Ciclo iconográfico da vida de Santo Inácio de Loyola: Um programa cultual e de doutrinação (1609)

Em 1609, no ano de beatificação de Santo Inácio de Loiola, fundador da Companhia de Jesus, publicou-se em Roma a sua vida «figurada», baseada na biografia do Padre Pedro Ribadeneyra, Vita beati patris Ignatii Loyolae religionis Societatis Iesu fundatoris ad viuum expressa ex ea quam..

Composta de setenta e nove gravuras mais um frontispício, obras de Rubens e de Jean Baptiste Barbé. É considerada a primeira grande sistematização iconográfica da vida do santo fundador, após as Vitae em folhas avulsas de Thomas de Leu (Paris, 1590) e de Francisco Villamena (Roma, 1600) e depois da série de doze gravuras de Hieronymos Wiex (Antuérpia, cerca de 1609).

Esta obra foi muito importante para a arte jesuíta, pois veio a servir de modelo para outras representações feitas um pouco por todo o mundo católico.

O gosto dos jesuítas pela Gesamtkunstwerk ou obra de arte total, mostra que, associando-se a artistas nacionais e estrangeiros, estes “homens de Deus” conseguiram interpretar os princípios estéticos vigentes no mundo católico pós reforma católica.

Um programa cultual e de doutrinação teve como consequência a criação de uma arte religiosa muito própria desta Ordem nos diversos níveis artístico, como, a arquitetura, a pintura, a escultura ou a ourivesaria.

VEIGA, Francisca Branco – Noviciado da Cotovia: O passado dos Museus da Politécnica 1619-1759 [texto policopiado]. Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em Património Cultural. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa, 2009.

Convalescença e conversão de Inácio, no Solar de Loyola
Sacristia da Igreja de S. Roque, Lisboa
autor desconhecido
Cerca de 1619
Com legenda coeva, subdividida em três:

“A – ESTANDO IGNACIO GRAVEMENTE HERIDO EL APARECE PEDRO Y EL DA SALUD /
B- VENCIDAS LAS TENTACIONES SE OFERECE POR SOLDADO AL SENOR /
 C- ORANDO DE NOCHE SE EL APARECE NUESTRA SENORA Y DALE EL DON DE LA CASTIDAD”
Vita Beati P. Ignatii Loiolae Societatis Iesu Fundatoris, 1609,
Incisões da autoria de Peter Paul Rubens
As temáticas, Convalescença e conversão de Inácio, no Solar de Loyola,
são tratadas em duas imagens distintas

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VEIGA, Francisca Branco, Ciclo iconográfico da vida de Santo Inácio de Loyola: Um programa cultual e de doutrinação (1609) (blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [28 de Setembro de 2020].

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Quando Galileu Desvendou os Segredos do Universo: O Telescópio de 1609

Galileu mostra ao Doge de Veneza como usar o telescópio. Afresco de Giuseppe Bertini, 1858.

 

No início do século XVII, o debate sobre a verdadeira estrutura do Universo estava ao rubro. Durante séculos, a humanidade seguiu a visão geocêntrica herdada de Ptolomeu, do século II d.C., que colocava a Terra imóvel no centro de tudo. À sua volta giravam sete esferas planetárias e, mais além, encontrava-se o firmamento, repleto de estrelas fixas. Este modelo parecia explicar com sucesso os movimentos do céu e dominava a astronomia e a filosofia natural da época.

Contudo, no século XVI, surgiram ideias que desafiaram esta visão. Tycho Brahe (1546–1601), um dos maiores observadores astronómicos do seu tempo, propôs um modelo intermédio. Nele, a Terra permanecia parada no centro, mas o Sol e a Lua giravam à sua volta, enquanto os planetas restantes orbitavam o Sol. Este sistema tinha a vantagem de conciliar a tradição geocêntrica com algumas novas observações, evitando um confronto direto com a filosofia e a religião dominantes.

Enquanto isso, Galileu Galilei (1564–1642) avançava com uma proposta mais radical: o sistema heliocêntrico de Copérnico (1473–1543). Neste modelo, o Sol estava localizado no centro do Universo, e a Terra — juntamente com os outros planetas — girava à sua volta. Graças ao telescópio que Galileu aperfeiçoou, tornou-se possível observar fenómenos que colocavam em causa a visão tradicional: as luas de Júpiter mostravam que nem tudo girava à volta da Terra, e as fases de Vénus confirmavam que o planeta orbitava o Sol, tal como a sugeria Copérnico.

Em Lisboa, os matemáticos do Colégio de Santo Antão seguiram atentamente estas descobertas. Reconheceram que as observações de Galileu refutaram o modelo de Ptolomeu, mas hesitaram em abandonar a visão geocêntrica. Optaram, assim, pelo sistema de Tycho Brahe, que oferecia uma espécie de “compromisso”: aceitavam as novas evidências astronómicas, mas mantinham a Terra no centro, respeitando a visão cosmológica e religiosa dominante na época.

Este período histórico mostra como a ciência avançou muitas vezes através de um equilíbrio entre inovação e tradição , e como ideias revolucionárias, como as de Galileu, enfrentaram resistência antes de serem aceites pela sociedade. Foi também um momento em que a observação direta da Natureza começou a ganhar mais autoridade do que os textos antigos, abrindo caminho para a ciência moderna.

Galileu, em 1609, construiu um telescópio com cerca de 3 vezes mais de ampliação. Mais tarde, fez versões melhoradas até cerca de 30 vezes de ampliação. Apontar o telescópio pela primeira vez para o céu foi um dos grandes momentos da história da ciência: Galileu fez logo toda uma série de descobertas sensacionais que publicou no Sidereus. A publicação do Sidereus Nuncius causou grande sensação,  ao mesmo tempo em que provocava uma controvérsia apaixonada.   

Sidereus Nuncius

Em 25 de agosto de 1609 , Galileu apresentou um dos seus primeiros telescópios — com uma ampliação de cerca de 8 a 9 vezes — aos legisladores de Veneza.

As observações de Galileu ajudaram a consolidar as ideias dos defensores do sistema heliocêntrico de Copérnico , mostrando de forma clara que a Terra não era o centro do Universo. Pouco tempo depois, Johannes Kepler descreveu a óptica das lentes e a dinâmica, um novo tipo de telescópio astronómico com duas lentes convexas, muitas vezes mencionadas como telescópio de Kepler .

Em 1615, o jesuíta português Manuel Dias , que se encontrava na China, escreveu a obra Tien Wen Lueh (Epítome de Questões sobre os Céus), redigida em mandarim. Este pequeno compêndio de cosmografia e astronomia inclui, no final, a descrição — acompanhada de figuras — da nova observação telescópica feita por Galileu em 1609, sobre os “braços” de Saturno .

O texto em chinês do jesuíta Manuel Dias sobre as descobertas telescópicas de Galileu 

No dia 22 de junho de 1633, a Inquisição romana obrigou Galileu Galilei a renegar publicamente os modelos cosmológicos que havia defendido e comprovado na sua obra Sidereus Nuncius. Esta obra, que revolucionou a astronomia ao utilizar pela primeira vez observações feitas com telescópio, apresentava evidências claras do sistema heliocêntrico, contrariando a visão geocêntrica então sustentada pela Igreja. Como consequência do seu julgamento, Galileu foi condenado por heresia e obrigado a abjurar das suas ideias.

Além de Galileu, as obras de outros importantes astrónomos como Johannes Kepler e Nicolau Copérnico também foram incluídas no Índex Librorum Prohibitorum — a lista oficial de livros proibidos pela Igreja Católica. Esta lista visava conter a disseminação de ideias consideradas contrárias à doutrina e à autoridade eclesiástica. Só mais tarde, já no século XIX, a proibição dessas obras foi revista, permitindo o avanço do conhecimento científico.

Galileu sendo interrogado pelo Santo Ofício de Roma.
Quadro de José Nicolas Robert Fleury (1797-1890).
Museu de Amsterdão.

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VEIGA, Francisca Branco, Quando Galileu Desvendou os Segredos do Universo: O Telescópio de 1609 (blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [30 de agosto de 2025].

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Texto produzido para a criação de um conteúdo audiovisual sobre os jesuítas portugueses astrónomos na China do século XVII. Este excerto integra o audiovisual concebido para ser apresentado numa exposição no Observatório Astronómico de Pequim.
VEIGA, Francisca Branco – Criação de conteúdo audiovisual dedicado aos jesuítas portugueses astrónomos na China setecentista, para exposição no Observatório Astronómico de Pequim (excerto).