
“D. FR. FORTUNATO DE S. BOAVENTURA, foi natural da villa de Alcobaça, e de família honrada, mas pouco abundante de bens, pois me dizem que seu pae exercia ali a profissão de livreiro. Devia nascer pelos annos cie 1778, a serem exactas as informações dadas por seu irmão, que diz contar ejle ao tempo do falecimento 66 annos d’edade. Professou a regra de S. Bernardo no mosteiro da sua pátria a 25 de Agosto de 1795. Passou a Coimbra, para ahi freqüentar os estudos preparatórios, e matriculando-se depois no curso theologico da Universidade, recebeu o grau de Doutor n’aquella faculdade. Destinando-se ao magistério, foi primeiramente professor no collegio das Artes, e depois subiu a Lente de Theologia, em cujo exercício esteve por alguns annos. O sr. D. Miguel, querendo premiar a devoção que elle lhe dedicava e aproveitar os seus talentos, o nomeou em 27 de Agosto de 1831 Reformador Geral dos Estudos, e a 29 de Septembro do mesmo anno Arcebispo d’Evora, sendo confirmado pelo Summo Pontífice Gregorio XVI, e sagrado a 3 de Junho de 1832. Tomou posse da cadeira metropolitana da referida cidade, que governou pouco tempo, pois teve de ausentar-se do reino em Junho de 1834, restabelecido o governo constitucional, do qual sempre se mostrara intrépido e implacável adversário, combatendo as doutrinas liberaes de palavra e por escripto, durante mais de dez annos consecutivos. Refugiando-se na Itália, assentou em Roma a sua residência; d’onde sahia comtudo nos estios, precavendo-se contra as febres que n’essa quadra costumam causar tamanhos estragos n’aquella cidade. O estudo e trabalhos litterarios, que nunca abandonava lhe subministravam unicamente algum lenitivo, servindo-lhe de conforto, para passar menos atribulados os dias de uma vida angustiada, qual não podia deixar de ser a sua em tal situação, vendo triumphar desafrontadamente na pátria princípios c doutrinas, contra as quaes tão deveras se pronunciara I M. em Dezembro de 1844”. (1)
Em 29 de setembro de 1831 é elevado à dignidade de Arcebispo de Évora pelo Papa Gregório XVI, confirmado em 24 de fevereiro de 1832.
No dia 27 de agosto de 1831, D. Miguel continua a sua batalha pela defesa dos ideais tradicionalistas e conservadores.
Nomeia para Reformador Geral dos Estudos Frei Fortunato de São Boaventura forte apoiante da monarquia tradicional e terrível combatente dos liberais e dos maçons, incessantemente fustigados pelo seu jornalismo panfletário.
Numa ação levada a cabo em periódicos, folhetos e pastorais lança-se na defesa dos Jesuítas e da Santa Religião. Publica em Minerva Lusitana (1808-1809), Punhal dos Corcundas (1823-1824), Maço Férreo Anti-Maçónico (1823), Mastigoforo (1824), A Contra-Mina, periódico moral e político (1830-1832) e O Defensor dos Jesuítas (1829-1833),
A partir de 1834, com o triunfo do liberalismo, acompanha D. Miguel para o exílio onde assume a direção da causa Legitimista.

Armas de D. Frei Fortunato de São Boaventura

Cortado: I – Virgem Maria segurando um crucifixo. II – Escudo oval com as armas da ordem de Cister.
Legenda: D. FR. FORTUNATUS. AS. BONAVENTURA. ARCHIEP. EBORENSIS.
(1) In INNOCENCIO, Diccionario Bibliographico Portuguez, Tomo II. Lisboa: Imprensa Nacional, 1859.