Apresentação do livro “Nossa Senhora da Rocha e a Companhia de Jesus: Política, Devoção e Tradição (1822–1834)”

O Palácio Nacional de Queluz recebe Francisca Branco Veiga e José Manuel Subtil para o lançamento do livro Nossa Senhora da Rocha e a Companhia de Jesus: Política, Devoção e Tradição (1822–1834)

No próximo dia 27 de novembro, pelas 19h00, o Palácio Nacional de Queluz acolhe a sessão de lançamento do livro Nossa Senhora da Rocha e a Companhia de Jesus: Política, Devoção e Tradição (1822–1834), de Francisca Branco Veiga e José Subtil.

O livro conta ainda com um excelente posfácio da historiadora Teresa Mónica, que enriquece e aprofunda a reflexão sobre este período singular da história de Portugal.

A obra apresenta uma análise aprofundada das complexas tensões políticas e religiosas que marcaram Portugal no início do século XIX. No primeiro capítulo, o Doutor José Manuel Subtil contextualiza essas crises, desde as invasões francesas até às regências e revoluções que moldaram o panorama político da época. Já nos segundo e terceiro capítulos, da autoria da Doutora Francisca Branco Veiga, é explorado o papel central do culto mariano de Nossa Senhora da Rocha, evidenciando-o como símbolo de poder político e espiritual, associado ao miguelismo e à influência da Companhia de Jesus.

Baseado em documentação inédita, este livro convida o leitor a revisitar um período crucial da história portuguesa, revelando como fé, política e tradição se entrelaçaram durante o reinado de D. Miguel. A devoção a Nossa Senhora da Rocha surge, assim, como expressão de resistência e afirmação da identidade nacional, com ecos que perduram até aos nossos dias.

🌿 Uma oportunidade única para descobrir como devoção e identidade nacional se entrelaçaram na construção da história de Portugal, num cenário inspirador como o Palácio Nacional de Queluz.

A sessão contará com a abertura e boas-vindas do Doutor António Nunes Pereira, Diretor dos Palácios de Sintra, e com a participação dos autores, a Doutora Francisca Branco Veiga e o Doutor José Manuel Subtil.

Um agradecimento especial ao Doutor Hugo Xavier, Conservador do Palácio Nacional de Queluz, pelo acolhimento deste evento.

Detalhe artístico

A capa do livro e os separadores dos capítulos são da autoria da ilustradora e designer Rita Machado (https://ameliemoncherie.com/) , cuja criação reflete a sensibilidade histórica e simbólica da obra.

🤍 Esperamos por si nesta celebração da história, fé e cultura!

_ _ _

Sobre o Palácio Nacional de Queluz

O Palácio Nacional de Queluz, atualmente sob a gestão da Parques de Sintra – Monte da Lua desde 2012, integra-se no conjunto dos mais relevantes monumentos históricos da esfera nacional. A sua construção teve início em 1747, inicialmente concebido como retiro de verão para o então futuro D. Pedro III. Posteriormente, o palácio transformou-se em residência habitual da família real portuguesa, sendo palco de significativos acontecimentos políticos e culturais.

Destaca-se, neste contexto, a permanência de D. João VI e do seu núcleo familiar antes da emigração para o Brasil, tendo a residência igualmente acolhido figuras de relevo, nomeadamente a rainha Carlota Joaquina e seu filho, D. Miguel. O edifício é reconhecido como um dos melhores exemplares da arquitetura rococó em Portugal e na Europa, integrando também elementos devidamente tipificados como barrocos e neoclássicos.

O Palácio Nacional de Queluz mantém-se, atualmente, como referência incontornável na preservação, estudo e divulgação do património histórico português. Foi classificado como Monumento Nacional em 1910 e, após ter sofrido um severo incêndio em 1934, foi exaustivamente restaurado, tendo sido aberto ao público como museu em 1940.

Como referir este texto:

Sendo um blogue com conteúdos de criação intelectual privada, estão protegidos por direitos de autor. Seja responsável na utilização e partilha dos mesmos!

Francisca Branco Veiga e José Manuel Subtil, Nossa Senhora da Rocha e a Companhia de Jesus: Política, Devoção e Tradição (1822–1834). Ed. Autor, 2025.

#apresentaçãodelivro#nossasenhoradarocha#CompanhiadeJesus#históriadeportugal#cultura#palácionacionaldequeluz#franciscabrancoveiga#josesubtil #ritamachado #oeirasvalley

@seguidores @destacar

Disponível na Amazon

https://www.amazon.es/…/Pro…/dp/B0G1218R19/ref=sr_1_1…

Marcos e Curiosidades do Forte de São Julião da Barra, em Oeiras

Planta do Forte de São Julião da Barra
Século XVI (A.)

O Forte de São Julião da Barra, localizado em Oeiras, é uma das mais emblemáticas fortificações costeiras de Portugal, com uma rica história que atravessa séculos e reflete momentos cruciais da política, religião e defesa do país. Inicialmente construído para proteger a entrada do rio Tejo e salvaguardar a cidade de Lisboa de ameaças marítimas, o forte tornou-se, ao longo do tempo, muito mais do que um bastião militar. Palco de episódios marcantes, como a prisão de jesuítas durante as reformas do Marquês de Pombal e a execução do general Gomes Freire de Andrade em 1817, a fortaleza também foi cenário de tensão e transformação política, testemunhando mudanças ideológicas e sociais que moldaram o destino da nação.

Além do seu papel estratégico, o Forte de São Julião da Barra está repleto de curiosidades e detalhes históricos, como a sua relação simbólica com a Torre do Bugio e os relatos de antigos prisioneiros que vivenciaram o isolamento nas suas muralhas. Cada elemento do forte, desde as suas imponentes torres até os subterrâneos que outrora serviram de cárcere, carrega histórias que ilustram a importância deste monumento como um verdadeiro guardião da memória coletiva portuguesa.

Em setembro de 1758, todas as casas da Companhia em Lisboa foram cercadas pela tropa. Eram sete: a casa professa de S. Roque, fundada durante o governo de S. Francisco de Borja, 3.° Geral da Companhia; o colégio de Santo Antão; o colégio de S. Francisco Xavier; a casa do Noviciado da Cotovia, assim chamada devido ao nome da colina em que se encontrava situada, que foi depois colégio dos Nobres; o seminário irlandês de S. Patrício; a residência de S. Francisco de Borja, Procuradoria das províncias ultramarinas; e o noviciado de vocações para as missões de Goa, Japão e China, vulgarmente chamado de Arroios.

A 3 de Setembro de 1759 foi promulgada a “Lei dada para a proscrição, desnaturalização e expulsão dos regulares da Companhia de Jesus, nestes reinos e seus domínios”.  Simbolicamente decretada um ano após a tentativa de regicídio, a expulsão oficial dos jesuítas de Portugal culminou no embarque de cerca de 1100 membros da Companhia de Jesus na zona de Belém. Dali, partiram em direção aos Estados Pontifícios, encerrando um capítulo marcante de perseguição religiosa e política no país.

Alegoria à expulsão dos jesuítas
Autor Desconhecido; c. 1759; Museu da Cidade
A interpretação alegórica desta aguarela é evidenciada pelos elementos iconográficos que acompanham a figura central do padre jesuíta. A tocha acesa que inflama o globo terrestre, junto à mitra papal e à coroa real, simboliza a suposta afronta da Companhia de Jesus ao poder eclesiástico e ao poder monárquico. O livro fechado aos seus pés representa a interdição das atividades educativas da Ordem em Portugal, enquanto o saco de moedas de ouro alude aos bens da Companhia que foram confiscados pelo Estado. No fundo da composição, uma nau afastando-se ao largo simboliza a lei de 3 de setembro de 1759, que decretou a expulsão dos jesuítas do reino. Sobre a cena, um céu tormentoso lança um raio que atinge o rosto do clérigo, sublinhando a punição divina ou política atribuída à sua figura.

Em janeiro deu-se a prisão de dez dos principais membros da Companhia de Jesus. Entre eles estavam o Padre João Henriques, Provincial da Companhia de Jesus em Portugal; o Padre Gabriel Malagrida, missionário apostólico; o Padre José Moreira, confessor do Rei e da Rainha; o Padre Timóteo de Oliveira, confessor do Príncipe do Brasil e da Duquesa de Bragança; o Padre Jacinto da Costa, diretor espiritual do príncipe D. Pedro; o Padre Francisco Duarte, historiador da Província Portuguesa; o Padre Inácio Soares, professor de teologia no Colégio das Artes de Coimbra; o Padre João Alexandre, Procurador Geral da Província do Malabar; o Padre João de Matos, Procurador da Casa Professa; e o Padre José Perdigão, Procurador da Província Portuguesa. Estas prisões, feitas sob a acusação de graves crimes, perpetuaram-se na história como um dos momentos mais sombrios para a Companhia de Jesus em Portugal.

FORTE DE SÃO JULIÃO DA BARRA 1759

O nome do Forte de São Julião da Barra é frequentemente abreviado pelo povo para “São Gião”, uma forma mais popular e informal. A festividade em honra deste santo, que foi martirizado em Antioquia sob os imperadores Diocleciano e Maximiano, ocorre a 9 de janeiro. Nas correspondências dirigidas a esta fortaleza, é comum utilizar as designações “Torre” ou “Barra de São Gião”. A origem do nome remonta à imponente torre que integra o forte, onde, todas as noites, se acende um farol equipado com 25 luzes, servindo como guia para as naus que se aproximam da entrada do Tejo.

Planta dos cárceres de S. Julião da Barra, desenhada pelo P. Lourenço Kaulen.
Aqui chegou o P. Eckart em 1762 e ficou até março de l777. Anselmo Eckart, Memórias de um Jesuíta Prisioneiro de Pombal. Braga: Livraria A. I., 1987, p. 176ª; Do original autografo do P. Kaulen Relação de algumas cousas que succederão aos religiosos da Companhia de Jesus…, p. 15 B.

O período de detenção do padre jesuíta Anselmo Eckart na Torre de São Julião da Barra, entre 1762 e março de 1777, fornece um valioso testemunho sobre a vida e as características das fortalezas que protegiam a entrada do Tejo no século XVIII. As suas Memórias de um Jesuíta Prisioneiro de Pombal não só relatam a experiência pessoal de um religioso em tempos de perseguição, mas também oferecem um olhar detalhado sobre a organização militar e simbólica destas estruturas, como a Torre de São Lourenço, mais conhecida como Torre do Bugio.

O padre jesuíta Anselmo Eckart chegou à Torre de S. Julião em 1762 e ficou até Março de l777. Refere este em Memórias de um Jesuíta Prisioneiro de Pombal:

«Esta torre enfrenta uma outra que sobressai no meio do mar, chamada vulgarmente Torre do Bugio, ou do macaco por ser uma imitação da fortaleza de S. Julião. Macaco de imitação também, porque quando o forte de S. Julião dispara uma peça de artilharia logo a Torre do Bugio responde com outro tiro. É esta Torre dedicada a S. Lourenço, e celebra-lhe o dia da comemoração como sua festa principal. Está munida de doze grandes canhões a que vulgarmente chamam os doze Apóstolos. A guarnição é feita por soldados de S. Julião, que se rendem todos os meses»[1] .

Forte de São Lourenço do Bugio, também conhecido como Forte de São Lourenço da Cabeça Seca ou simplesmente Torre do Bugio.
Bugio visto do Forte de São Julião da Barra.

Fotografia @franciscabrancoveiga

O relato de Eckart destaca a relação simbólica e operacional entre o Forte de São Julião e a Torre do Bugio, refletindo o rigor defensivo e o valor estratégico destas edificações. A descrição minuciosa das tradições associadas às fortalezas, como a celebração do dia de São Lourenço e o uso dos “Doze Apóstolos”, revela não apenas a dimensão militar, mas também a interseção entre devoção religiosa e vida quotidiana na guarnição. Este testemunho constitui uma fonte histórica rica, ilustrando a realidade das fortificações costeiras portuguesas numa época de desafios internos e externos.

Segundo Eckart os jesuítas «foram conduzidos para a Torre de S. Julião, onde os sepultaram vivos nos subterrâneos que Pombal mandara cavar»[1].

FORTE DE SÃO JULIÃO DA BARRA 1817

Em maio de 1817, implicado e acusado de liderar uma conspiração, Gomes Freire de Andrade (Viena, 27 de janeiro de 1757 – Oeiras, Oeiras e São Julião da Barra, Forte de São Julião da Barra, 18 de outubro de 1817) foi detido, preso, tratado como um criminoso, condenado à morte e enforcado (embora tenha pedido para ser fuzilado), na manhã de 18 de outubro, no Forte de São Julião da Barra, em Oeiras, por crime de traição à Pátria. As suas cinzas foram lançadas ao mar.

Execução de Gomes Freire de Andrade

Com a expulsão dos franceses e a queda de Napoleão, a família real portuguesa permanecia no Brasil, enquanto os ingleses continuavam a exercer um domínio quase colonial sobre Portugal. Este controle humilhava os verdadeiros patriotas, que viam o país subordinado aos interesses britânicos. O descontentamento era generalizado: o povo revoltava-se porque grande parte dos rendimentos nacionais era enviada para o Rio de Janeiro, enquanto as classes mais instruídas ansiavam por mudanças, inspiradas pelas ideias liberais que já se espalhavam pela Europa. Um clima de impaciência e fervor revolucionário tomava conta dos corações patrióticos.

Neste cenário, Gomes Freire de Andrade, suspeito de conspirar contra o domínio britânico e o absolutismo monárquico, foi preso, junto a outros companheiros, em 25 de maio de 1817. Após um julgamento marcado por graves irregularidades e injustiças, o corajoso general foi condenado à morte. A sentença foi divulgada apenas dois dias após a sua execução, evidenciando o ódio de Beresford, que, numa última humilhação, negou a Gomes Freire um fuzilamento honrado, digno de um soldado, e ordenou que ele fosse enforcado, como se fosse um criminoso vulgar.

A execução ocorreu às 9 horas da manhã de 18 de outubro de 1817. O cenário era tanto trágico quanto emblemático: Gomes Freire, sereno e altivo, vestia uma alva, mantendo a compostura apesar do frio e das pedras que feriam os seus pés. A expressão cruel do carrasco contrastava com a dignidade do general. Após o enforcamento, o corpo de Gomes Freire foi incinerado numa pira de lenha, e os seus restos mortais, em um ato de desrespeito final, foram lançados ao mar. Este episódio ficou gravado na história como um dos mais sombrios atos de repressão contra os ideais de liberdade e justiça em Portugal.

Roque Gameiro, de parceria com Alberto de Sousa, participou na ilustração dos Quadros da História de Portugaleditada em 1917. 

Em memória de Gomes Freire de Andrade, executado em 1817, uma lápide e um silhar de azulejos com a sua efígie foram colocados sobre a porta da torre do Forte de S. Julião.

Fotografia @franciscabrancoveiga
Fotografia @franciscabrancoveiga
Fotografia @franciscabrancoveiga
Fotografia @franciscabrancoveiga
Fotografia @franciscabrancoveiga
Quarto/prisão onde esteve Gomes Freire de Andrade
Fotografia @franciscabrancoveiga
Quarto/prisão onde esteve Gomes Freire de Andrade
Fotografia @franciscabrancoveiga

FORTE DE SÃO JULIÃO DA BARRA 1834

Pela Portaria de 24 de maio de 1834, dirigida ao Corregedor de Coimbra, quatro dias antes da publicação do Decreto da extinção das Ordens religiosas, determinava Joaquim António de Aguiar que «d’ella saiam [os Jesuítas] immediatamente, dando-lhes itinerário», e no prazo mais curto possível se apresentassem na secretaria de estado, onde se providenciaria os meios para o seu embarque com destino ao exílio[2]. Tinha a Companhia de Jesus honras de perseguição em decreto especial.

Os Padres Jesuítas, que se encontravam em Coimbra e seguiam em direção a Lisboa, foram encaminhados para a Torre de São Julião da Barra, onde chegaram no dia 6 de junho do ano corrente. A decisão visava mantê-los sob custódia, protegendo-os de possíveis ataques populares, já que o clima ainda era tenso devido às recentes vitórias obtidas contra o Exército Miguelista.

Carta em Francês, que a bordo do navio e no dia da partida (7 de julho de 1834) dirigiu por despedida ao governador do Foret de S. Julião da Barra o P. Mallet, Superior da Missão portuguesa da Companhia de Jesus.

«A bordo em 7 de julho de 1834

Senhor Governador Chegou o dia em que devemos deixar este país agradável, onde não existem nem as prisões que não tenham os seus atrativos! Dentro de algumas horas voltaremos a ver, provavelmente nunca mais as veremos, as muralhas do Forte de S. Julião, […] Em nome de todos os meus colegas tenho a honra de estar, com a maior estima e eterna gratidão»[3].

In summa, o Forte de São Julião da Barra simboliza um espaço de grande significado histórico e político, servindo como palco de eventos marcantes que refletem as tensões e transformações de Portugal ao longo dos séculos. Desde a expulsão dos Jesuítas em 1759, uma medida que consolidou a autoridade do Marquês de Pombal e reafirmou o poder do Estado sobre a Igreja, até a execução de Gomes Freire de Andrade em 1817, um marco trágico da luta entre absolutismo e liberalismo, este forte tem sido testemunha silenciosa de perseguições e mudanças ideológicas.

A sua função como prisão e fortaleza militar, associada ao controle e à repressão, também se entrelaça com um simbolismo de resistência e memória, perpetuado por documentos, relatos e até homenagens póstumas, como a lápide dedicada a Gomes Freire.

Assim, o Forte de São Julião da Barra permanece não apenas como uma estrutura defensiva à entrada do Tejo, mas como um marco da história portuguesa, carregando em suas paredes os ecos das disputas políticas, das perseguições religiosas e dos anseios por liberdade e justiça.

XXXXXXXX

(A.) – CARITA, Rui; Cardoso, António Homem, O Escudo do Reino: A Fortaleza de S. Julião da Barra, Ministério da Defesa Nacional, 2007.

[1] In Anselmo Eckart, Memórias de um Jesuíta Prisioneiro de Pombal. Braga: Livraria A. I., 1987, pp. 183; 104.

[2] Portaria de 24 de maio de 1834, dirigida ao Corregedor de Coimbra, para proceder à imediata expulsão dos Jesuítas. ARQUIVO UNIVERSIDADE DE COIMBRA (AUC), Colégio das Artes, Relações de Livros existentes em antigo Cartório – tombos de bens, privilégios e doações do Património antigo e novo (dos extintos colégios da Companhia de Jesus). Inventário de Bulas, Alvarás, sentenças e outros títulos com remissão para as gavetas do Cartório, [Manuscrito].V. cx.; SILVA, Antonio Delgado da – Collecção da legislação Portugueza desde a ultima compilação das ordenações: Legislação de 1833 a 1834, vol. VIII, anno de 1834. Lisboa: Typ. Maigrense, 1835, p. 438; Chronica Constitucional de Lisboa, nº 124, de 27 de maio de 1834.

[3] Produções dos Padres Jesuitas durante o tempo q estivérao na Torre de Saõ Julião da Barra, anno 1834.

Como referir este texto:

Sendo um blogue com conteúdos de criação intelectual privada, estão protegidos por direitos de autor. Seja responsável na utilização e partilha dos mesmos!

VEIGA, Francisca Branco, Marcos e Curiosidades do Forte de São Julião da Barra, em Oeiras (blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [02 de Dezembro de 2024].

@franciscabrancoveiga #historia4all #franciscaveiga #fortedesaojuliaodabarra #CompanhiaDeJesus #gomesfreiredeandrade #curiosidadesdahistoriadeportugal #oeirasvalley

@seguidores


Fotografia @franciscabrancoveiga

Fotografia @franciscabrancoveiga

Convento da Cartuxa, Laveiras (Oeiras)

No passado sábado, dia 10 de abril, participei numa visita à Quinta da Cartuxa, antes do início dos trabalhos que irão iniciar-se em breve. O Município de Oeiras formalizou, no passado dia 17 de fevereiro, a transferência da posse da Quinta da Cartuxa para o Município, após anos de tentativas e negociações com o Estado.

Aqui vos deixo uma nótula brévis da história do espaço conventual e a minha reportagem fotográfica do estado em que se encontra o espaço neste momento, esperando que melhores dia virão!

D. Simôa Godinha, filha de um dos primeiros colonos de S. Tomé e Príncipe, casada com o fidalgo D. Luis de Almeida, morre em Lisboa em 1594, deixando à Santa Casa da Misericórdia a sua herança. Entre outros bens, deixa uma quinta em Laveiras para a fundação de um convento. A partir do início do século XVII a Ordem cartusiana, passaria a dispôr de uma segunda casa em Portugal (a primeira foi em Évora), em Laveiras, concelho de Oeiras.

A Cartuxa de Laveiras também será conhecida como Cartuxa de Santa Maria do Vale da Misericórdia (“Sanctae Mariae Vallis Misericordiae”), Cartuxa de Nossa Senhora do Vale da Misericórdia, Cartuxa de Lisboa e Mosteiro de São Bruno.

Estudo para o Panorama de Lisboa, Domingos Sequeira. Em primeiro plano vê-se a ponte sobre a ribeira de Barcarena (dos Ossos) e a igreja da Cartuxa de Laveiras, seguidos da Quinta Real de Caxias. Em segundo plano, uma grande quantidade de navios e barcos sobem o Tejo sobre o cenário da Trafaria e do Cachopo sul ou Alpeidão. Ao fundo, na linha de horizonte, distingue-se o Cabo Espichel. In Revista Municipal, 4º Trimentre, 1941, pp. 14-18.

A vida da Ordem Cartusiana  assentava em princípios que impunham a solidão e o silêncio continuado, o jejum, a abstinência de carne, a clausura perpétua, o uso constante do cilício e a oração durante a maior parte do dia e da noite. Estes princípios eram seguidos com rigor. Os padres comunicavam entre si uma vez por semana passando a maior parte da jornada em clausura nas suas celas, onde rezavam, estudavam e tomavam as refeições, deslocando-se diariamente apenas à igreja e semanalmente ao refeitório. Assim, a cela de um monge cartuxo era constituída por mais do que um compartimento: ela continha em geral entre quatro a seis divisões, podendo ser considerada uma célula residencial autossuficiente com, no mínimo, um quarto, escritório, capela e jardim individual.

Revista Municipal, 4º Trimentre, 1941, pp. 14-18.

Estas celas formavam um módulo que se repetia em redor de um claustro principal de dimensão invulgarmente grande. O claustro, chamado “grande” ou “maior”, erguia-se tipicamente por trás da igreja. Nos flancos do templo, dispunham-se em geral outros claustros menores, que serviam outros compartimentos – o refeitório dos irmãos leigos, o dormitório destes, a sala capitular, a sacristia. A igreja é, em geral, de pequena dimensão, por servir uma comunidade relativamente reduzida e porque a assistência de público é pouco importante. A este era destinada a primeira parte da nave, junto ao acesso do adro; numa faixa intermédia ficavam os irmãos, e junto ao altar, de área mais generosa, os padres.

Em 1833, com a extinção das Ordens Religiosas pelo regime liberal, os monges da Cartuxa de Laveiras puseram-se em fuga, abandonando a clausura e seguindo a pé pelo país em busca de porto seguro. Na minha tese de doutoramento escrevi o seguinte sobre este momento:

«Com a entrada do exército do Duque da Terceira em Lisboa, os monges da Cartuxa de Laveiras, que ajudaram os missionários jesuítas no contacto com o povo, decidem abandonar o mosteiro e juntar-se ao Cortejo do Tesouro Real de Queluz, aos «Paisanos, Mulheres, Crianças, Frades»[1], e rumaram a Coimbra onde se encontrava a Corte. Pelo caminho encontraram já em debandada os franciscanos do Varatojo, os cistercienses de Alcobaça e os arrábidos de Mafra[2]». [3]

Já a Cartuxa de Évora fechou no ano seguinte, em 1834, após o fecho compulsivo e a expulsão dos monges da congregação.

Pelo convento da Cartuxa de Laveiras passou o pintor português Domingos Sequeira, que ingressou em 1796 e aí permaneceu até 1802.

No seu recolhimento pintou uma série de cinco telas de grande dimensão com passos da vida de S. Bruno (fundador e patrono dos Cartuxos) e de outros santos eremitas (Santo Onofre, S. Paulo e Santo Antão). O conjunto encontra-se disperso: «A conversão de S. Bruno», no Museu Nacional Soares dos Reis, «São Bruno em oração» e «Comunhão de Santo Onofre», ambos do Museu Nacional de Arte Antiga, e ainda «S. Paulo com Santo Antão no deserto». 

Telas com temática cartuxa da Igreja lisboeta de Santa Cruz do Castelo. Representam um bispo com o hábito cartuxo e sete mártires da perseguição levada a efeito pela reforma de Henrique VIII, todos com o hábito da Ordem. Seria um grupo de telas idêntico a este que se encontraria na Cartuxa de Laveiras. In Documento para a fundamentação da proposta de classificação de bens culturais relativo ao interesse histórico da igreja e mosteiro da Cartuxa (Documento da Direção-Geral do Património Cultural, Departamento dos Bens Culturais, Divisão do Património imóvel, móvel e imaterial.

Domingos Sequeira foi nomeado pintor da corte em 1802 e codiretor da empreitada de pintura do Palácio da Ajuda.

Domingos António de Sequeira.
(Lisboa, 10 de Março de 1768 – Roma, 8 de Março de 1837)

 

Autor    Domingos Sequeira
Data      1799-1800
Técnica               Pintura a óleo sobre tela
Dimensões         132 cm  × 192 cm
Localização        Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

São Bruno em oração é uma pintura a óleo sobre tela pintada por Domingos Sequeira em 1799-1800, obra que decorou inicialmente o Convento da Cartuxa (Caxias), perto de Oeiras, tendo posteriormente sido transferida para o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.

Descrição da pintura: São Bruno encontra-se prostrado em oração no interior de uma gruta, lugar apropriado para a oração, tendo à sua frente um livro de orações aberto, e ao seu lado um crucifixo assente sobre dois livros fechados, uma caveira e uma lâmpada acesa. Ao fundo vê-se uma bilha e uma tigela.

_ _ _

[1] COSTA, Francisco de Paula Ferreira da – Memórias de um miguelista: 1833-1834, p. 24.

[2]GOMES, J. Pinharanda A Ordem da Cartuxa em Portugal: Ensaio da Monografia Histórica, pref. dos Cartuxos de Scala Coeli. Salzburg: Institut für Anglistik und Amerikanistik, 2004, pp. 172-175.

[3] VEIGA, Francisca Branco – A Restauração da Companhia de Jesus em Portugal 1828-1834: O breve regresso no reinado de D. Miguel. Tese elaborada para obtenção do grau de Doutor em História, na especialidade de História Contemporânea, 2019.

VISITA GUIADA 10 ABR 2021

Como referir este artigo:

Sendo um blogue com conteúdos de criação intelectual privada, estão protegidos por direitos de autor. Seja responsável na utilização e partilha dos mesmos!

VEIGA, Francisca Branco (2021), Convento da Cartuxa, Laveiras, Oeiras (blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [16 de Abril de 2021].

#franciscabrancoveiga #historia4all #franciscaveiga #cartuxa #laveiras #Cartuxos #oeirasportugal