O Colégio do Espírito Santo, da Companhia de Jesus, foi construído na segunda metade do século XVI, mais precisamente em 1559. Sete anos mais tarde, em 1566, teve início a construção da Igreja. Partiu da vontade do Cardeal-Infante D. Henrique, então Arcebispo de Évora, levar a toda a população a voz dos famosos pregadores daquele tempo.
A obra ficou concluída em 1572, mas a sagração solene só aconteceria em 1574, Domingo de Páscoa. A Igreja do Espírito Santo é o primeiro exemplo do chamado “estilo chão” e serviu de modelo a outras igrejas de colégios jesuítas portugueses.
A entrada na igreja é feita por um pórtico, constituído por sete arcadas redondas de granito.
O interior, de planta retangular e nave é única, é em cruz latina. Existem dez capelas laterais, destacando-se as seguintes: Capela de Santo Inácio de Loyola, Capela do Senhor Jesus dos Queimados e Capela da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos da Cidade de Évora.
No cruzeiro, do lado esquerdo, encontra-se uma arca sepulcral mandada construir pelo Cardeal D. Henrique, que se encontra vazia uma vez que o mesmo está sepultado no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
Os doze painéis do teto da sacristia contam episódios da vida de Santo Inácio de Loyola.

Túlio Espanca descreve o teto do seguinte modo:
«É de planta rectangular com abóbada de berço ornamentada por interessante composição de pintura mural datada de 1599, de altíssimo valor iconográfico por representar, em doze painéis de recorte geométrico e desenhos diferentes, episódios da vida de Santo Inácio de Loyola concebidos artisticamente antes da sua canonização, facto que se verificou em 1622, no pontificado de Gregório XV. O apainelado geral, dividido por retablitos florais com pingentes de relevo, apresenta outros motivos ornamentais fito e antropomórficos concebidos no gosto híbrido do classicismo e do barroco, com realce para os pormenores chineses que, talvez neste conjunto, se representaram pela primeira vez na pintura portuguesa».[1]
Os doze pequenos quadros do teto que procuram retratar episódios importantes da vida de Inácio de Loyola encontram-se rodeados por um medalhão com o emblema da Companhia de Jesus.
Trata-se, por certo, de um conjunto de grande importância iconográfica pela originalidade dos seus ornamentos decorativos de pintura a fresco, tão enraizada no Alentejo, e pelo facto deste ciclo iconográfico ter sido elaborado dez anos antes da beatificação de Inácio de Loyola, fundador desta Ordem Religiosa e vinte e três da sua canonização, fazendo parte, deste modo, de uma primeira campanha de propaganda para a sua canonização.
O teto da sacristia do Colégio do Espírito Santo reflete o gosto dos jesuítas pela Gesamtkunstwerk ou obra de arte total, associado a um programa cultual e de doutrinação que teve como consequência a criação de uma arte religiosa muito própria desta Ordem nos diversos níveis artístico. São um exemplo da importância que a Companhia de Jesus teve em Portugal como condutora dos princípios da Contrarreforma, utilizando a imagem para induzir os crentes na mensagem católica.
A necessitar de urgente intervenção, foi realizado um concurso público para a salvaguarda e valorização da igreja do Espírito Santo, “testemunho essencial da arquitetura, arte e missão” dos Jesuítas, publicado em Diário da República, a 28 de outubro de 2019[2].
Em modo de remate, após a expulsão dos Jesuítas, por Pombal, em 1759, e por consequência o encerramento da Universidade de Évora, a igreja foi entregue aos frades da Ordem Terceira Regular de São Francisco, até 1834 (expulsão das restantes ordens religiosas de Portugal). De realçar que, no dia 10 de setembro de 1832, D. Miguel entregou, novamente, o Colégio do Espírito Santo à Companhia de Jesus, através de um pedido do Arcebispo de Évora Fortunato de São Boaventura, mas os jesuítas nunca chegaram a ocupar este espaço devido ao ambiente de guerra civil existente no território português[3].

Fotografias da autora do blogue.
[1] ESPANCA, Júlio – Inventário Artístico de Portugal – Concelho de Évora, vol. I. Lisboa: Academia Nacional de Belas Artes, 1966, p. 87.
[2] CB/OC – “Évora: Seminário Maior assinou contrato para requalificação da igreja do Espírito Santo”. In Ecclesia, 7 de maio de 2020. [Consultado 21 maio de 2020]. Disponível na internet em: https://agencia.ecclesia.pt/portal/evora-seminario-maior-assinou-contrato-para-requalificacao-da-igreja-do-espirito-santo/
[3] VEIGA, Francisca – A Restauração da Companhia de Jesus em Portugal 1828-1834: O breve regresso no reinado de D. Miguel. In Tese elaborada para obtenção do grau de Doutor em História, na especialidade de História Contemporânea, 2019, p. 264.
Sobre a história do Colégio do Espírito Santo, de Évora veja-se, VAZ, Francisco A. L. – “O Ensino no Colégio do Espírito Santo – De Pombal à Fundação do Liceu (1750-1841)”. In Universidade de Évora (1559-2009) – 450 Anos de Modernidade Educativa, 2012, pp. .513 – 530; Idem – “O Ensino no Colégio do Espírito Santo – Desde a Expulsão dos Jesuítas à Fundação do Liceu”. In REVUE – Revista da Universidade de Évora, Ano VI, nos 10-11 (vol.I), pp. 146 – 159.