IGREJA DE GESÚ (Roma) / IGREJA DE S. ROQUE (Lisboa)

A igreja de Gesú, em Roma, tornou-se o modelo arquitectónico a seguir, aquele que traduz as leis e as regras da Companhia de Jesus, onde o altar se encontra no local de acordo com objetivos litúrgicos assumidos no Concílio: uma só nave, larga e desafogada; seis capelas laterais intercomunicantes, de um lado e de outro da nave, erigidas em honra dos Santos e Mártires, permitindo-se a passagem destas ao transepto através de duas câmaras circulares; o transepto é ligeiramente saliente com capelas nos topos; a cúpula sobre o cruzeiro é grande, permitindo iluminar toda a abside; o altar principal fica, geralmente, numa posição bem visível, no topo da capela-mor e o púlpito[1] alto e bem posicionado para dominar sem dificuldade todo o templo e ao mesmo tempo tornar-se o ponto focal, para onde tudo converge.

(9) Altar-mor                                                  (8) Abside

(10) Capela de Madonna della Strada            (7) Capela do Sagrado Coração de Jesus

(11) Capela de Santo Inácio                           (6) Capela de Francisco Saverio

(15) Cúpula                                                     (16) Sacristia

(18) Crucifico maior                                       (17) Ante Sacristia

(12) Capela da Santíssima Trindade               (2) Nave

(13) Capela da Sagrada Família                     (5) Capela dos Anjos

(14) Capela de Francisco Borgia                    (4) Capela da Paixão de Cristo

(1) Fachada                                                     (3) Capela de Santo André

A necessidade de mostrar a grandeza de Deus num espaço amplo, com muita luz, incentiva o povo cristão ao culto mostrando de uma só vez todo o recinto sagrado e o orador a pregar.

Esta igreja corresponde a dois tempos vividos pela Reforma, a sobriedade dos primeiros tempos e a riqueza e ostentação do segundo, onde o maneirismo da estrutura arquitectónica se mistura com barroco da decoração.

No âmbito do Padroado Português, o modelo mais próximo terá sido a igreja de S. Roque, em Lisboa. O projecto da igreja de S. Roque embora inspirado no da igreja de Gesú, apresenta em relação a esta várias diferenças como: a diminuição da largura do transepto que, na igreja de Lisboa, quase se confunde, em planta, com as capelas laterais; enquanto na arquitectura da Gesù há uma cúpula central que depende dos arcos gerados pela abóbada de berço, no padrão português a adopção das traves promove um espaço mais livre e a inexistência de abóbadas recortando o forro da nave central possibilita o uso de padrões decorativos cada vez mais sofisticados nos forros (como a pintura ilusionista); oito capelas laterais intercomunicantes; cabeceira rectangular com capela-mor plana e pouco profunda; a substituição da abside[2] por uma capela-mor muito pequena e inclusão de uma teia com balaústres que delimita o avanço do santuário em relação ao corpo da igreja.

 (9) Capela da Sagrada Família                      (1) Capela da Senhora da Doutrina

(8) Capela de Santo António                          (2) Capela de São Francisco Xavier

(7) Capela da Senhora da Piedade                  (3) Capela de São Roque

(6) Capela de São João Baptista                     (4) Capela do Santíssimo

(13) Altar do Presépio                        (11) Altar da Anunciação

(12) Altar da Santíssima Trindade                 (10) Altares das Relíquias

(10) Altares das Relíquias                              (5) Capela-Mor

 (14) Sacristia 

Segundo o padre Francisco Rodrigues as igrejas jesuíticas lusas da segunda metade do séc. XVI e primeiros quartéis do séc. XVII seguem o modelo da igreja de Gesú. No seu livro História da Companhia de Jesus na assistência de Portugal ele afirma:

“No estilo dessas obras arquitectónicas …seguiu-se geralmente o que prevalecia naquela época de renascimento. Tôdas elas se assemelhavam nas linhas gerais, e distinguiam-se facilmente de outros estilos por certas formas características, de regra observadas na sua construção. Alargavam-se desafogadamente na amplidão de uma só nave, abriam-se lateralmente de um lado e do outro do corpo da igreja em capelas fundas com seu arco de cantaria; o altar principal ostentava-se bem visível no tôpo da capela-mor, e o púlpito suspendia-se em tal altura e posição, que dominasse sem dificuldade tôda a vastidão do templo. Desta sorte se oferecia ao povo cristão uma idéia mais impressionante da grandeza de Deus com a maior largueza do espaço e mais abundância de luz, providenciava-se maravilhosamente à magnificência do culto, abrangendo a multidão dos fiéis com seu olhar tôda a extensão do recinto sagrado, e podiam ainda os maiores concursos ver o orador e escutar-lhe fàcilmente a voz. Assim foi o sentimento religioso e a facilidade imponência das cerimónias cultuais, que traçaram, como era justo, as leis da arquitectura dos santuários.
Veio de Roma a insinuação do estilo, quando se propôs, como norma para as igrejas da Companhia o templo magnífico do Gesú, que por aquêles mesmos anos e com iguais intuitos de prática utilidade se construíu no centro da cidade papal, sob a direcção de arquitectos insignes, como eram VIGNOLA e DELLA PORTA. De feito em 1568 o santo Geral Francisco de Borja aconselhava que as igrejas da sua Ordem fôssem de uma só nave, como a igreja do Gesú. Nesse ano precisamente se abriam osalicerces ao templo farnesiano”[3].


[1] Tribuna, nas igrejas, de onde os oradores sagrados pregam.

[2] Hemiciclo ou meia abóbada que termina as basílicas cristãs, debaixo do qual se encontra o altar-mor.

[3] Francisco Rodrigues S.J., História da Companhia de Jesus na assistência de Portugal, t.II, vol. 1, p. 180.

Veja-se, VEIGA, Francisca Branco. Noviciado da Cotovia: O Passado dos Museus da Politécnica 1619-1759. Dissertação (Mestrado em Património Cultural) – Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2009.