Rafael Bordalo Pinheiro

(Lisboa, 21 de março de 1846 — Lisboa, 23 de janeiro de 1905)

Nascido no dia 21 de março de 1846 em família de artistas, Rafael Augusto Prostes Bordalo Pinheiro , filho de Manuel Maria Bordallo Pinheiro (1815-1880) e D. Maria Augusta do Ó Carvalho Prostes, cedo ganhou o gosto pelas artes. 

Rafael Bordalo Pinheiro foi não só o maior caricaturista e desenhador humorista do século XIX português, como um dos mais importantes e significativos artistas da sua geração, a par do seu irmão Columbano e de José Malhoa.

Estruturalmente caricaturista, por gosto, por temperamento, não teve escolas, não seguiu métodos. Ele mesmo declarava em 1903, quando a Associação dos Jornalistas de Lisboa lhe fez uma grande homenagem nacional:

“Sabe porque comecei a fazer caricaturas? A razão é semelhante à que levou Justino Soares a professor de dança. O Justino a quem lhe perguntava porque tinha deixado o ofício e se tinha metido a dançarino respondia: O menino comecei a sentir um formigueiro nas pernas e vai puz-me a dançar. Ora comigo dá-se um caso idêntico. Comecei a sentir um formigueiro nas mãos e vai puz-me a fazer caricaturas…”

Espírito irrequieto, Bordalo não via a sociedade só pelas qualidades exteriores, ia mais longe, aprofundava o carácter da mesma, a tal ponto que, muitas vezes com apenas um traço e todo o desassombro da sua independência, dava a conhecer uma personagem.

A sua obra bem-humorada, reflete uma época cheia de tolerância, caracterizada pela «doce paz» do reinado de D. Luís, e que a história denominou de “paz podre”.

Foi caricaturista de raça, na fertilidade das suas obras e na imaginação que lhes impunha. Como jornalista, ele reproduziu a atualidade como ninguém. Entre 1870 e 1905 tornou-se na alma critica e muito assaz de todos os periódicos que dirigiu quer em Portugal, quer nos três anos que trabalhou no Brasil.

Espontâneo na caricatura será através da cerâmica que a sua individualidade também persistirá, tendo aceitado o convite para chefiar o setor artístico da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. O que notabilizou a interferência de Bordalo Pinheiro na faiança caldense foi o impulso estimulador de uma nova era de renascimento, que o artista transmitiu não só pelo exemplo, como ensinando a alguns artífices o desenho por eles completamente ignorado até então. Onde se revelava mais exuberantemente a sua boa influência era no apuramento e perfeição do esmalte e na unidade e riqueza da cor.

Ramalho Ortigão, depois de ver as peças criadas por Bordalo, declarou que a sua faiança era «um capítulo de Folclore português», tendo Bordalo «criado um novo estilo decorativo genuinamente nacional».

A história da sociedade portuguesa do último quartel do século XIX, nos seus múltiplos aspetos, está toda documentada nos seus jornais humorísticos. A política foi para ele um vício que satisfazia no Chiado, o seu «habitat», mas também uma ação cívica consciente e patriótica e, por isso, necessariamente crítica. E, acima de tudo, foi uma ação independente, alheia a partidos e seus interesses, mal vista por progressistas ou regeneradores e também, às vezes, pelos republicanos da sua simpatia. Em 1885, ele afirmava, «As minhas opiniões, boas ou más, não se subordinaram nunca ao “mot d’ordre”».

Por isso o povo (ou o «povinho») o chorou sinceramente, à sua morte, no dia 23 de janeiro de 1905.

Rafael Bordalo Pinheiro

A 12 de junho de 1875 criou a figura do Zé Povinho. É a figura de um homem comum eternamente explorado e enganado pelos políticos. Foi utilizado como símbolo dos republicanos, numa altura em que a República aflorava como esperança para a saída da profunda crise em que o país estava mergulhado. Nele se via a crítica mordaz ao pagamento de impostos, ao peso fiscal ou à espoliação por parte dos políticos.

Gravura:
Primeira caricatura do personagem “Zé Povinho”, in “A Lanterna Mágica”, nº 5, 12 de Junho de 1875.
Descrição:
Representa o Ministro da Fazenda, Serpa Pimentel, a sacar ao Zé Povinho uma esmola de três tostões para Santo António de Lisboa (representado por Fontes Pereira de Melo) com o “menino” (D. Luís I) ao colo, tendo ao lado o comandante da Guarda Municipal, de chicote na mão, presente para prevenir uma eventual resistência.

Tomou forma tridimensional pelas mãos do seu criador, na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, no último quartel do século XIX. Bordalo Pinheiro definiu-o da seguinte forma: “O Zé Povinho olha para um lado e para o outro e… fica como sempre… na mesma“.

CAIXA «ORA TOMA»
O recipiente tem a forma dum barril e a tampa representa o busto do Zé Povinho fazendo o gesto do «Toma». O busto pousa numa base circular com identificação em letras relevadas: TOMA
Barro vidrado policromo, com exceção do rosto que é apenas policromado.
Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. Exemplar datado de 1904. Alt.: 255 mm

Caricatura de Zé Povinho e Rafael Bordalo Pinheiro na Estação Aeroporto do Metropolitano de Lisboa, 2012.