
No dia 7 de março de 1830 aconteceu o primeiro sermão dos novos missionários realizado na igreja do Loreto com a presença do rei D. Miguel e das suas irmãs, do Patriarca de Lisboa e do Arcebispo de Petra, com grande assistência. Este momento foi reproduzido na Gazeta de Lisboa do dia seguinte:
“…Igreja de Nossa Senhora do Loureto desta Corte, ouvir o Sermão de Missão, que pela primeira vez alli pregou hum dos Padres Jesuítas, que se achão nesta Capital, (e cuja Missão continuão estes Padres na mesma Igreja). […] e pouco depois começou o Míssionario o seu discurso expressando-se já em Portuguez claro, e com unção e energia próprias do Apostólico zelo, que anima estes venerandos Padres, por espaço de huma hora, em hum púlpito maior que os usuaes para esse fim alli disposto”[1].

Entre as personagens célebres que estiveram nesta Igreja contam-se o Padre António Vieira (1676); o Rei D. João VI, a Rainha e sua corte; o seu filho, D. Miguel e as suas irmãs; ou o Núncio Apostólico Alexandre Justiniani.
O apoio dado pelos Duques de Lafões e Cadaval e pelo Núncio apostólico a esta missão foi um passo muito importante para que a empresa, levada a cabo pela missão jesuíta, se confirmasse aos olhos de todos. No dia 25 de março o P. Delvaux escrevia ao P. Druilhet, que se encontrava no Collége du Passage (no norte de Espanha), descrevendo todos os momentos inerentes a este momento, os apoios, os medos, a força e receios dos amigos.

O fresco do teto é do pintor Pedro Alexandrino (nasceu em 1729, em Lisboa, e faleceu em 1810, na mesma cidade)[A].
Conta o P. Delvaux: “Les deux familles qui nous sont le plus cordialement attachées sont celles de Lafoens et de Cadaval; c’ est de là surtout que nous venaient les avis pleins dû plus tendre intérêt”[2].
Foi o próprio duque de Cadaval que avisou o P. Barrelle para que no seu discurso, na Igreja do Loreto, agradecesse ao rei o restabelecimento da Companhia de Jesus, tornando, deste modo, o assunto como um ato consumado e aprovado pelo próprio monarca.

No altar-mor encontra-se a imagem da padroeira Nossa Senhora do Loreto.
A estátua tricentenária, é esculpida em madeira escura de cedro do Líbano, e é uma cópia da estátua de Nossa Senhora do Loreto que se venerava na Santa Casa do Loreto, em Itália.
A presença da família real (D. Miguel, a rainha-mãe D. Carlota Joaquina e as suas filhas) nesta igreja, e no dia do primeiro sermão dos missionários jesuítas, tornou claro o apoio dado pelo rei ao restabelecimento da Companhia de Jesus em Portugal.
[1] Gazeta de Lisboa, nº 58, de 9 de março de 1830.
[A] Conhecido como pintor dos frades, pelas suas obras de índole religiosa. Da sua vasta obra, destacam-se os quadros S. Cristóvão e O Salvador do Mundo, patentes na Sé Catedral de Lisboa e os notáveis trabalhos das pinturas dos tetos, em “trompe l’oeil”, da capela do Palácio da Bemposta. Em 1785, Pina Manique nomeou-o um dos diretores da Academia do Nu
[2] Carta do Padre Delvaux ao Padre Druilhet, em Collège du Passage. Lisboa, 25 de março de 1830. In CARAYON, Auguste – Documents inédits concernant la Compagnie de Jésus, vol. XIX, pp. 220-233.
—
Como referir este texto:
Sendo um blogue com conteúdos de criação intelectual privada, estão protegidos por direitos de autor. Seja responsável na utilização e partilha dos mesmos!
VEIGA, Francisca Branco, Igreja do Loreto: primeiro sermão dos Jesuítas em Portugal (7 de março de 1830) (blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [20 de Janeiro de 2024].
In VEIGA, Francisca Branco, Companhia de Jesus. O breve regresso no reinado de D. Miguel. Ed. Autor, 2023.
#franciscabrancoveiga #historia4all #franciscaveiga #igrejadoloreto #lisboaportugal #CompanhiaDeJesus #dmiguel #sermao