1759 – 1830
Outras denominações: Coleginho; Mosteiro da Anunciada; Residência de Santo Antão; Hospício dos Padres de São Francisco; Colégio dos Religiosos Eremitas Calçados de Santo Agostinho de Lisboa.
No dia 27 de dezembro de 1830 D. Miguel entregava aos jesuítas o Colégio de Santo Antão-o-Velho, denominado Coleginho, local onde no século XVI se estabeleceram os primeiros jesuítas[1] e aí abriram um noviciado:
“El Rei meu Senhor Foi Servido Mandar declarar ao Prior Provincial dos Ermitas de Santo Agostinho, que era da Sua Real vontade que se prestasse toda a Casa, e Igreja do Colleginho […] para os Padres da Companhia de Jesus” [2]
O Padre Delvaux descreve do seguinte modo como os padres agostinhos receberam a notícia:
“Je reçus le lendemain, par le duc, l’aviso de Sa Majesté qui ordonnait aux Pères ermites de Saint-Augustin de nous abandonner cette église et cette maison pour y continuer maintenant nos ministères. On dit que cela a donné quelque déplaisir à ces Pères; mais j’aime à croire que la sainte Vierge adoucira la contrariété qu’un déménagement forcé entraîne toujours avec soi. Les Pères nous ont três-bien reçus et, tout en se plaignant un peu de n’avoir que si peu de jours pour ce déplacement, surtout en hiver, ils s’exécutent et nous ont assuré qu’ils se félicitaient de trouver cette occasion de concourir au rétablissement de la Compagnie. Notez au reste, que cet Ordre a quatre maisons à Lisbonne même; deux sont immenses, une surtout et telle que l’on en a pu prendre la moitié pour faire une caserne, sans incommoder beaucoup les religieux. Notez encore que, dans le colleginho en question, il n’y avait actuellement que deux Pères pour veiller seulement à sa garde. Notre adresse est donc maintenant: Petit collége de Saint-Antoine-le-Vieux rue Saint-André; mais ici elle serait mieux comprise ainsi: No colleginho de Santo-Antâo, calçada de Santo André”
No periódico A Contra-Mina, Fortunato de São Boaventura escreve o seguinte acerca da entrega aos jesuítas do Coleginho:
“O certo he, que depois de vaguearem por muitos domicílios, conseguem, e não foi sem mysterio, hum Colleginho, onde existem retirados, e ainda como feridos da antiga maldição, e sem ousarem dizer, ou proferir, o que são actualmente nestes Reinos …”[3]
Crétineau-Joly refere que foi após a chegada destes missionários ao seu antigo Colégio de Lisboa que estes despertaram para a criação de um verdadeiro projeto de construção da futura Província jesuíta.
“… ils commencèrent à donner à leurs travaux une direction plus uniforme. Les uns, comme le Père Pouly, s’efforcèrent, par le secours religieux, d’alléger les chaînes des prisonniers; les autres cherchèrent à réveiller dans les âmes des sentiments de vertu et de piété. Témoin des succès de ces quelques Jésuites, le Cardinal Patriarche de Lisbonne ne veut plus demeurer indifférent au bien qui s’opère par leur intermédiaire”[4]
Em correspondência emitida de Roma (?) para o P. Delvaux, o sentimento era de esperança: “Sans doute, qu’il seroit fort de mon goût, si on vous accordoit l’ancienne maison de nos premiers Péres – Tout nous prêche, nous edifie, nous anime dans cette sorte de maisons. Mais laissons agir la Providence… ”
[5].
«Ils commencèrent à donner à leurs travaux une direction plus uniforme» dedicando-se à pastoral, dispensando o seu tempo à catequese, à pregação em algumas paróquias da capital e arredores, em algumas missões populares, à administração dos sacramentos, à assistência material e espiritual dos presos e feridos da guerra civil e em poucos meses ligados à educação no Colégio das Artes (1833-1834)[6], funções primordiais da Companhia de Jesus.
Mas, a Europa dos anos trinta encontra-se em mudança. A Santa Aliança estava a perder força face aos ideais liberais que se opunham ao conservadorismo tradicional e procuravam substituir o absolutismo no governo pelo Estado de direito. Nesse sentido o Padre Delvaux sentia-se privilegiado por se encontrar em Portugal e afirmava que «la tranquillité dont nous jouissons ici au milieu du bruit général de guerres et de révolutions qui retentit de toutes parts est jusqu’à présent admirable»[7].
Carayon refere que no dia 31 de dezembro os jesuítas “… on put ouvrir l’église [do Coleginho] consacrée sous le titre da la Conversion de Saint-Augustin”[8].
Nesta igreja criaram um altar dedicado a Nossa Senhora da Rocha contribuindo para ele o próprio rei: “Nous établirons à un autre autel une dévotion particulière à Notre Dame da Rocha et déjà le roi a bien voulu se charger de la dépense que son petit trône exigera. je la lui évaluais approximativement à la somme de trois mille francs, voilà une nouvelle preuve de sa grande dévotion pour cette bonne Mère et tout à la fois de son affection pour la Compagnie”[9].
Reitera-se a ideia de que a Senhora Aparecida tinha vindo como castigo aos liberais para, em nome de Deus, livrar Portugal da sua obra “monstruosa”, a Constituição. A Senhora da Rocha era considerada a bandeira da nova cruzada.
[1] “A Companhia de Jesus, nos séculos XVI a XVIII, esteve ativa em Portugal ao longo de um período de duzentos e dezanove anos, desde a sua fundação em Roma, em 27 de Setembro de 1540, até 3 de Setembro de 1759, data do decreto do Marquês de Pombal que promulgou a sua extinção no nosso país. Foi em 1540 com D. João III (1521-1557), que a Companhia de Jesus entrou em Portugal, sendo o nosso país a primeira Província jesuíta no mundo. Numa época de forte expansão territorial D. João irá ser o primeiro rei na Europa a contactar Inácio de Loyola devido à necessidade de encontrar missionários, homens letrados, para evangelizar o Oriente, pregando e convertendo à Fé cristã os nativos. D. João concedeu privilégios aos jesuítas, nomeadamente casas gratuitas, liberdade de enviar missionários para todo o mundo e de fundar colégios. […] Começaram por se instalar em Lisboa, no Colégio de Santo Antão-o-Velho, edifício sobre o terreno de uma antiga mesquita”. In VEIGA, Francisca M. C. Branco – Noviciado da Cotovia: O passado dos Museus da Politécnica 1619-1759 [Texto policopiado], Dissertação para obtenção do Grau de Mestre, Universidade Católica Portuguesa. Lisboa, fev. 2009, p.19; CLÁUDIO DA CONCEIÇÃO, Frei – Gabinete Histórico: Que A Sua Majestade Fidelissima O Senhor Rei D. João VI, Em O Dia De Seus Felicissimos Annos… Offerece, Tomo XVII. Lisboa: Impr. Nacional, 1820, pp. 95-97.
[2] Aviso do Duque de Cadaval ão Prior Provincial dos Ermitas de S. Agostinho. Palácio de Queluz, 18 de dezembro de 1830. In APPCJ, Companhia de Jesus 1829-1834, 1833-34 Delvaux, 1 fl.
Veja-se sobre o tema, AZEVEDO, Carlos A. Moreira – Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho em Portugal (1256-1834). Edição da Colecção de Memórias de Fr. Domingos Vieira, OESA. Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa, UCP, vol. 8, 2011, pp. 226-227. Veja-se, inclusive, SEIXAS, Miguel Beirão de Almeida Metelo de – História do Coleginho ou Colégio e mosteiro de Santo-Antão-o-Velho. Lisboa: Direcção de Documentação e história militar, 1998.
[3] A Contra-Mina, nº40, de 13 de dezembro de 1831, p.7. Artigo intitulado A Estatua da Fé e escrito por Fortunato de São Boaventura.
[4] CRÉTINEAU-JOLY, Jacques – Histoire religiosa, politica y literária de la Compañía de Jesús, p. 362.
[5] Carta emitida de Roma (?) para o P. Delvaux, em Lisboa. Dia 15 de julho de 1830. APPCJ, Companhia de Jesus 1829-1834, Correspondência para o Padre António Pinto SJ, 2 fls.
[6] CASIMIRO, Acácio, S.J. – 1829-1930: Factos Da Companhia De Jesus, Restaurada Em Portugal. Porto: Tip. Porto Médico, 1930, pp. 9-10.
[7] Carta do Padre Delvaux Ao Padre Gury, em Lyon. Lisboa, 24 dezembro de 1830. CARAYON, Auguste – Documents inédits concernant la Compagnie de Jésus, vol. XIX, p. 276.
[8] CARAYON, Auguste – Documents inédits concernant la Compagnie de Jésus: Notes historiques, vol. X, 1863, p.9.
[9] Carta do Padre Delvaux a Madame Delvaux, Religiosa do Sagrado Coração. Lisboa, 3 janeiro de 1831. CARAYON, Auguste – Documents inédits concernant la Compagnie de Jésus, vol. XIX, p. 285.


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Óleo sobre tela, pormenor.
Johann (Giovanni) Nepomuk Ender. 1827.
Palácio Nacional de Queluz

Superior Geral da Companhia de Jesus de 1829 a 1853