Educar missionários capazes de irem Além-mar, repartidos pelos quatro cantos do Mundo
Painel que acumula duas cenas, ambas passadas em Paris, também elas clássicas na iconografia inaciana (pormenor)
No sítio de Arroios fundou-se um noviciado, em 1705, da Companhia de Jesus, que tinha como padroeira Nossa Senhora da Nazaré e benfeitora D. Catarina de Bragança (filha de D. João IV), com o intuito de incentivar as vocações sacerdotais para as missões na Índia.
A partir de finais do século XIX e sob administração do Hospital Real de São José, funcionou como unidade hospitalar de isolamento para doentes com peste bubónica, cólera, varíola, lepra e tuberculose. O Hospital de Arroios foi desativado em 1993.
Armas de Portugal e de lnglatera D. Catarina (viúva de Carlos II) benfeitora do Noviciado de Arroios
• Cartela
primeiro, Armas de D. Carlos II, Rei de Inglaterra;
segundo, Armas da Casa Real de Bragança
• Encimado
Coroa Real
• Ladeando a cartela
Leão e Unicórnio escocês
A igreja data provavelmente do início do século XVIII. Mas tanto a igreja como o edifício conventual tinham a traça das casas da Companhia de Jesus, em polígono, com imagens dos Santos Padroeiros e claustro com lambrins em pedra de lioz.
A partir de 2000, a igreja ficou afeta ao culto ortodoxo (a cargo da Comunidade Ucraniana de Arroios).
Da presença da Companhia de Jesus subsiste na sua igreja um dos raros conjuntos de painéis de azulejo com iconografia jesuíta, alusiva à vida de Santo Inácio de Loyola.
A sala da antiga entrada do edifício, virada a SO., era revestida de painéis de azulejo de composição figurativa, formando silhares, representando episódios da vida de Santo Inácio de Loyola: Conversão de Santo Inácio; Santo Inácio ajoelhado troca as vestes de guerreiro pelas de mendigo; Santo Inácio salva um rapaz de afogamento; Santo Inácio antes de morrer recebe a aparição de São Pedro. O quinto painel desapareceu em data desconhecida. Os outros quatro painéis foram retirados no início do séc.XXI pelo Museu Nacional do Azulejo, foram restaurados e estão expostos na Igreja.
Painel de azulejos, agora destacado e encostado à parede, inserido na temática CICLO DA VIDA DE SANTO INÁCIO DE LOYOLA
Painel agora destacado e encostado à parede inserido na temática CICLO DA VIDA DE SANTO INÁCIO DE LOYOLA
Convalescença e conversão de Inácio, no Solar de Loyola
Convalescença de Inácio na Casa Solar de Loiola, deitado no leito com a perna entrapada, após ter sido ferido na Batalha de Pamplona, a 24 de Maio de 1522, com os livros à cabeceira (Vidas de Santos e Imitação de Cristo) recebendo uma visão que o fez melhorar, na véspera da festa de S. Pedro, a 28 de Junho.
Inácio peregrino em Monserrate, dá as suas roupas a um peregrino e veste-se de saco.
Acumula duas cenas, ambas passadas em Paris, também elas clássicas na iconografia inaciana:
Inácio mergulhado na água gelada em Paris (pela conversão de um pecador) – Este episódio refere-se a um encontro passado, em Paris, no período em que frequenta a Universidade de Paris (onde chega a 2 de Fevereiro de 1528, e de onde só parte em Abril de 1535). Sabedor de um homem que vivia em concubinato e dava escândalo público, Inácio esperou-o uma manhã, junto a uma ponte sobre uma lagoa metido na água gelada. Interrogado pelo homem que atravessava a ponte sobre a razão de tal procedimento, respondeu que estava ali a sofrer pelos pecados do seu interlocutor.
Em segundo plano Inácio diante de Diogo de Gouveia na Universidade de Paris (em que este lhe pede perdão pelas calúnias) – O episódio refere-se a uma cena passada em Paris (1528/1535) entre Inácio, que fora acusado injustamente pelo Principal do Colégio de Santa Bárbara, Diogo de Gouveia (1471/1557), que reconhecendo, posteriormente a inocência de Inácio se retracta publicamente, ajoelhando-se diante dele e de toda a academia assiste edificada ao episódio.
Inácio peregrino em Monserrate entrega a espada diante da imagem da Virgem.
Com o fim da monarquia absoluta miguelista teve início a monarquia Constitucional sob a orientação liberal. Doze ordinários diocesanos de nomeação absolutista que se encontravam ausentes, fugidos ou clandestinos, não foram reconhecidos pelo novo poder, mesmo tendo obtido as respetivas bulas de confirmação. O governo liberal, tal como já o tinha feito no Porto, nomeava governadores temporais e indicava aos cabidos a eleição de vigários capitulares da sua escolha[i].
Contudo, neste novo cenário político a religião católica será um importante elemento de integração dos cidadãos na pátria. Mas, para cumprir essa tarefa, era necessário que os religiosos não recebessem influência estrangeira, considerou-se uma ameaça à pátria todo o clero que se submetesse a líderes fora de Portugal. Esta oposição aos religiosos vinculados à Santa Sé pode também ser compreendida pelo reconhecimento destes ao miguelismo e pela oposição ao constitucionalismo. Generalizou-se pelas dioceses uma situação de “quase” cisma, em que clérigos e leigos ou acatavam as autoridades eclesiásticas, impostas pelos liberais ou mantinham a ligação aos seus bispos ausentes. Esta situação prejudicava gravemente os fins espirituais e pastorais da Igreja e a consolidação das instituições.
No dia 22 de agosto de 1834 o padre jesuíta Margottet refere que o próprio Papa se encontrava preocupado com «os negócios da religião» em Portugal mandando fazer«na Igreja de Santa Maria Maior huma Novena por esse caro pais»[ii].
Nestas decisões nunca esteve em causa o valor social da religião, mas a determinação em pôr fim à presença da Igreja como um Estado dentro do próprio Estado. As Congregações religiosas foram, neste contexto, o alvo central da atuação dos liberais. O que se pretende é tornar a Igreja portuguesa independente de pressões externas. No art. 75 da Carta Constitucional, o governo liberal restringia-lhes o seu papel: “O Rei é o Chefe do Poder Executivo, e o exercita pelos seus Ministros de Estado. São suas principais Atribuições:[…] § 2.° – Nomear Bispos e prover os Benefícios Eclesiásticos; […] § 14.° – Conceder ou negar o Beneplácito aos Decretos dos Concílios e Letras Apostólicas e quaisquer outras Constituições Eclesiásticas, que se não opuserem à Constituição; e precedendo aprovação das Cortes, se contiverem disposição geral”[iii].
A intenção dos liberais era reintegrar a igreja ao serviço do novo regime, colocando na hierarquia da igreja homens da sua confiança, cortando as relações diplomáticas com a Cúria Romana como retaliação contra o reconhecimento de D. Miguel como rei de Portugal e contra as nomeações feitas pelo Papa Gregório XIV de bispos apresentados por D. Miguel para as sedes diocesanas que se encontravam vagas em 1831.
Neste processo, a posição da Cúria Romana ao rejeitar o governo liberal, não facilitou o diálogo com o governo de Portugal, o que levou ao corte de relações diplomáticas entre Lisboa e Roma em 1833, e à destituição da hierarquia religiosa nomeada pelo Vaticano, nomeando novos Bispos e Prelados[iv]. Gregório XVI, numa alocução a 30 de setembro de 1833, protesta contra a expulsão do Núncio, contra os decretos e medidas tomadas por D. Pedro, considerando-as como crimes contra a Igreja e contra «os direitos invioláveis da Santa Sé»[v]. Em dezembro, o Papa manda retirar da sua residência as armas de Portugal e retira ao representante de Portugal em Roma o poder de representar o país[vi]. Reforça a sua condenação e reprovação da política religiosa liberal portuguesa no Consistório Secreto do dia 1 de agosto de 1834, e de novo no Consistório Secreto do dia 2 de fevereiro de 1836, falando de um «funestro cisma»[vii]. O Sumo Pontífice vai considerar estes decretos «írritos e nulos», declarando o Relatório que precedeu o decreto de extinção das Ordens Religiosas repleto de «cousas falsas e criminosamente ditas».
A partir de 1834 o governo liberal, que concebia um catolicismo autonomizado de Roma, antiultramontano, corta relações diplomáticas com o Vaticano, só sendo reatadas a 30 de julho 1848 através de um Convénio entre ambas as partes.
Um longo e complexo processo de reaproximação entre o Estado português e a Santa Sé irá decorrer em dois períodos distintos. No primeiro período, estava em jogo algo de essencial para a estabilização do regime constitucional, como o reconhecimento do trono de D. Maria II pela Cúria e o acordo entre as duas partes sobre a legitimidade dos bispos eleitos por D. Miguel para as sedes diocesanas que se encontravam vagas. Num segundo período, o que estava em causa era essencialmente a retoma da tradição concordatária interrompida.
Deste modo, um acordo do Estado com a Santa Sé, parecia necessário ao restabelecimento da paz religiosa na sociedade e ao reforço e estabilidade do regime liberal e do trono de D. Maria II.
Excerto do artigo com o título, “1832-1834 Regência de D. Pedro em nome de sua filha D. Maria da Glória: fim do governo temporal da Igreja Católica e das Ordens Religiosas em Portugal”. In SOARES, Clara Moura; MALTA, Marize (eds.), D. Maria II, princesa do Brasil, rainha de Portugal Arte, Património e Identidade, Lisboa: Palácio Nacional da Ajuda, 12 nov. (pp. 113-120). ARTIS – Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Ligação: https://www.academia.edu/40918078/ «1832-1834 Regência de D. Pedro em nome de sua filha D. Maria da Glória: fim do governo temporal da Igreja Católica e das Ordens Religiosas em Portugal»
[i] DÓRIA, Luís – Do Cisma ao Convénio: Estado e Igreja de 1831 a 1848. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2001, pp. 38-43. Veja-se sobre o assunto REIS, António do Carmo – A Igreja Católica e a Política do Liberalismo. Para uma explicação do cisma Religioso. In Catolicismo e liberalismo em Portugal: (1820-1850).Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2009, pp. 47-54.
[ii] Carta de Cypriano Margottet para uma residente da cidade do Mondego. Genova, 22 de agosto de 1834. In ARQUIVO DA PROVÍNCIA PORTUGUESA DA COMPANHIA DE JESUS (APPCJ), Companhia de Jesus 1829-1834, Memórias pertencentes aos padres da Companhia de Jesus, Carta de Cypriano Margottet para uma residente da cidade do Mondego, fls. 38-43[carta completa]. Veja-se, inclusive, VEIGA, Francisca Branco – A Restauração da Companhia de Jesus em Portugal 1828-1834: O breve regresso no reinado de D. Miguel. In Tese elaborada para obtenção do grau de Doutor em História, na especialidade de História Contemporânea, 2019, p. 544.
[iv] CRUZ, Manuel Braga da – As relações entre a Igreja e o Estado Liberal – do «cisma» à Concordata (1832-1848). In O Liberalismo na Península Ibérica na primeira metade do século XIX, 2º vol.. Lisboa: Sá da Costa, 1982, pp. 226-228.
[v] BRASÃO, Eduardo – Relações diplomáticas de Portugal com a Santa Sé: o reconhecimento do Rei D. Miguel (1831). Lisboa: Academia Internacional da Cultura Portuguesa, 1972, pp. 462-463.
A critica política na cerâmica de Rafael Bordalo Pinheiro
O período que vai desde o fim da Conferência de Berlim até ao final do século foi sobretudo marcado, no tocante à nossa colónia oriental africana, pelas acções de João de Azevedo Coutinho (1865-1944) que chefiou a campanha do Chire contra os Macololos, cujo território estaria no centro da querela diplomática de 1890. A razão desta campanha nos rios Zanbeze e Chire estava na necessidade de vigiar os Macololos, que já tinham atacado o acampamento de Serpa Pinto, influenciados como estavam pelos ingleses da companhia African Lakes e ainda pelos missionários britânicos da zona. Azevedo Coutinho prossegue a sua campanha voltando a entrar em combate perto de Melanze (8 de dezembro de 1889), onde aprisiona o régulo Macololo Caterenguena.
No extremo Setentrional de Moçambique residia o Xeque que conspirava com o Sultão de Zanzibar contra Portugal. O governador de Moçambique, Augusto de Castilho (1841-1912) apresentou-lhe um ultimato de evacuação, o que não foi atendido, motivando assim a entrada em acção de Afonso de Albuquerque, secundado pela canhoneira Douro, auxiliados pelas forças do Exército vindos de Cabo Delgado. Tungue foi atacada e as tropas ocuparam-na após violento bombardeio. O sultão de Zanzibar pediu então a paz, que seria celebrada com o reconhecimento da baía em causa nos nossos limites territoriais.
As escaramuças com as tribos dos Macololos, obedientes à bandeira inglesa em 1888-89, na fronteira de Moçambique, são tema de chacota para algamas faianças de Bordalo, como a caixa em forma de cabeça de preto com turbante branco e colar, intitulada de “Macololo”, e a caixa em forma de cabeça de sultão rindo, com turbante branco e grande barba que tem na base a inscrição: “Sultão de Zanzibar”.
Seguiu-se outra campanha em Moçambique, a campanha de Magul, que durou de 19 de agosto a 21 de outubro de 1895, sob o comando de Alfredo Freire de Andrade (1865-1929) e Paiva Couceiro. Tratava-se de reduzir de vez os rebeldes landins em fuga, protegidos pelo poderoso régulo de Gaza, Gungunhana, com o qual Ene iniciara negociações com vista à entrega de foragidos às tropas portuguesas em Matibejana e Mahazul.
O Sultão de Zanzibar na publicação da “LANTERNA MÁGICA”
SULTÃO DE ZANZIBAR
A 3 de Setembro de 1895, a coluna punha-se em marcha a partir de Xinavane, atravessava o Incomati e dava combate aos Landins em Magul (8 de Setembro de 1895). Paiva Couceiro, que deixava por alguns momentos a coluna, indo a cavalo ao encontro dos revoltosos, intimava um deles, do seu conhecimento, a entregar Matibejana, sob pena de severas represálias; acabado o prazo concedido, a coluna passou o rio e deu-se a batalha de Magul, onde um quadrado de 320 homens fez frente a uns seis mil atacantes nativos, logrando-se então mais uma decisiva vitória portuguesa: Magul, comenta Enes, perdeu o Gungunhana (Enes, A guerra de África em 1895). A coluna destruíu em seguida diversas povoações inimigas, devastando cinco mangas rebeldes: com esta acção, Lourenço Marques ficava claramente livre de perigo vindo a converter-se depois em capital da colónia (1898).
Seguiu-se a campanha contra os Vátuas, rápida e vitoriosa. Gungunhana, o régulo rebelde, dominava um verdadeiro império que não se limitava à sua tribo, pois abarcava os territórios vizinhos e tinha ao seu dispor milhares de guerreiros. A revolta landim contava já com o seu apoio, embora Gungunhana continuasse a afirmar hipocritamente como respeitador da soberania portuguesa. Em 1895, derrotados os landins, havia, pois, que fazer frente aos vátuas. As operações começaram com as acções no Chicomo, que duraram de 30 de junho a 12 de dezembro, sob o comando do coronel Eduardo Galhardo (1845-1908). Em Coolela, assediado por milhares de Vátuas, uma vez mais o quadro português resistiu ao ataque e transformou o combate numa vitória de armas lusas (7 de novembro de 1895). «O combate, escreve Enes, não teve peripécias dramáticas. Foi um rápido duelo do moderno armamento europeu com a força bruta do número. Venceu fácilmente o armamento (…)» (ibidem).
Após a batalha junto da lagoa de Coolela, seguiu-se o ataque a Kraal de Gungunhana em Manjacaze, tomado e destruído, enquanto o régulo se punha em fuga.
A campanha teria pouco depois o seu epílogo com o feito de Chaimite (28 de dezembro de 1895). Mouzinho, então governador do distrito de Gaza, decidira aprisionar Gungunhana: arrastando consigo meia centena de homens, oficiais e soldados, e duas praças de indígenas avançou temerariamente, debaixo de chuva incessante, até Chaimite, a «a cidade santa dos Vátuas», onde penetrou com destemor, apesar das tropas negras que guardavam o chefe Vátua. Depois de mandar chamar o Gungunhana, deu-lhe ordem de prisão e mandou-o sentar-se no chão, o que significava a «humilhação do régulo diante da guerra preta», que levantou grande alarido, batendo com as azagaias nas rodelas em sinal de aplauso e temor. Dois dos conselheiros de Gungunhana, Manhune e Queto foram logo sumariamente fuzilados.
Em finais de 1897, Mouzinho voltou a Portugal, onde a sua recepção foi apoteótica, estando a recebê-lo o próprio rei D. Carlos, o príncipe D. Luís Filipe e o infante D. Afonso.
Rapidamente o herói africano se transformou num mito nacional cujas raízes iam decerto mergulhar na humilhação coletiva sentida seis anos antes com o Ultimato inglês. Basta ver, numa Gazeta da altura, a maneira como o Gungunhana preso chegou a Lisboa para nos apercebermos do impacto que os efeitos guerreiros em Moçambique tiveram na opinião pública lusa:
«Anteontem, 13, chegou enfim ao Tejo o transporte de guerra português, conduzindo a seu bordo os prisioneiros de guerra na Africa oriental. Entre esses prisioneiros, que simbolizavam tanta luta, tanta dor e tantos sacrifícios, destacava-se, como o mais importante de todos, o temido potentado negro Gungunhana, de quem os valorosos capitão Mouzinho, tenentes Couto e Miranda, apenas acompanhados de quarenta e seis esforçados soldados portugueses, conseguiram apossar-se. Essa prisão constitui o mais brilhante feito das armas portuguesas no nosso século. A República do Transval felicita Portugal, reconhecendo tacitamente quanto ganhou a segurança da África do sul com a prisão do Gungunhana» (O Ocidente, n° 620, de 15 de Março de 1896).
Dois exemplos do entusiasmo que a prisão do Gungunhana suscitou entre nós, na altura:
Augusto de Castilho, O Gungunhana (pref. de E. Borges de Castro), Lisboa, tipog. do Comércio de Portugal, 1896;
António Alves de Macedo, Aos bravos vencedores do Gungunhana (poema), Elvas, 1896.
GARRAFA «GUNGUNHANA» – ANTES
Representa o régulo negro antes da sua prisão por Mouzinho de Albuquerque.
Sobre a base, a identificação em letras relevadas: GUNGUNHANA – ANTES
Vidrado policromo.
Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha.
Ass. com o monograma de Rafael Bordalo Pinheiro e datado de 1895. Alt.: 250 mm
GARRAFA «GUNGUNHANA» -DEPOIS
Representa o régulo negro depois da sua prisão por Mouzinho de Albuquerque.
Sobre a base, a identificação em letras relevadas: GUNGUNHANA-DEPOIS
Vidrado policromo.
Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha.
Ass. com o monograma de Rafael Bordalo Pinheiro e datado de 1895. Alt.: 220 mm
Agora com a chegada do régulo Vátua sob terras portuguesas, estes orgulhavam-se do seu Império colonial e dos seus homens.
Em 1895, Bordalo Pinheiro cria mais uma peça em cerâmica, com o mesmo espírito crítico e mordaz, inspirada nas campanhas de Mouzinho de Albuquerque em Moçambique – as duas garrafas Gungunhana, antes e depois, o moringue e o cantil Gungunhana (1896).
Rafael Bordalo Pinheiro aos 25 anos.
Fotografia de Loureiro, 1871.
“Parodia: Comedia Portugueza”, 3º Ano, nº 107, Lisboa, 10.2.1905
Rafael Bordalo Pinheiro … Genuinamente português por constituição e por temperamento, de olhos pretos, nariz grosso, cabelo crespo, tendendo para a obesidade, ele é um sensual, um voluptuoso, um dispersivo, um desordenado. Uma das mais belas virtudes que ele não tem, é a que consiste em vencer os impulsos da natureza. Desgraçadamente, observa-se com frequência que os homens rígidos, que mais exemplarmente triunfam das próprias paixões, não triunfam de mais nada.
Foi em 1715, reinava D. João V, que o primeiro jornal oficial português iniciou a sua publicação, com o nome Gazeta de Lisboa, convertendo-se no principal periódico de informação política portuguesa entre 1715 e 1820. Contudo, o seu nome foi sendo alterado ao longo dos anos.
NOTÍCIAS DO ESTADO DO MUNDO [GAZETA DE LISBOA] Num. 1, Sabbado, 10 de Agosto de 1715
Estreou-se com o título Notícias do Estado do Mundo, sintetizando com bastante rigor a sua matéria: pequenas notícias sobre as principais cortes europeias, as famílias reais, os príncipes da igreja, as guerras, os tratados, as bulas, etc. Portugal não era sequer objecto de um tratamento especial [https://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/efemerides/gazetadelisboa/GazetadeLisboa_1.htm].
Outros redatores: Correia Garção; Félix António Castrioto; Fortunato de S. Boaventura; José Agostinho Macedo; Pierre Lagarde; Francisco Soares Franco; Joaquim José Pedro Lopes; Diogo Góis Lara de Andrade; José Luis Pinto Queirós; José Liberato Freire de Carvalho e António Vicente Della Nave.
D. João V queria ver representados no periódico “oficial” da corte o seu ambiente, a ordem, as cerimónias e as hierarquias, numa obsessão pela ordem social que não podia ser desestabilizada: A importância da questão da nomeação das diferentes hierarquias sociais (leis dos «tratamentos») e das questões de precedência no reinado de D. João V encontra uma tradução muito visível no periódico. Concebido como a encenação de um desfile de personagens públicas, o trabalho de redacção parece viver obcecado com a hierarquia e com a correcta nomeação das personagens. (Belo 2001: 111).
Foi a partir da revolução liberal de 1820 e da luta entre absolutistas e liberais, que a Gazeta de Lisboa se começou a valorizar.
Entre 16 de setembro e 31 de dezembro de 1820 publicou-se simultaneamente a Gazeta de Lisboa e o Diário do Governo, fundindo-se num só jornal em 1 de janeiro de 1821 com o nome de Diário do Governo, até 10 de fevereiro desse ano.
DIARIO DO GOVERNO Num. 1, SEGUNDA FEIRA 1.º DE JANEIRO DE 1821
Publicou-se com este título entre 16 de setembro de 1820 e 10 de fevereiro de 1821
Começou a ser publicado a 16 de outubro de 1820, por iniciativa da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, resultante da junção dos órgãos governativos que se constituíram no Porto e em Lisboa, após a revolução de Agosto.
No dia 30 de dezembro de 1820, o redator da Gazeta informa-nos acerca da mudança do seu título, apresentando-nos uma publicação em que é notória a preocupação com a verdade e utilidade das informações que surgem neste jornal:
“Esta he a ultima folha deste periodico com o titulo de Gazeta de Lisboa, em lugar da qual fica o Diario do Governo, de que hoje se dá hum exemplar do deste dia a todos os subscriptores da Gazeta, para poderem formar idéa da nova e mais ampla forma que ella vai ter, e de quanto a folha do Governo se tornará mais interessante, e mais digna desta illustre Nação, á qual comunicará tudo o que em noticias politicas, e mesmo litterarias e scientificas, segundo a occasião se offerecer, se possa publicar como proprio para illustrar o publico; sendo principal objecto o que pertencer ao nosso paiz, não desdenhando mesmo o Redactor quaesquer noticias de ponderação e utilidade, que de qualquer parte do Reino lhe sejão transmittidas por pessoas fidedignas e de conhecimentos, cujos nomes e letra possa verificar em Lisboa declarando as mesmas cartas a quem para isso poderá dirigir-se, e vindo francas de porte. (GL nº 313, 30 de dezembro de 1820: [I]).
Desde então, reflectindo o período conturbado que se vivia, passa por diversas designações:
Diário da Regência (de 12 de Fevereiro a 4 de Julho de 1821); Diário do Governo (de 5 de Julho de 1821 a 4 de Junho de 1823); Gazeta de Lisboa (de 5 de Junho de 1823 a 24 de Julho de 1833);
GAZETA DE LISBOA N.º 132, Quinta Feira, 5 de Junho de 1823
Publicou-se com este título entre 5 de junho de 1823 e 23 de julho de 1833. Para assinalar a restauração do regime absolutista, os miguelistas decidiram recuperar o título original da publicação.
Sendo a Gazeta de Lisboa o órgão oficial do regime, não surpreende que atravesse a quase totalidade da duração do Cerco do Porto veiculando a perspetiva do governo absolutista, dando o apoio incondicional à causa de D. Miguel e transmitindo desdém perante o atrevimento dos liberais na sua luta. Esta posição vincada do periódico inverter-se-ia aquando da mudança de regime, que se verificaria em finais de julho de 1833, quando os liberais tomam as rédeas do poder.
Durante a década de governação miguelista, foram redatores da Gazeta: José Luíz Pinto Queiroz, José Liberato Freire de Carvalho (1772-1855), António Vicente Dellaneve. Como oficina tipográfica era referida a «Impressão Régia».
[José Luíz Pinto Queiroz Oficial da secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros desde 1824. Já tinha sido oficial maior da Junta Provisória do Governo Supremo, instalada no Porto em 24 de agosto de 1820. Exerceu o cargo de redator da Gazeta de Lisboa, na vaga deixada pela exoneração de Joaquim José Pedro Lopes. Morreu no exílio em 1834.
José Liberato Freire de Carvalho Exerceu as funções de deputado às Cortes e de redator do jornal oficial, a Gazeta de Lisboa. Foi um dos editores dos jornais da emigração liberal portuguesa em Londres e é autor de uma extensa obra sobre a história política de Portugal e da Europa. Foi eleito sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa em 14 de dezembro de 1836.
(Gregório Francisco de Queirós (1768-1845) – http://purl.pt/4314/1/e-146-v_JPG/e-146-v_JPG_24-C-R0072/e-146-v_0001_1_p24-C-R0072.jpg . Biblioteca Nacional de Portugal)
António Vicente Dellaneve Inocêncio cita-o como redator da Gazeta, no período dos cinco anos que durou o Governo de D. Miguel].
Crónica Constitucional de Lisboa e depois apenas Crónica de Lisboa (de 25 de Julho de 1833 a 30 de Junho de 1834); Gazeta Oficial do Governo (de 1 de Julho a 4 de Outubro de 1834); Gazeta do Governo (de 6 de Outubro a 31 de Dezembro de 1834); Diário do Governo (de 1 de Janeiro de 1835 a 31 de Dezembro de 1859);
Só a partir de 1859, é que o periódico oficial ficou, de facto, sob tutela da administração do Estado.
Diário de Lisboa (de 1 de Janeiro de 1860 e 31 de Dezembro de 1868); Diário do Governo (de 1 de Janeiro de 1869 a 9 de Abril de 1976); Diário da República (desde 10 de Abril de 1976).
DIÁRIO DA REPÚBLICA. I SÉRIE Numero 86, Sábado 10 de Abril de 1976
Publicou-se com este título, em 3 séries, desde 10 de abril de 1976 até 29 de dezembro de 2006
A 9 de abril de 1976, antecipando por um dia a publicação da nova Constituição e dando cumprimento ao que nela estava consagrado, o Gabinete do Ministro da Administração Interna decretou a mudança de título do jornal oficial para Diário da República. (decreto-lei n.º 263-A/76) O diploma, que teve a aprovação do Conselho de Ministros, foi publicado no mesmo dia, no suplemento do Diário do Governo n.º 85. Na edição seguinte, sem interromper a contagem anual dos números, o jornal oficial assumiu o seu novo título, que se manteve até ao presente [https://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/efemerides/gazetadelisboa/GazetadeLisboa_22.htm].
É atualmente publicado, em duas séries, pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, em formato digital, na Internet, no endereço https://dre.pt/
Santo Inácio de Loyola reuniu em dois documentos toda a legislação jesuítica pela qual a Ordem se manteve una (corpo e mente): as Constituições e os Exercícios Espirituais, completando a primeira os segundos. A primeira cuida da vida em grupo, isto é, organiza a Companhia de Jesus e a vida dos seus membros, os segundos cuidam da parte espiritual e individual dos indivíduos.
Para o noviço da Companhia de Jesus a oração vocal e mental, a correcção dos hábitos, a assimilação dos valores da vida espiritual, assistir às instruções sobre a doutrina cristã e sobre a vida religiosa específica do instituto, fazem parte da sua formação de base.
O noviciado vai estruturar-se, basicamente, à volta de seis experiências/provações que se consideram principais (Const. 64-70) e que constituem “tempos fortes” de aprofundamento e confirmação da vocação:
primeira, um mês de Exercícios Espirituais que dão ao jesuíta a base e estrutura que orientará a sua vida espiritual e vão ser uma verdadeira escola de oração, de identificação com Cristo, de busca e acolhimento da vontade de Deus;
a segunda, será servir em hospitais durante outro mês, onde vão ser chamados a ajudar nos trabalhos, a servir e a conviver com os doentes – uma oportunidade para ter contacto com a realidade do sofrimento, bem como desenvolver a capacidade de abertura, de relação e de solidariedade, vão baixar-se e humilhar-se;
a terceira consiste num mês de peregrinação, sem dinheiro e mendigando, a fim de se habituarem a comer e a dormir mal. É um tempo para descobrir o valor do essencial na vida e deixar amadurecer a confiança na providência divina. O colégio de Coimbra ainda mantém o registo dos Avisos para os peregrinos, que são conselhos de vida espiritual destinados aos peregrinos;
as outras três experiências são, exercer ofícios domésticos para se humilhar, ensinar a doutrina cristã e confessar e predicar, consoante os tempos, os lugares ou a sua própria capacidade.
Trata-se, por tanto, de provar com estas experiências se a atitude e disposição do noviço está de acordo com a vida em missão na Companhia de Jesus além de criar no noviço atitudes correspondentes a um apóstolo evangélico.
No fim do noviciado, passadas todas as provações vão entregar-se, de acordo com as suas aptidões e talentos, às várias ocupações que a Companhia de Jesus lhes proporciona: estudo e lides literárias; serviço doméstico; Ministérios sacerdotais[1].
[Ministérios da Companhia de Jesus (Martins: Via Spiritus 11, 2004)].
O Padre António Franco no seu livro Imagem da Virtude em o Noviciado da Companhia de Jesu na Corte de Lisboa, refere o fim dos noviços da Cotovia:
«…o Padre lhe reprezentou esta caza, declarou o fim, pêra que se fundava, o qual era criaremse nella sugeytos, que fossem estudar aos collegios, e depois se repartissem pellas missoens da India, China, Japaõ, e outras da gentilidade, pêra pregar o Evangelho; donde resultava a Deos grande gloria, e augmento à fe Catholica»[2].
Faz referência às missões como «…o seu dia de allivio…»[3].
[1] Rodrigues, Francisco, História da Companhia de Jesus na Assistência de Portugal, Porto : Liv. Apostolado da Imprensa, 1931- , T.I, v. I, p. 506.
[2] FRANCO, António, Imagem da Virtude em o Noviciado da Companhia de Jesu na Corte de Lisboa, Coimbra : no Real Collegio das Artes da Companhia de Jesu, 1717, p.14.
A.N.T.T., Colecção do Colégio dos Nobres, Liv. 187, CAPº 3
Através de um grande esforço de aproximação, do fomento do intercâmbio científico e de uma missionação empenhada, os missionários Portugueses da Companhia de Jesus desempenharam um papel importante, a partir dos finais do século XVI e, em especial, durante o século XVII, na aproximação cultural entre Portugal e a China. Alguns destes missionários da Companhia de Jesus foram nomeados Mandarins pelos Imperadores da China como recompensa pelos seus méritos científicos e pedagógicos, entre eles: Padre Gabriel de Magalhães, Padre Manuel Dias Júnior, Padre Tomás Pereira, Padre João Francisco Cardoso, Padre André Pereira, Padre Domingos Pinheiro, Padre Félix da Rocha, Padre José de Espinha, Padre André Rodrigues. In VEIGA, Francisca M.C. Branco, Astrónomos Portugueses na China, Mestrado em Património Cultural de Matriz Cristã pela Universidade Católica Portuguesa, Cadeira de Museologia, 2006.
Veja-se, inclusive, VEIGA, Francisca Branco. Noviciado da Cotovia: O Passado dos Museus da Politécnica 1619-1759. Dissertação (Mestrado em Património Cultural) – Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2009.
Nas peças cedidas ao Museu Arqueológico do Carmo pela Escola Politécnica[1] encontram-se duas peças do espólio do Noviciado da Cotovia: uma escultura de São Estanislau Kostka (padroeiro dos noviços) e uma de São Luís Gonzaga (padroeiro da juventude).
São Estanislau Kostka e São Luís Gonzaga (Museu Arqueológico do Carmo)
A estatuária religiosa em pedra possui uma função ornamental e identificativa. Trata-se de imaginária integrada em nichos abertos nas fachadas principais dos edifícios religiosos, aludindo ao orago do templo ou ao universo devocional da comunidade religiosa.
Neste caso específico encontramo-nos iconograficamente perante dois santos da Companhia de Jesus.
São Estanislau Kostka (padroeiro dos noviços) surge-nos, iconograficamente, sustentando um menino nos seus braços, levando-nos ao encontro com sua história onde se conta que, estando doente e durante um sonho, viu a Virgem Maria colocar o Menino Jesus em seus braços. Nossa Senhora, na sua aparição, convidou-o a ingressar na Companhia de Jesus.
A indumentária de ambas as esculturas é semelhante, estando ambos vestidos como membros da Companhia de Jesus, isto é, com sobrepeliz[2].
São Luís Gonzaga (padroeiro da juventude)[3] tem como atributos um lírio, um crânio, uma disciplina ou um crucifixo. Um desses objetos, agora desaparecido da sua mão esquerda era por ele dado a contemplar.
Imagens que física e estilisticamente se aproximam uma da outra, onde a desproporção pode igualmente ser observada e sendo visível ao nível da cabeça, parecendo à vista desarmada um restauro quase desastroso. Cultiva-se o gosto pelo gesto e pela exploração do momento determinante da ação. Mas se olharmos estas figuras num plano mais elevado, esta desproporção ameniza-se. Ambas as peças estão sobre uma base do mesmo material mas também ela provocando alguma dinâmica.
[1] Informação recolhida em José Morais Arnaud (coord.); Carla Varela Fernandes (coord.); Vitória Mesquita (coord.), Construindo a Memória: As Colecções do Museu Arqueológico do Carmo, Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, 2005 (a identificação dos santos encontra-se incorreta).
[2] A Companhia de Jesus ordenou o uso da sobrepeliz durante o sermão e nas lições sagradas, daí surgirem estas duas estátuas com este tipo de indumentária.
[3] São Luís Gonzaga é considerado “Patrono da Juventude”. Seu corpo repousa na Igreja de Santo Inácio, em Roma. São Luís Gonzaga escreveu: “Também os príncipes são pó como os pobres: talvez, cinzas mais fedidas”. Após ter recebido a primeira comunhão das mãos de São Carlos Borromeu, decidiu-se pela vida religiosa, entrando para a Companhia de Jesus.
Veja-se, VEIGA, Francisca Branco. Noviciado da Cotovia: O Passado dos Museus da Politécnica 1619-1759. Dissertação (Mestrado em Património Cultural) – Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2009.
A igreja de Gesú, em Roma, tornou-se o modelo arquitectónico a seguir, aquele que traduz as leis e as regras da Companhia de Jesus, onde o altar se encontra no local de acordo com objetivos litúrgicos assumidos no Concílio: uma só nave, larga e desafogada; seis capelas laterais intercomunicantes, de um lado e de outro da nave, erigidas em honra dos Santos e Mártires, permitindo-se a passagem destas ao transepto através de duas câmaras circulares; o transepto é ligeiramente saliente com capelas nos topos; a cúpula sobre o cruzeiro é grande, permitindo iluminar toda a abside; o altar principal fica, geralmente, numa posição bem visível, no topo da capela-mor e o púlpito[1] alto e bem posicionado para dominar sem dificuldade todo o templo e ao mesmo tempo tornar-se o ponto focal, para onde tudo converge.
(9) Altar-mor (8) Abside
(10) Capela de Madonna della Strada (7) Capela do Sagrado Coração de Jesus
(11) Capela de Santo Inácio (6) Capela de Francisco Saverio
(15) Cúpula (16) Sacristia
(18) Crucifico maior (17) Ante Sacristia
(12) Capela da Santíssima Trindade (2) Nave
(13) Capela da Sagrada Família (5) Capela dos Anjos
(14) Capela de Francisco Borgia (4) Capela da Paixão de Cristo
(1) Fachada (3) Capela de Santo André
A necessidade de mostrar a grandeza de Deus num espaço amplo, com muita luz, incentiva o povo cristão ao culto mostrando de uma só vez todo o recinto sagrado e o orador a pregar.
Esta igreja corresponde a dois tempos vividos pela Reforma, a sobriedade dos primeiros tempos e a riqueza e ostentação do segundo, onde o maneirismo da estrutura arquitectónica se mistura com barroco da decoração.
No âmbito do Padroado Português, o modelo mais próximo terá sido a igreja de S. Roque, em Lisboa. O projecto da igreja de S. Roque embora inspirado no da igreja de Gesú, apresenta em relação a esta várias diferenças como: a diminuição da largura do transepto que, na igreja de Lisboa, quase se confunde, em planta, com as capelas laterais; enquanto na arquitectura da Gesù há uma cúpula central que depende dos arcos gerados pela abóbada de berço, no padrão português a adopção das traves promove um espaço mais livre e a inexistência de abóbadas recortando o forro da nave central possibilita o uso de padrões decorativos cada vez mais sofisticados nos forros (como a pintura ilusionista); oito capelas laterais intercomunicantes; cabeceira rectangular com capela-mor plana e pouco profunda; a substituição da abside[2] por uma capela-mor muito pequena e inclusão de uma teia com balaústres que delimita o avanço do santuário em relação ao corpo da igreja.
(9) Capela da Sagrada Família (1) Capela da Senhora da Doutrina
(8) Capela de Santo António (2) Capela de São Francisco Xavier
(7) Capela da Senhora da Piedade (3) Capela de São Roque
(6) Capela de São João Baptista (4) Capela do Santíssimo
(13) Altar do Presépio (11) Altar da Anunciação
(12) Altar da Santíssima Trindade (10) Altares das Relíquias
(10) Altares das Relíquias (5) Capela-Mor
(14) Sacristia
Segundo o padre Francisco Rodrigues as igrejas jesuíticas lusas da segunda metade do séc. XVI e primeiros quartéis do séc. XVII seguem o modelo da igreja de Gesú. No seu livro História da Companhia de Jesus na assistência de Portugal ele afirma:
“No estilo dessas obras arquitectónicas …seguiu-se geralmente o que prevalecia naquela época de renascimento. Tôdas elas se assemelhavam nas linhas gerais, e distinguiam-se facilmente de outros estilos por certas formas características, de regra observadas na sua construção. Alargavam-se desafogadamente na amplidão de uma só nave, abriam-se lateralmente de um lado e do outro do corpo da igreja em capelas fundas com seu arco de cantaria; o altar principal ostentava-se bem visível no tôpo da capela-mor, e o púlpito suspendia-se em tal altura e posição, que dominasse sem dificuldade tôda a vastidão do templo. Desta sorte se oferecia ao povo cristão uma idéia mais impressionante da grandeza de Deus com a maior largueza do espaço e mais abundância de luz, providenciava-se maravilhosamente à magnificência do culto, abrangendo a multidão dos fiéis com seu olhar tôda a extensão do recinto sagrado, e podiam ainda os maiores concursos ver o orador e escutar-lhe fàcilmente a voz. Assim foi o sentimento religioso e a facilidade imponência das cerimónias cultuais, que traçaram, como era justo, as leis da arquitectura dos santuários. Veio de Roma a insinuação do estilo, quando se propôs, como norma para as igrejas da Companhia o templo magnífico do Gesú, que por aquêles mesmos anos e com iguais intuitos de prática utilidade se construíu no centro da cidade papal, sob a direcção de arquitectos insignes, como eram VIGNOLA e DELLA PORTA. De feito em 1568 o santo Geral Francisco de Borja aconselhava que as igrejas da sua Ordem fôssem de uma só nave, como a igreja do Gesú. Nesse ano precisamente se abriam osalicerces ao templo farnesiano”[3].
[1] Tribuna, nas igrejas, de onde os oradores sagrados pregam.
[2] Hemiciclo ou meia abóbada que termina as basílicas cristãs, debaixo do qual se encontra o altar-mor.
[3] Francisco Rodrigues S.J., História da Companhia de Jesus na assistência de Portugal, t.II, vol. 1, p. 180.
Veja-se, VEIGA, Francisca Branco. Noviciado da Cotovia: O Passado dos Museus da Politécnica 1619-1759. Dissertação (Mestrado em Património Cultural) – Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2009.
A Companhia de Jesus nos séculos XVI a XVIII esteve ativa em Portugal ao longo de um período de duzentos e dezanove anos, desde a sua fundação em Roma, em 27 de setembro de 1540, até 3 de setembro de 1759, data do decreto do Marquês de Pombal que promulgou a sua extinção no nosso país.
Foi em 1540 com D. João III (1521-1557), que a Companhia de Jesus entrou em Portugal, sendo o nosso país a primeira Província jesuíta no mundo. Numa época de forte expansão territorial D. João III irá ser o primeiro rei na Europa a contactar Inácio de Loyola devido à necessidade de encontrar missionários, homens letrados, para evangelizar o Oriente, pregando e convertendo à Fé cristã os nativos. D. João concedeu privilégios aos jesuítas, nomeadamente casas gratuitas, liberdade de enviar missionários para todo o mundo e de fundar colégios.
A Companhia de Jesus instalou-se em Portugal continental e Ilhas Atlânticas, durante este período, fundando diversas Casas Professas, Colégios, Noviciados e quintas de recreio. Só em Lisboa, à data da extinção da Companhia havia sete instituições jesuítas: a Casa Professa de S. Roque, o Colégio de Santo Antão, o Seminário de S. Patrício dos irlandeses católicos[1], o Noviciado de Nossa Senhora da Assunção (da Cotovia), o Colégio de S. Francisco de Xavier em Alfama, o Hospício de S. Francisco de Borja e o Noviciado de Nossa Senhora da Nazaré em Arroios (noviciado das Missões).
[1] Em 1611 António Rodrigues Ximenes instalou num edifício antigo da Tutoria da Infância este Seminário que se encontrava sob a direção dos jesuítas. Expulsos os jesuítas por Pombal em 1759, o Colégio de S. Patrício manteve-se em atividade até cerca de 1830, instruindo crianças pobres.
Seminário de S. Patrício dos irlandeses católicos
Noviciado de Nossa Senhora da Assunção (da Cotovia)
Colégio de S. Francisco de Xavier em Alfama
Hospício de S. Francisco de Borja
Noviciado de Nossa Senhora da Nazaré em Arroios (noviciado das Missões)
Veja-se, inclusive, VEIGA, Francisca Branco. Noviciado da Cotovia: O Passado dos Museus da Politécnica 1619-1759. Dissertação (Mestrado em Património Cultural) – Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2009.
Pão e Peixe Eucarísticos, arte paleocristã, séc. III (alegoria representando Jesus Cristo).
«Só temos cinco pães e dois peixes; a não ser que vamos nós mesmos comprar comida para todo este povo!» (Lc 9, 12-13). «E, tendo mandado que a multidão se assentasse sobre a erva, tomou os cinco pães e os dois peixes, e, erguendo os olhos ao céu, os abençoou, e, partindo os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos à multidão. E comeram todos, e saciaram-se; e levantaram dos pedaços, que sobejaram, doze alcofas cheias. E os que comeram foram quase cinco mil homens, além das mulheres e crianças». (Mt 14,19-21)
Homilia Do Cardeal Patriarca. Lisboa, Praça do Município, 26 de Maio de 2005
“Eucaristia, memória do Coração de Cristo”
SOLENIDADE do Corpo de deus
“ … A bênção de Deus é eficaz, realiza maravilhas. Sentir-se abençoado é sentir-se enviado, capaz de percorrer caminhos novos, que só o amor revela e torna possíveis. Cristo eleva os olhos ao Céu e pronuncia a bênção sobre o pão e o peixe, e eles multiplicam-se na medida justa do Seu amor por aquela multidão. Se o pão é um sinal de bênção, este tem de chegar a todos e para todos. “Isto é o meu Corpo, que é para vós”. E se era para todos, ele tinha de chegar a todos e para todos, para que cada um sentisse e acolhesse o dom de amor do próprio Cristo…”. In http://www.patriarcado-lisboa.pt/vidacatolica/
Além de código para se reconhecerem nos tempos de clandestinidade, o anagrama era uma proclamação de fé
Símbolo ambivalente de benção e maldição, como tudo o que é originário das profundezas marinhas, o peixe é para Jonas o instrumento da sua expiação: fugindo da ordem divina, foi engolido por um grande peixe, no ventre do qual passou três dias e três noites até ser, por fim, cuspido à beira- mar, são e salvo (Jn2,1-11). Na tradição cristã, a estadia de Jonas na barriga do peixe tem sido comparada à habitação dos mortos, de onde Cristo saiu vencedor através da Ressurreição (Mt12,40; Lc11,30). Para Tobias, o peixe foi a origem de numerosas benesses: graças ao fígado do animal, o jovem Tobias conseguiu expulsar os demónios de Sara, que ele havia desposado; e devolveu a vista ao seu pai cego.
No Novo Testamento, os peixes representam a alma dos homens chamados a serem salvos nas redes de Deus e de seus servidores (Mt13,48-49; Lc5,1-11; Jo21,1-13). Ligado ao pão (Mt14,13-21,15,23-29; Mc6,30-44, 8,1-10;Lc9,12-17;Jo6,1-15) e, geralmente, à refeição (Jo21,13), o peixe foi durante muito tempo associado à eucaristia; S. Pedro, por instrução de Jesus, encontrou, miraculosamente, a moeda necessária para pagar o imposto (Mt17, 24-27).
Devido a essas referências evangélicas, o peixe tornou- se para os primeiros Cristãos num símbolo de Cristo: um navio sustentado ou puxado por um peixe é a imagem da Igreja guiada pelo Senhor. O simples desenho de um peixe era, inicialmente, uma forma de afirmar a Fé em Cristo: a palavra IX0YE significa peixe em grego, o que na transcrição latina deu ICHTUS sendo também as iniciais de Iêsou Christos Theou Uios Sôtêr com o significado de Jesus Cristo Filho de Deus Salvador. Um símbolo mas, no entanto, com o verdadeiro sentido do Credo.
Relatam os católicos que Jesus por duas vezes multiplicou pães e peixes para atender à multidão que o seguira até uma região “deserta” (longe de cidades) e ali ficara ouvindo-O e recebendo curas mas, por não se terem munido de alimentos, estavam a ponto de passar fome.
A primeira multiplicação é relatada
por Mt14,13/23
13 Quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu, e foi de barca para um lugar deserto e afastado. Mas, quando as multidões ficaram sabendo disso, saíram das cidades, e o seguiram a pé.
14 Ao sair da barca, Jesus viu grande multidão. Teve compaixão deles, e curou os que estavam doentes. 15 Ao entardecer, os discípulos chegaram perto de Jesus, e disseram:
“Este lugar é deserto, e a hora já vai adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar alguma coisa para comer.”
Sacrário Peixe e Pão
16 Mas Jesus lhes disse:
“Eles não precisam ir embora. Vocês é que têm de lhes dar de comer.”
17 Os discípulos responderam:
“Só temos aqui cinco pães e dois peixes.”
18 Jesus disse:
“Tragam isso aqui.”
19 Jesus mandou que as multidões se sentassem na grama. Depois pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu, pronunciou a bênção, partiu os pães, e os deu aos discípulos; os discípulos distribuíram às multidões.
20 Todos comeram, ficaram satisfeitos, e ainda recolheram doze cestos cheios de pedaços que sobraram.
21 O número dos que comeram era mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.
22 Logo em seguida, Jesus obrigou os discípulos a entrar na barca, e ir na frente, para o outro lado do mar, enquanto ele despedia as multidões.
23 Logo depois de despedir as multidões, Jesus subiu sozinho ao monte, para rezar. Ao anoitecer, Jesus continuava aí sozinho.
por Mc6,30/44,
30 Os apóstolos se reuniram com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado.
31 Havia aí tanta gente que chegava e saía, a tal ponto que Jesus e os discípulos não tinham tempo nem para comer. Então Jesus disse para eles: “Vamos sozinhos para algum lugar deserto, para que vocês descansem um pouco.
“32 Então foram sozinhos, de barca, para um lugar deserto e afastado.
33 Muitas pessoas, porém, os viram partir. Sabendo que eram eles, saíram de todas as cidades, correram na frente, a pé, e chegaram lá antes deles.
34 Quando saiu da barca, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão, porque eles estavam como ovelhas sem pastor. Então começou a ensinar muitas coisas para eles.
35 Quando estava ficando tarde, os discípulos chegaram perto de Jesus e disseram: “Este lugar é deserto e já é tarde. 36 Despede o povo, para que possa ir aos campos e povoados vizinhos comprar alguma coisa para comer.”
37 Mas Jesus respondeu: “Vocês é que têm de lhes dar de comer.”Os discípulos perguntaram: “Devemos gastar meio ano de salário e comprar pão para dar-lhes de comer?”
38 Jesus perguntou:”Quantos pães vocês têm? Vão ver.”Eles foram e responderam: “Cinco pães e dois peixes.”
39 Então Jesus mandou que todos se sentassem na grama verde, formando grupos. 40 E todos se sentaram, formando grupos de cem e de cinquenta pessoas.
41 Depois Jesus pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e ia dando aos discípulos, para que os distribuíssem. Dividiu entre todos também os dois peixes.
42 Todos comeram, ficaram satisfeitos,
43 e recolheram doze cestos cheios de pedaços de pão e também dos peixes.
44 O número dos que comeram os pães era de cinco mil homens.
por Lc9,10/17
10 Os apóstolos voltaram, e contaram a Jesus tudo o que haviam feito. Jesus os levou consigo, e se retirou para um lugar afastado na direcção de uma cidade chamada Betsaida.
11 No entanto, as multidões souberam disso, e o seguiram. Jesus acolheu-as, e falava a elas sobre o Reino de Deus, e restituía a saúde a todos os que precisavam de cura. 12 A tarde vinha chegando. Os doze apóstolos se aproximaram de Jesus, e disseram:
“Despede a multidão. Assim eles podem ir aos povoados e campos vizinhos para procurar alojamento e comida, porque estamos num lugar deserto.”
13 Mas Jesus disse:
“Vocês é que têm de lhes dar de comer.”
Eles responderam:
“Só temos cinco pães e dois peixes… A não ser que vamos comprar comida para toda esse gente!”
14 De fato, estavam aí mais ou menos cinco mil homens. Mas Jesus disse aos discípulos:
“Mandem o povo sentar-se em grupos de cinquenta.”
15 Os discípulos assim fizeram, e todos se sentaram.
16 Então Jesus pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu, pronunciou sobre eles a bênção e os partiu, e ia dando aos discípulos a fim de que distribuíssem para a multidão.
17 Todos comeram, ficaram satisfeitos, e ainda foram recolhidos doze cestos de pedaços que sobraram.
e por Jo6,l/15
1 Depois disso, Jesus foi para a outra margem do mar da Galileia, também chamado Tiberíades.
2 Uma grande multidão seguia Jesus porque as pessoas viram os sinais que ele fazia, curando os doentes.
3 Jesus subiu a montanha e sentou-se aí com seus discípulos.
4 Estava próxima a Páscoa, festa dos judeus.
5 Jesus ergueu os olhos e viu uma grande multidão que vinha ao seu encontro. Então Jesus disse a Filipe:
“Onde vamos comprar pão para eles comerem?”
6 Jesus falou assim para testar Filipe, pois sabia muito bem o que ia fazer.
7 Filipe respondeu:
“Nem meio ano de salário bastaria para dar um pedaço para cada um.”
8 Um discípulo de Jesus, André, o irmão de Simão Pedro, disse:
9 “Aqui há um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas, o que é isso para tanta gente?”
10 Então Jesus disse:
“Falem para o povo sentar.”
Havia muita grama nesse lugar e todos sentaram. Estavam aí cinco mil pessoas, mais ou menos.
11 Jesus pegou os pães, agradeceu a Deus e distribuiu aos que estavam sentados. Fez a mesma coisa com os peixes. E todos comeram o quanto queriam.
12 Quando ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos:
“Recolham os pedaços que sobraram, para não se desperdiçar nada.”
13 Eles recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães que haviam comido.
14 As pessoas viram o sinal que Jesus tinha realizado e disseram:
“Este é mesmo o Profeta que devia vir ao mundo.”
15 Mas Jesus percebeu que iam pegá-lo para fazê-lo rei. Então ele se retirou sozinho, denovo, para a montanha.
A segunda somente,
por Mt15,32/39
32 Jesus chamou seus discípulos, e disse:
“Tenho compaixão dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo, e não tem nada para comer. Não quero mandá-los embora sem comer, para que não desmaiem pelo caminho.”
33 Os discípulos disseram:
“Onde vamos buscar, nesse deserto, tantos pães para matar a fome de tão grande multidão?”
34 Jesus perguntou:
“Quantos pães vocês têm?”
Eles responderam:
“Sete, e alguns peixinhos.”
35 Jesus mandou que a multidão se sentasse no chão.
36 Depois pegou os sete pães e os peixes, agradeceu, partiu-os, e ia dando aos discípulos, e os discípulos para as multidões.
37 Todos comeram, e ficaram satisfeitos. E encheram sete cestos com os pedaços que sobraram.
38 Os que tinham comido eram quatro mil homens, sem contar mulheres e crianças.
39 Tendo despedido as multidões, Jesus subiu na barca, e foi para o território de Magadã.
e por Mc8,1/10
1 Naqueles dias, havia de novo uma grande multidão e não tinham o que comer. Jesus chamou os discípulos e disse:
2 “Tenho compaixão dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo e não têm nada para comer. 3 Se eu os mandar para casa sem comer, vão desmaiar pelo caminho, porque muitos deles vieram de longe.”
4 Os discípulos disseram:
“Onde alguém poderia saciar essa gente de pão, aqui no deserto?”
5 Jesus perguntou:
“Quantos pães vocês têm?”
Eles responderam:
“Sete.”
6 Jesus mandou que a multidão se sentasse no chão. Depois pegou os sete pães, agradeceu, partiu-os e ia dando aos discípulos, para que os distribuíssem.
7 Tinham também alguns peixinhos. Depois de pronunciar a bênção sobre eles, mandou que os distribuíssem também.
8 Comeram e ficaram satisfeitos, e recolheram sete cestos dos pedaços que sobraram.
9 Eram mais ou menos quatro mil. E Jesus os despediu.
10 Jesus entrou na barca com seus discípulos e foi para a região de Dalmanuta.
As diferenças entre as duas são pequenas, pois em ambas Jesus:
aproveitou do que dispunham (alguns pães e peixes);
mandou que o povo se sentasse em grupos (ordenou a multidão);
orou (tomando os pães e peixes, ergueu os olhos aos céus e abençoou- os);
depois fez a repartição entre os discípulos e destes para o povo;
todos comeram à vontade (milhares de homens, além das mulheres e crianças);
e ainda sobraram muitos cestos com pedaços de pão e de peixe, que Jesus mandou recolher para nada se perder.
—
Existem várias interpretações sobre o texto da Multiplicação dos Pães e Peixes, escrita na Bíblia. Quero destacar uma que relaciona esta passagem bíblica com a metodologia VER – JULGAR – AGIR – AVALIAR – CELEBRAR.
Segundo o Evangelho de S. João, capítulo 6, versículo 1 a 15 passou-se o seguinte:
Quando as pessoas que ouviam Jesus resolveram acompanhá-lo para um lugar fora da cidade, certamente alguns deles levaram consigo alguma provisão de comida, já que dificilmente alguém sai para um lugar deserto totalmente desprevenido, sem levar um pouco de água e algum lanche. No momento da refeição, as pessoas provavelmente ficaram inseguras na hora de mostrar o que tinham, pois poderia ser pouco se no caso o vizinho estivesse sem nada. Jesus procurou fazer com os discípulos um levantamento do que existia: cada um tinha um pouco (VER). As pessoas da multidão, possivelmente estavam próximas de pessoas conhecidas umas das outras, e isto contribuiu para saber quem levou algo para comer ou não. Jesus propôs a organização em pequenos grupos como estratégia para as pessoas conversarem sobre a questão (JULGAR). A partilha do alimento é expressa por Jesus com a simplicidade de um menino com cinco pães e dois peixes – primeiro passo é simples e concreto (AGIR). Depois da partilha, as pessoas recolheram doze cestos de comida – sinal que sobrou (AVALIAR). Vendo este milagre da partilha, a multidão festejou a descoberta de que Jesus era verdadeiramente o salvador.
Segundo anunciou Dom Nikola Eterović, Secretário Geral do Sínodo dos Bispos, o Santo Padre Bento XVI decidiu que a todos os Bispos participantes do Sínodo se desse um presente especial: um anel apresentando a figura de um pelicano, que é um símbolo eucarístico tradicional.
O pelicano, que vive nas margens de lagos e rios nas regiões cálidas, dá de comer aos seus filhotes com o alimento que extrai da bolsa de pele que tem no peito. Segundo explicou a Sala de Imprensa da Santa Sé, tomando este fato como ponto de partida, antigas lendas imaginaram que o pelicano, em caso de necessidade, nutre os seus filhotes com a sua própria carne. A tradição cristã, por isso, a partir da Idade Média, começou a utilizar o pelicano como símbolo eucarístico, vendo nesse dar a própria carne como alimento uma figura de Cristo que entrega seu o Corpo e Sangue aos homens na Eucaristia. Com efeito, o conhecido hino de adoração eucarística, “Adoro te devote”, atribuído a São Tomás de Aquino, chama a Cristo Sacramentado “Pie pellicane”. Também poetas como Dante, pintores como Giotto e a sua escola, reproduzem o pelicano entre os símbolos eucarísticos.
O anel, que tem estampado na parte exterior o pelicano, tem na parte interna o escudo pontifício de Bento XVI.
Tendo por base a lenda antiga de que o pelicano alimenta os filhos com o sangue que faz jorrar do peito, esta ave tornou-se símbolo de Jesus Cristo e da Eucaristia, passando a ser muito representada artisticamente, sobretudo a partir do séc. XV.
Uma das aves imundas (Lv 11,18; Dt 14,17) pertence à ordem dos steganopodes. O pelicano, ordinariamente branco, é muito vulgar na Síria, embora o pelicano dalmaciano se ache também ali. A expressão ‘pelicano no deserto’, tem sido combatida, pois trata-se de uma ave marítima. Mas é costume desta ave dirigir-se de manhã cedo ao seu lugar de pesca, voltando antes do meio-dia regularmente ao seu favorito banco de areia ou aos pântanos do interior, a fim de fazer a digestão do peixe comido e alimentar os seus filhos – e de tarde repete a operação. A aparência da ave na ocasião em que está digerindo o seu alimento, com a cabeça abatida sobre os ombros, com o bico descansando sobre o peito, manifesta desolação. As asas do pelicano são de grande poder, alcançando a sua extensão até 3,50 metros. O nome hebraico do pelicano significa ‘vomitar’, e refere-se ao hábito que tem aquela ave de armazenar alimento no largo saco, preso à mandíbula inferior, com o fim de alimentar os seus filhos. E lança a comida, apertando seu bico contra o peito.
Outrora fez-se do pelicano, ave aquática, um símbolo do amor paternal, sob o falso pretexto de que ele alimentava as suas crias com a sua própria carne e com o seu próprio sangue. Por esta razão, a iconografia cristã fez dele um símbolo de Cristo; mas existe uma razão mais profunda. Símbolo da natureza húmida que, segundo a física antiga, desaparecia sob o efeito do calor solar e renascia no inverno, o pelicano foi tomado como representação do sacrifício de Cristo e da sua ressurreição, bem como da de Lázaro. Por isso a sua imagem esteve algumas vezes ligada à da fénix. O simbolismo ligado a Cristo funda-se também na chaga do coração de onde jorra sangue e água, bebidas da vida: «Desperta-te, cristão morto, escreve Silesius, e vê, o nosso Pelicano banha-te com o teu sangue e com a água do seu coração. Se a receberes bem… num instante estarás vivo e salvo».
O Pelicano, derramando o seu sangue pelos seus filhos, é um símbolo que foi adoptado pela igreja eucarística pois, ele era considerado emblema do Salvador que derramou seu sangue pela humanidade.
O Pelicano é sempre lembrado no momento em que abre as suas entranhas para alimentar os seus filhos, em números considerados sagrados: 3, 5 e 7. O Pelicano é, também, o emblema mais significativo da caridade. E, como tira de suas entranhas o alimento de seus filhos, muitos vêem nele o mais lindo símbolo do amor materno.
Este símbolo – o pelicano- introduz o tema do Sangue de Cristo na sexta estrofe do hino eucarístico: «Senhor Jesus, Pelicano bom, / Limpa-me com teu Sangue, / Do qual uma só gota pode libertar / De todos os crimes o mundo inteiro». O conteúdo teológico desta estrofe é um solene acto de fé no valor universal do sangue de Cristo, do qual uma só gota basta para salvar o mundo inteiro.
Hino Eucarístico
Adoro te devote Adoro te devote, latens Deitas, Quae sub his figuris vere latitas; Tibi se cor meum totum subiicit, Quia te contemplans, totum deficit.
Visus, tactus, gustus in te fallitur, Sed auditu solo tuto creditur; Credo quidquid dixit Dei Filius, Nil hoc verbo veritatis verius.
In Cruce latebat sola Deitas. At hic latet simul et humanitas: Ambo tamen credens, atgue confitens, Peto quod petivit latro paenitens.
Plagas, sicut Thomas, non intueor, Deum tamen meum te confiteor: Fac me tibi semper magis credere, In te spem habere, te diligere.
O memoriale mortis Domini, Panis vivus vitam praestans homini: Praesta meae menti de te vivere, Et te illi semper dulce sapere.
Pie pellicane Iesu Domine, Me immundum munda tuo Sanguine: Cuius una stilla salvum facere Totum mundum quit ab omni scelere. Iesu, quem velatum nunc aspicio, Oro, fiat illud, quod tam sitio, Ut te revelata cernens facie, Visu sim beatus tuae gloriae. Amen.
O CRUCIFIXO DE GIOTTO NO MUSEU DO LOUVRE
O crucifixo pintado em têmpera e ouro sobre painel de madeira, realizado em 1315 aproximadamente; atribuído a Giotto (1266–1337). Dimensões: 277 × 225 cm.
Cristo na cruz está na posição dolens (sofrendo), o corpo caindo, a barriga projetando-se em seu perizonium , a cabeça inclinada para a frente tocando o ombro, as costelas projetando-se, as feridas com sangue, os pés sobrepostos.
o crucifixo está em tabelone (pequenos painéis com cenas nas extremidades da cruz: A Virgem Maria à esquerda, São João o apóstolo à direita, presença do titulus no topo sob o painel da “alegoria do pelicano” sacrificando-se para alimentar seus filhos, mas ausência abaixo, talvez perdida, do painel da tumba de Adão com seu crânio).
Parte traseira ornamentada da caixa com padrões gravados em um fundo dourado, atrás do corpo de Cristo,