecido hino de adoração eucarística, “Adoro te devote”, atribuído a São Tomás de Aquino, chama a Cristo Sacramentado “Pie pellicane”. Também poetas como Dante, pintores como Giotto e a sua escola, reproduzem o pelicano entre os símbolos eucarísticos.

O anel, que tem estampado na parte exterior o pelicano, tem na parte interna o escudo pontifício de Bento XVI.

Tendo por base a lenda antiga de que o pelicano alimenta os filhos com o sangue que faz jorrar do peito, esta ave tornou-se símbolo de Jesus Cristo e da Eucaristia, passando a ser muito representada artisticamente, sobretudo a partir do séc. XV.

In: http://www.eclesales.org/portugues/

O significado de pelicano

Uma das aves imundas (Lv 11,18; Dt 14,17) pertence à ordem dos steganopodes. O pelicano, ordinariamente branco, é muito vulgar na Síria, embora o pelicano dalmaciano se ache também ali. A expressão ‘pelicano no deserto’, tem sido combatida, pois trata-se de uma ave marítima. Mas é costume desta ave dirigir-se de manhã cedo ao seu lugar de pesca, voltando antes do meio-dia regularmente ao seu favorito banco de areia ou aos pântanos do interior, a fim de fazer a digestão do peixe comido e alimentar os seus filhos – e de tarde repete a operação. A aparência da ave na ocasião em que está digerindo o seu alimento, com a cabeça abatida sobre os ombros, com o bico descansando sobre o peito, manifesta desolação. As asas do pelicano são de grande poder, alcançando a sua extensão até 3,50 metros. O nome hebraico do pelicano significa ‘vomitar’, e refere-se ao hábito que tem aquela ave de armazenar alimento no largo saco, preso à mandíbula inferior, com o fim de alimentar os seus filhos. E lança a comida, apertando seu bico contra o peito.

Outrora fez-se do pelicano, ave aquática, um símbolo do amor paternal, sob o falso pretexto de que ele alimentava as suas crias com a sua própria carne e com o seu próprio sangue. Por esta razão, a iconografia cristã fez dele um símbolo de Cristo; mas existe uma razão mais profunda. Símbolo da natureza húmida que, segundo a física antiga, desaparecia sob o efeito do calor solar e renascia no inverno, o pelicano foi tomado como representação do sacrifício de Cristo e da sua ressurreição, bem como da de Lázaro. Por isso a sua imagem esteve algumas vezes ligada à da fénix. O simbolismo ligado a Cristo funda-se também na chaga do coração de onde jorra sangue e água, bebidas da vida: «Desperta-te, cristão morto, escreve Silesius, e vê, o nosso Pelicano banha-te com o teu sangue e com a água do seu coração. Se a receberes bem… num instante estarás vivo e salvo».

O Pelicano, derramando o seu sangue pelos seus filhos, é um símbolo que foi adoptado pela igreja eucarística pois, ele era considerado emblema do Salvador que derramou seu sangue pela humanidade.

O Pelicano é sempre lembrado no momento em que abre as suas entranhas para alimentar os seus filhos, em números considerados sagrados: 3, 5 e 7. O Pelicano é, também, o emblema mais significativo da caridade. E, como tira de suas entranhas o alimento de seus filhos, muitos vêem nele o mais lindo símbolo do amor materno.

Este símbolo – o pelicano- introduz o tema do Sangue de Cristo na sexta estrofe do hino eucarístico: «Senhor Jesus, Pelicano bom, / Limpa-me com teu Sangue, / Do qual uma só gota pode libertar / De todos os crimes o mundo inteiro».
O conteúdo teológico desta estrofe é um solene acto de fé no valor universal do sangue de Cristo, do qual uma só gota basta para salvar o mundo inteiro.

Hino Eucarístico

Adoro te devote

Adoro te devote, latens Deitas,
Quae sub his figuris vere latitas;
Tibi se cor meum totum subiicit,
Quia te contemplans, totum deficit.

Visus, tactus, gustus in te fallitur,
Sed auditu solo tuto creditur;
Credo quidquid dixit Dei Filius,
Nil hoc verbo veritatis verius.

In Cruce latebat sola Deitas.
At hic latet simul et humanitas:
Ambo tamen credens, atgue confitens,
Peto quod petivit latro paenitens.

Plagas, sicut Thomas, non intueor,
Deum tamen meum te confiteor:
Fac me tibi semper magis credere,
In te spem habere, te diligere.

O memoriale mortis Domini,
Panis vivus vitam praestans homini:
Praesta meae menti de te vivere,
Et te illi semper dulce sapere.

Pie pellicane Iesu Domine,
Me immundum munda tuo Sanguine:
Cuius una stilla salvum facere
Totum mundum quit ab omni scelere.

Iesu, quem velatum nunc aspicio,
Oro, fiat illud, quod tam sitio,
Ut te revelata cernens facie,
Visu sim beatus tuae gloriae.
Amen.

O CRUCIFIXO DE GIOTTO NO MUSEU DO LOUVRE

O crucifixo pintado em têmpera e ouro sobre painel de madeira, realizado em 1315 aproximadamente; atribuído a Giotto (1266–1337). Dimensões: 277 × 225 cm.
  • Cristo na cruz está na posição dolens (sofrendo), o corpo caindo, a barriga projetando-se em seu perizonium , a cabeça inclinada para a frente tocando o ombro, as costelas projetando-se, as feridas com sangue, os pés sobrepostos.
  • o crucifixo está em tabelone (pequenos painéis com cenas nas extremidades da cruz: A Virgem Maria à esquerda, São João o apóstolo à direita, presença do titulus no topo sob o painel da “alegoria do pelicano” sacrificando-se para alimentar seus filhos, mas ausência abaixo, talvez perdida, do painel da tumba de Adão com seu crânio).
  • Parte traseira ornamentada da caixa com padrões gravados em um fundo dourado, atrás do corpo de Cristo,