Jesuítas na Rússia Branca ( 1773 – 1815). Supressão!

Academia de Polotsk (Colégio Jesuíta de Polotsk). Diário de guerra, 24 de julho de 1812, aquando da passagem do exército napoleónico por Polotsk. In 1: “Vom Ausmarsch bis Moskau”. Propriedade de Christian von Martens (1793-1882).  In https://www.archivportal-d.de/item/LQKXIYSHFUUGYA5IY7YTYJR4RXUQJXPP

Menciona o Cardeal Pacca nas suas Mémoires, que quando Clemente XIV suprimiu a Ordem jesuíta, assinando o breve papal Dominus ac Redemptor (21 de julho de 1773), « il jette le papier d’un côté, la plume de l’autre, et il perd la tête». Para Daurignac “A partir de ce jour, il ne jouit plus de ses facultes que par intervales et por déplorer son malheur”[1].

 A desgraça da Ordem, uma medida política imposta pelas circunstâncias, foi gradualmente atenuada pelos sucessores de Clemente XIV, respetivamente Pio VI e Pio VII.

Mas como se pode verificar no quadro subsequente, existiu continuidade na eleição para Padre Geral da Companhia de Jesus entre 1782 e 1814, período entre a supressão pelo breve papal de Clemente XIV, Dominus ac Redemptor (21 de julho de 1773) e a restauração no dia 7 de agosto de 1814 pelo Papa Pio VII, através da Bula Pontifícia Sollicitudo omnium Ecclesiarum[2]. Embora extinta a Companhia manteve-se ativa noutras partes do globo e os seus Gerais foram progressivamente sendo eleitos. Na realidade, a sua Restauração foi quase imediata após a supressão, umas vezes mais oficiosa outras menos, num processo com varias etapas.

Figura 2 – Padres Gerais da Companhia de Jesus entre 1782 – 1853 – antes e após restauração[3].

Pontos-chave que se destacam nesse caminho para a Restauração oficial:

  • Em setembro e dezembro de 1773, o Papa Clemente XIV permitiu ao Bispo de Vilna, na Rússia da czarina Catariana II (1762-1796), que ordenasse aos jesuítas seguir o seu trabalho usual nas suas dioceses, e o mesmo ao bispo de Livónia.
  • Pio VI, em 1780, permitiu ao bispo da Rússia Branca a construção de um noviciado jesuíta, apesar dos protestos dos embaixadores da França, Espanha e Portugal.
  • O duque Fernando I de Parma entregou aos jesuítas, em 1792, o seminário dos nobres, com a aprovação do Papa.
  • Em novembro 1798, o jesuíta Pignatelli abriu um noviciado em Colorno (Parma) para formar novos jovens no espírito inaciano para a Companhia de Jesus em Itália. No mesmo ano abriram um novo noviciado em Praga. Pio VI aprovava por sete anos de provação a Companhia da Fé de Jesus, embora sem sucesso devido a algumas modificações no Instituto inaciano.

No ano de 1800 havia na Rússia Branca 214 jesuítas (94 sacerdotes, 74 escolásticos e 46 irmãos).

  • A pedido do Imperador da Rússia, Paulo I (1796-1801), e do padre jesuíta Kareu, Pio VII, no dia 7 de março de 1801, aprovava a Companhia de Jesus no Império da Rússia, através do breve Catholicae fidei[4].
  • Pio VII reconhece oficialmente a sobrevivência de um grupo reestruturado de jesuítas em Polotsk. Em 1812, o Colégio Jesuíta da Polotsk, que já funcionava há muito tempo, foi transformado em Academia, com a permissão concedido por Alexandre I, Imperador da Rússia. A Companhia de Jesus era então permitida apenas na Rússia, e a Academia de Polotsk era o único local dos ex-jesuítas na Rússia e em toda a Europa. Assim, o colégio tornou-se o ponto de encontro para estes ex-jesuítas que desejavam ser readmitidos na Companhia de Jesus . Stanislasw Czerniewicz , reitor do colégio, tornou-se Superior dos jesuítas da Rússia, quando, em 1782 , foi eleito Superior Geral durante a primeira Congregação Geral na Polónia. 
  • Os efeitos do breve papal foram dois: uma onda de petições varreu Polotsk, na Bielorrússia, onde indivíduos e grupos desejavam filiar-se aos jesuítas na Rússia; e um novo zelo encheu os jesuítas que até aí tinham estado no limbo, pretendendo estes conservar desde então a Companhia de Jesus como corpo jurídico.
  • Pio VII, para além de ter reconhecido a existência de jesuítas que sobreviviam no Imperio Russo, estendeu pouco depois o mesmo reconhecimento ao Reino das Duas Sicílias com o breve Per alias de 30 de julho de 1804.

Entretanto, a invasão francesa de 1812 na Rússia tinha provocado um recrudescimento do sentimento nacional russo, representado numa atitude profundamente hostil e xenófoba a tudo o que remetesse ao Ocidente, inclusive os jesuítas, que foram expulsos do império, em 1815.

Igreja de Santo Estêvão e o edifício do Colégio de Polotsk, c. 1865. Dmitry Strukov – 1. Vilnia University Library. 
Połacak, rio Dźvina. Colégio Jesuíta com Igreja de Santo Estêvão e Igreja Dominicana
Data:  antes de 4 de novembro de 1903
Fonte: http://www.meshok.ru
Autor desconhecido


[1] Apud DAURIGNAC, J. M. S. – Histoire de la Compagnie de Jésus, Depuis sa fondation jusqu’a nos Jours. 2ª ed., Tome Deuxième. Paris: Librairie Catholique de Périsse Frères, 1862, p. 162.

[2] GRAVURA – Pio VII na Capela dos Nobres da Chiesa del Gesù restaura a Companhia de Jesus no mundo. Gravura de Luigi Cunego

[3] Destaca-se o Padre Geral Roottaan, por ser o Superior da Companhia de Jesus que contribuiu para a instalação em Portugal de uma nova missão jesuíta, no período entre 1829 e 1834.

[4] The Papal Brief – Catholicae Fidei (1801) which partly restored the Society of Jesus. In  Jesuit Restoration 1814 [Consultado 29 out. 2014]. Disponível na internet em: http://www.sj2014.net/catholicae-fidei-1801.html

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VEIGA, Francisca Branco (2023), Jesuítas na Rússia Branca ( 1773 – 1815). Supressão! (blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [05 de Setembro de 2023].

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Veja-se, VEIGA, Francisca Branco, Companhia de Jesus. O Breve Regresso no Reinado de D. Miguel. Ed. Autor, 2023, 437 p. (Livro disponível na Amazon.es)

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