
A perspetiva na pintura vai ser utilizada pelos jesuítas para a captação visual da liturgia, por parte de todos os que entram nos seus espaços religiosos.
Ao examinar-se as igrejas de Gesú e de Santo Inácio, em Roma ou de São Roque, em Lisboa reparamos na forma como os jesuítas utilizaram um estilo de construção onde efeitos acústicos e ópticos estão em concordância com os sermões religiosos. Em 1583, Giacomo Vignola, arquiteto maneirista do século XVI, aplicou na Igreja mãe dos jesuítas duas técnicas que se adaptavam perfeitamente ao “estilo jesuítico”, uma geometria interna baseada num auditório e a pintura de perspectiva com fins informativos e formativos.
Podemos afirmar que através da ciência da perspectiva, os jesuítas conseguiram fazer a ligação do Cristianismo à arte e à ciência, reunindo o espaço terrestre e espacial num espaço pictórico.
O trompe-l’oeil, comopor exemplo o da pintura do tecto da igreja jesuíta de S. Roque, insinua movimento, metamorfose e paraíso[1]. A descoberta de que o infinito divino podia ser representado num espaço pictórico e finito, utilizando apenas a ilusão de óptica, foi uma descoberta essencial na catequese do povo.
“Triunfo do Nome de Jesus”, de Giovanni Battista Gaulli (Baciccia), no teto da nave da Igreja de Gesú.

Giovanni Battista Gaulli
Igreja de Gesú, Roma, Lazio, Itália. A decoração da abóbada da nave remonta ao século XVII. O fresco é obra de Giovanni Battista Gaulli, conhecido como Baciccia. Os relevos em estuque foram executados por Ercole Antonio Raggi e Leonardo Reti, seguindo os desenhos de Baciccia que pretendia efetuar uma verdadeira continuidade entre pintura e escultura.
Os frescos foram encomendados pelo superior geral da Companhia de Jesus, Padre Olivia. Este pediu que o resultado final provocasse um efeito tal nos fiéis de modo a que estes sentissem interiormente as glórias do Céu por meio da contemplação da historia da salvação.
O “Triunfo da Santa Cruz” de Amaro do Vale e Francisco Venegas, no teto da nave da Igreja de São Roque

Em 1587 o Rei Filipe I recebia, em Espanha, três projetos alternativos para pintar o teto da Igreja de São Roque, que lhe foram levados por D. João de Borja. Destes, selecionou o da autoria do seu pintor régio, Francisco Venegas, e os trabalhos começaram pouco depois. No início do século seguinte foi acrescentado o programa iconográfico, alusivo à Eucaristia, numa campanha de trabalhos conduzida por Amaro do Vale[2].
Através do vão de uma das falsas cúpulas encontra-se à espreita, segundo alguns historiadores de arte, o próprio pintor Francisco Venegas.
No centro do teto sobressai uma representação da Glorificação da Santa Cruz e dos Instrumentos da Paixão de Cristo.
A “Apoteose de Santo Inácio de Loyola” e a “falsa cúpula” de Andrea Pozzo.

Andrea Pozzo.
Igreja de Santo Inácio, em Roma. Fresco do teto em Trompe l’oeil. O teto é totalmente plano, incluindo a cúpula à esquerda, mas cria um efeito de ilusão. A fotografia foi tirada ao nível do chão, no centro da igreja (ao nível dos olhos).
O barroco típico desta igreja, que se vê nos frescos do teto (assim como nos outros detalhes da Igreja), dão-nos a perfeita impressão da imensidão celeste e da tridimensionalidade produzida num único plano. Não se trata de uma cúpula, mas de frescos que causam a impressão de profundidade pela excelente técnica com que foram pintados.
A ilusão de profundidade no teto (a falsa cúpula) celebra a vida de Santo Inácio de Loyola e a Companhia de Jesus no mundo, apresentando o santo a ser recebido no paraíso por Cristo e pela Virgem Maria rodeados por representações alegóricas dos quatro continentes conhecidos até à época.
Andrea Pozzo, um irmão leigo jesuíta, pintou, após 1685, este grandioso fresco que ocupa todo o teto da nave.
[1] IGREJA CATÓLICA. Conferência Episcopal Portuguesa, Encontro de culturas: oito séculos de missionação portuguesa , Lisboa, 1994, pp.182-184.
[2] Museu de São Roque, [Referência de 25 Agosto de 2020]. Disponível na Internet em https://sway.office.com/4qiH3Gsw8tbXMfzY?ref=Link.
In VEIGA, Francisca Branco. Noviciado da Cotovia: O Passado dos Museus da Politécnica 1619-1759. Dissertação (Mestrado em Património Cultural) – Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2009.