A expulsão dos Jesuítas em desenhos de critica política (1766/1882/1910)

1766

1766. Sebastião José de Carvalho e Melo, 1.º Marquês de Pombal (1699-1782).
Louis-Michel van Loo (1707-71) e Claude-Joseph Vernet (1714-89).
Museu da Cidade. Palácio Pimenta, Lisboa.

Descrição:

Este retrato foi encomendado por dois comerciantes abastados, Gerard Devisme, inglês, e David Purry, suíço, sendo ambos beneficiados pela política de Pombal, pretenderam louvar a vida e a obra do Marquês.
Ministro de D. José I, durante 27 anos (1750-1777), é a figura representante do Despotismo Iluminado português. Nesta pintura, a sua mão esquerda aponta para o Tejo, numa alusão direta à expulsão dos Jesuítas (vista como obstáculo às reformas, esta Ordem ordem foi expulsa do império português em 1759), ao controlo do Tribunal do Santo Ofício e à submissão da Igreja portuguesa. Vemos o Mosteiro dos Jerónimos como obra representante da reafirmação e vocação atlântica do reino português. Após o terramoto de 1755, e segundo os princípios do racionalismo iluminista , teve mão de ferro e espírito pragmático ao coordenar eficazmente a reconstrução de Lisboa, podendo visualizar-se simbolicamente esse espírito na estátua equestre de D. José, que se encontra no centro da nova “Praça do Comércio”, que substituiu o velho “Terreiro do Paço”, como também nas plantas que repousam debaixo da sua mão direita e sobre a banqueta, que se encontra à sua frente.

1882

“A Expulsão dos Jesuítas”
Litografia
Vejam Vóssorias o que eu faria se fosse o sr. marquez de Pombal …
Ass: “Raphael Bordallo Pinheiro”
Periódico O António Maria, 11.05.1882, pp. 148-149

O Zé Povinho vestido de marquês de Pombal, à imagem da pintura que se encontra acima, a fazer sair da barra de Lisboa os jesuítas. Neste desenho, o seu braço direito repousa sobre um panfleto com a indicação “Ensino Livre”. Nesse sentido, fundou a Aula do Comércio, o Real Colégio de Nobres e criou e distribuiu por todo o país 497 postos de “mestres de ler e escrever”. Reformou a Universidade de Coimbra, até aí controlada pela escolástica jesuítica.

1882 marca a data das comemorações do centenário de Marquês de Pombal. Esta data foi utilizada pela Maçonaria como símbolo do nacionalismo português e convenientemente aproveitada para uma campanha contra a Companhia de Jesus com a criação de ligas antijesuíticas por todo o País.

Em tom épico, Bordalo Pinheiro pretende mostrar como o Marquês de Pombal, ao expulsar os jesuítas, ambiciona devolver a Portugal a confiança e o progresso.

1910


Título: “A expulsão dos Jesuítas em 10 de Outubro de 1910” – bilhete postal com ilustração satírica alusiva às políticas anticlericais de Afonso Costa.

Seguindo ideologicamente o Marquês de Pombal, a postura de Afonso Costa e a composição lembram a pintura do século XVIII de Louis-Michel van Loo representando o Marquês de Pombal – traçando um paralelo entre os dois indivíduos. A alcunha de “mata-frades” dada a Afonso Costa pelos seus opositores reflete a intensidade com que este político levou a tarefa de demolir o poder da Igreja após o 5 de outubro.

No dia 8 de outubro de 1910 os Jesuítas foram novamente expulsos. O historiador jesuíta Francisco Rodrigues, recorda as diversas dificuldades porque passaram os seus irmãos no exercício das suas atividades: 

«As leis pombalinas que ainda se mantinham de pé e a cada momento se ouviam citar para ameaço de extermínio, obrigavam-na a retrahir-se prudentemente, a viver como escondida, sem poder levantar o rosto com desassombro nem sequer declarar abertamente o seu nome. Por outro lado, as antipathias nascidas de velhos preconceitos, enraizadas em tantos espíritos, que facilmente se assustavam com o espectro jesuitico, a falta de protecção oficial, antes não raro a má vontade dos governantes, de quando em quando a perseguição declarada e a continua vexação de uma imprensa adversa e desenfreada, eram obstáculos em demasia, que peava o desenvolvimento da nova Corporação e lhes atavam as mãos e tolhiam os movimentos necessários ao seu progresso. Contudo, não obstante as remoras que lhe impediam o passo, chegou pela força da sua vitalidade a dirigir uns dezoito estabelecimentos de formação, além dos multiplicadíssimos ministérios sacerdotaes que exercia no reino e missões em esfera cada dia mais vasta» (RODRIGUES 1917: 556) 

Todas as atividades dos jesuítas foram interrompidas drasticamente, com a restauração das leis pombalinas de 1759 e de Joaquim António de Aguiar de 1834. Estas tinham criado na sociedade portuguesa um ambiente de desconfiança e de hostilidade em relação à Igreja católica, e em particular aos jesuítas. Posteriormente, uma série de medidas deram força de lei à política de dessacralização da sociedade (CARVALHO 2013).
In summa, no outono de 1910 a Companhia de Jesus foi pela terceira vez expulsa e espoliada dos seus bens em Portugal.

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VEIGA, Francisca Branco (2024), A expulsão dos Jesuítas em desenhos de critica política (1766/1882/1910)(blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [05 de Junho de 2024].