Exílio e Igreja del Gesù: Os Jesuítas Portugueses em Génova, 1834

A igreja é conhecida como Chiesa del Gesù ou Chiesa dei Santi Ambrogio e Andrea, em referência ao seu fundador do século VI, o bispo Honorato de Milão, que se refugiou em Génova para escapar às perseguições dos lombardos.

O edifício localiza-se numa zona que, durante a Idade Média, era conhecida como o bairro dos vendedores de aves, como testemunha a vizinha Salita Pollaiuoli. Abandonada no século VII pela comunidade milanesa, a igreja foi entregue à Companhia de Jesus no século XVI, sendo reconstruída entre 1552 e 1589.

Localiza-se no coração de Génova, diante da Piazza Matteotti e nas imediações da Piazza De Ferrari. A sua localização central, aliada ao contraste entre a sobriedade da fachada e a monumentalidade do interior, reflete não apenas a importância da presença jesuíta em Génova desde meados do século XVI, mas também a tensão simbólica entre a simplicidade exterior exigida nos primórdios da Companhia de Jesus e a riqueza decorativa que veio a caracterizar os seus espaços litúrgicos.

Após a chegada da Companhia de Jesus a Génova, em 1552, o edifício foi-lhe confiado, tendo sido profundamente reformulado a partir de 1589, com base num projeto de Giuseppe Valeriano, arquiteto jesuíta responsável também pela concepção da Igreja del Gesù Nuovo, em Nápoles. O financiamento da reconstrução esteve a cargo da influente família Pallavicini, cujo apoio consolidou o prestígio da Ordem na cidade.

A planta da igreja foi inspirada no modelo da Santa Maria Assunta em Carignano, obra de Galeazzo Alessi, caracterizando-se originalmente por um traçado quadrado e cinco cúpulas. Estas cúpulas, ou zimbórios, apresentam-se encimadas por lanternas superiores com janelas, frequentemente associadas a um nível inferior de lucarnas, que garantem a iluminação natural do espaço litúrgico. Posteriormente, foi adicionada uma baía junto à entrada principal, o que alterou a configuração original para uma planta rectangular, como é possível observar na gravura publicada por Peter Paul Rubens na sua obra Palazzi di Genova.

O interior da igreja revela um programa iconográfico de grande coerência e riqueza, reunindo obras de figuras centrais do barroco italiano e flamengo. Três obras-primas encontram-se alojadas no seu interior: duas de Peter Paul Rubens — A Circuncisão (1608, no altar-mor) e São Inácio curando uma mulher possuída (terceira capela do corredor esquerdo) — assim como uma de Guido Reni, A Suplição (terceira capela do corredor direito).

A fachada, datada do século XIX, foi reconstruída com base em desenhos de Rubens, após a demolição de uma estrutura que ligava a igreja ao Palazzo Ducale.

Apresenta atualmente um esplendor multicolorido, típico do barroco genovês.

A Partida dos Jesuítas Portugueses para Génova em 1834

Sentindo que o momento de partir finalmente chegara, os missionários jesuítas começaram a organizar cuidadosamente a sua saída de Lisboa, conscientes da delicada situação política que se desenrolava no país. Entre eles destacavam-se os padres Boulogne, Palavicini e o padre superior Delvaux, figuras de grande importância na missão jesuítica portuguesa. Inicialmente, pretendiam embarcar num navio de guerra inglês que se encontrava estacionado no rio Tejo, de modo a acompanhar mais de perto o desenrolar dos acontecimentos políticos e garantir uma saída segura.

No entanto, antes que pudessem seguir esse plano, foram convocados pelo Núncio Apostólico, que os acolheu junto de si durante alguns dias, em ambiente de precaução e cuidado. A autoridade eclesiástica, consciente da delicada conjuntura, solicitou então os seus passaportes junto do governo português e pediu-lhes que o acompanhassem numa viagem discreta e protegida, visando evitar maiores riscos.

Assim, no dia 4 de agosto de 1834, partiram a bordo de um brigue genovês fretado pelo próprio Núncio, rumando para Génova. A viagem durou cerca de duas semanas, e embora tenham chegado às proximidades da cidade a 17 de agosto, só lhes foi possível entrar em Génova no dia 1 de setembro. Segundo registos do padre Carayon, o Superior da Missão Portuguesa nutria inicialmente a intenção de desembarcar num porto espanhol e dali seguir para Coimbra, para se juntar aos religiosos que ainda permaneciam em território português e compartilhar o destino da missão.

Porém, devido à persistência do surto de cólera em Portugal, o capitão do brigue recusou-se a aproximar-se das costas espanholas, temendo o atraso que uma quarentena obrigatória poderia acarretar. Consequentemente, viram-se obrigados a prolongar a viagem e seguir diretamente até Itália, onde finalmente puderam desembarcar com relativa segurança. Desta forma, os jesuítas que partiram de Portugal em 1834 enfrentaram não só os desafios políticos e religiosos da época, mas também os obstáculos sanitários que marcavam o contexto europeu naquele momento, encontrando em Génova um novo ponto de partida para a sua missão.

A presente reportagem fotográfica, da autoria de André Branco Veiga (André Veiga), regista com detalhe a riqueza arquitetónica e artística da Igreja del Gesù, constituindo um complemento visual ao texto apresentado.

– – –

Como referir este texto:

Sendo um blogue com conteúdos de criação intelectual privada, estão protegidos por direitos de autor. Seja responsável na utilização e partilha dos mesmos!

VEIGA, Francisca Branco, Exílio e Igreja del Gesù: Os Jesuítas Portugueses em Génova, 1834 (blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [12 de julho de 2025].

#franciscabrancoveiga #historia4all #franciscaveiga #genova #igrejadelgesù #CompanhiaDeJesus #delvaux #nuncioapostolico #lisboaportugal #GENOVAITALIA#1834 #andreveiga
@seguidores @destacar