D. Miguel e os jesuítas: fidelidade mútua às antigas tradições 1829-1834

D. Miguel and the Jesuits: mutual fidelity to ancient traditions 1829-1834

RESUMO:

Este artigo tem como objetivo procurar responder a questões relativas à segunda entrada da Companhia de Jesus em Portugal, concretamente o contexto externo e interno que lhe deu origem, os propósitos que serviu e as razões que determinaram a segunda expulsão.

A autora baseou a sua análise em fontes históricas documentais inéditas e secundárias, destacando-se entre as fontes primárias um repositório de documentos do espólio documental do Arquivo da Província Portuguesa da Companhia de Jesus.

Foi seguida uma metodologia cronológico-evolutiva na reconstrução do período histórico em análise, seguindo os estudos de historiadores de relevo para a história política e religiosa miguelista.

Como representante do tradicionalismo e conservadorismo, a Companhia de Jesus constitui-se como um instrumento fundamental na afirmação dos ideais miguelistas e reforço da sua causa, mas jesuítas e miguelistas tinham o destino da sua presença traçado perante os ideais do liberalismo.

Palavras-Chave: miguelismo / jesuítas / liberalismo

ABSTRACT:

This article aims to provide answers to some questions related to the second entry of the Society of Jesus in Portugal, specifically the external and internal context that gave rise to it, the purposes it served, and the reasons that determined the second expulsion.

The author based her analysis on unpublished and secondary historical documentary sources, highlighting among the primary sources a repository of documents from the documentary collection of the Archive of the Portuguese Province of Society of Jesus.

 A chronological-evolutionary methodology was followed in the reconstruction of the historical period under analysis, following the studies of relevant historians regarding the miguelist political and religious history.

As a representative of traditionalism and conservatism, the Society of Jesus constitutes itself as a fundamental instrument in the affirmation of the miguelist ideals and reinforcement of its cause, but Jesuits and miguelists had the destiny of their presence traced before the ideals of liberalism.

Keywords: miguelism / jesuits / liberalism

INTRODUÇÃO

Em 1759 os jesuítas foram expulsos de todos os territórios portugueses e pelo breve papal Dominus ac Redemptor (21 de julho de 1773), o Papa Clemente XIV suprimia a Companhia de Jesus no mundo. 

A sua expulsão de Portugal fazia parte de um projeto político iluminista e centralizador para o qual a Companhia de Jesus era considerada um obstáculo. Na literatura sobre a temática dos Jesuítas portugueses exilados pelo marquês de Pombal prevalece o estudo recente de António Trigueiros, afirmando este que, “No horizonte da política regalista de Carvalho e Melo estaria a total subordinação da Igreja ao poder do Estado e a simpatia pela criação de uma Igreja nacional” (TRIGUEIROS 2016:13).

A literatura sobre o pensamento europeu moderno faz referência a acontecimentos como a Revolução Francesa (1789) ou a dissolução do Sacro Império Romano-Germânico (1806), e a consequente ascensão do nacionalismo, como indicadores relevantes de que estava a nascer uma nova «orgânica» política e social na Europa (BAUMER 1977: 13). As explicações metafísicas do mundo já não se coadunavam com o mundo da experiência e com a consciência crescente do condicionalismo histórico do respetivo momento (BAUMER 1977; HOBSBAWM 001; RÉMOND 1994).

Contudo, após as Guerras Napoleónicas, ea consequente derrota de Napoleão na Batalha de Waterloo, as monarquias conservadoras depostas/exiladas voltam a subir ao trono, pretendendo-se o restabelecimento do princípio da legitimidade monárquica. O programa de uma Santa Aliança como mecanismo regulador terá então como objetivo a contenção de novos focos revolucionários.

Neste contexto, em 1814 «O mundo católico exige com unanimidade o restabelecimento da Companhia de Jesus». Assim sustentava o Papa Pio VII, por meio da Bula Pontifícia Sollicitudo omnium Ecclesiarum, lida no dia 7 de agosto de 1814 na Igreja de Gesù, restabelecendo a Companhia no mundo. Não obstante, para muitos historiadores, como por exemplo Eric Hobsbawm, «a tendência geral, entre 1789 e 1848, foi a de uma acentuada secularização» da sociedade (HOBSBAWM 2001: 225).

Assim, em Portugal, na primeira metade do século XIX, a sociedade foi atravessada por uma série de acontecimentos – invasões francesas, domínio inglês, a revolução de 1820, a guerra civil – que despertaram, nas palavras de M. de Lourdes Lima dos Santos, uma nova intelligentsia cuja ideologia contribuiu para criar uma crise orgânica com a intelligentsia tradicional, cimentando novos discursos (SANTOS 1979: 69-115). Do lado dos governantes portugueses continuava a pesar, como refere Acácio Casimiro, uma «atmosfera de ódios e calúnias adensada por Pombal e não dissipada por seus sucessores» (CASIMIRO 1940: 475). Após um estudo exploratório do Diario das Cortes Geraes e Extraordinarias da Nação Portugueza concluiu-se que maioria dos parlamentares desde a revolução de 1820 reassumiu os princípios regalistas estabelecidos no século XVIII por especialistas como António Pereira de Figueiredo, Seabra da Silva ou Ribeiro dos Santos, que defendiam a supremacia do poder civil sobre o eclesiástico, legitimando, deste modo, a política pombalina de dominação do Estado sobre a Igreja. Deste estudo concluiu-se, inclusive, que a propaganda negativa levada a cabo contra a Ordem dos Jesuítas continuava a ter um espaço de riquíssimo debate onde era impossível vingarem as ideias dos políticos mais conservadores, e muito menos a do regresso da Companhia de Jesus.

Neste contexto, os jesuítas eram acusados e combatidos pelos movimentos antijesuíticos, pela sua colagem aos modelos políticos e sociais do passado e pela sua luta contra a modernidade das ideias. D. João VI alegava que a memória histórica da Companhia de Jesus encontrava-se ainda muito manchada. Teófilo Braga refere-se a este assunto alegando que: “Quando D. João VI estava ainda no Brasil tentou-se trazel-o á coligação monarchica que começava pelo restabelecimento dos Jesuítas; os políticos que o rodeavam não comprehenderam o jogo…” (BRAGA 1902:83). Embora ele e a rainha-mãe D. Maria I não fossem desafetos da Companhia, encontravam-se rodeados por um conjunto de pessoas que não sendo liberais mantinham os ideais pró-pombalinos, como Fernando José de Portugal e Castro, Marquês de Aguiar, António de Araújo, conde da Barca, e o conde de Linhares Dom Rodrigo de Sousa Coutinho, que pretendiam manter em vigor o alvará de 3 de setembro de 1759. Em 1832, no periódico A Contra-Mina, Fortunato de S. Boaventura referia as calúnias a que estavam sujeitos os jesuítas no reinado de D. Maria I:

Nem a saudosissima, e piedosissima Rainha D. Maria I, que tomava a peito o restabelecimento dos Jesuitas em Portugal, porque tomava a peito a verdadeira, felicidade dos seus Povos, conseguio trazer novamente a este Reino, e suas Conquistas os Filhos de Sancto Ignacio! Vio-se necessitada a conter, ou reprimir os seus votos, e a deixa-los como abafados, e sepultados em seu Regio Coração …. Tanta era a força das prevenções, ou das calumnias, que ardilosamente se havião espalhado neste Reino contra os Jesuitas! (A CONTRA MINA 1832)

A rainha pretendia readmitir em Portugal os jesuítas expulsos, mas os seus conselheiros fizeram-lhe ver que tinha sido a própria Cúria Romana a extinguir essa Ordem, e que esse pedido tinha vindo de várias potências europeias, para além de que a readmissão dos jesuítas em Portugal seria um motivo de censura por parte do governo de Espanha e de França (DICIONÁRIO HISTÓRICO 1908: 817-819).

Tendo em conta a atuação política, social, educacional e religiosa da Companhia de Jesus no período até à sua extinção em 1759, pretenderam os absolutistas/miguelistas, para revigorar a Igreja, o seu restabelecimento em Portugal. O seu renascimento torna-se inteligível no quadro histórico-político e doutrinário da contrarrevolução europeia, após o Congresso de Viena. Este movimento religioso restaurador assegurava o suporte do seu sistema político na luta contra a avalanche revolucionária iniciada na França dos iluminados e pedreiros-livres.

Depois de fazer um levantamento bibliográfico do tema sentimos ser pertinente efetuar uma nova recolha de informação, mais atualizada e com uma nova perspetiva de análise que o tema merece, não realizada até hoje, tendo como enfoque principal a visão interna da Companhia de Jesus.

Esta visão interna da Companhia sobre o contexto político e social no período em análise permitiria validar as teses sobre o anti jesuitismo dominante na sociedade portuguesa, bem como sobre a manutenção dos seus ideais fortemente associados ao conservadorismo e ao absolutismo.

Podendo delimitar o estudo do objeto de análise do presente artigo, no contexto europeu, no período entre o Congresso de Viena, em 1814, e os movimentos revolucionários da década de 1830, o caso em concreto do corpus deste artigo foca-se no período histórico entre 1829 e 1834, ascensão e queda de um regime tradicionalista.

Como orientação na organização da nossa análise, optámos por uma metodologia cronológico-evolutiva, baseada numa abordagem interpretativa e demonstrativa do processo histórico antecedente e da causalidade desse processo na construção do período histórico-cronológico em análise.

Relativamente à escolha das fontes documentais a utilizar, seguimos uma via múltipla, a leitura e análise relativa à história da Europa e da Igreja Católica na época Moderna e Contemporânea, e o espólio documental que se encontra no arquivo da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, instrumento fundamental para o objetivo do nosso trabalho, nunca antes explorado.

Assim sendo, para Portugal beneficiamos de um ambiente fecundo, onde historiadores de relevo aprofundaram a história política e religiosa. De Luís Reis Torgal e Isabel Nobre Vargues lemos um estudo sobre a revolução e contrarrevolução na sua passagem do vintismo até ao absolutismo (TORGAL; VARGUES 1993: 65-87), e de Luís Reis Torgal o estudo sobre o Tradicionalismo Absolutista e Contrarrevolucionário e o Movimento Católico (TORGAL 1993: 227-239). De Maria Alexandre Lousada procurámos descobrir o discurso político do miguelismo (LOUSADA 1987), tal como foi importante ler as diversas publicações de Armando Malheiro da Silva, historiador do miguelismo (SILVA 1993). Com Vítor Neto estudámos a relação entre o Estado e a Igreja neste contexto de mudança (NETO 1993: 265-283). D. Manuel Clemente publicou um conjunto de artigos sobre a Igreja e a sociedade portuguesa que se tornaram relevantes para a temática em questão (CLEMENTE 2012).  António Matos Ferreira foi um investigador incontornável para o estudo da desarticulação do Antigo Regime e da Guerra Civil (FERREIRA 2002: 21-35). Na defesa do pensamento contrarrevolucionário em Portugal no século XIX, Fernando Campos, que organizou o inventário do pensamento contrarrevolucionário português, relembra-nos os autores que “…à refutação dos sofismos revolucionários dedicaram o melhor esforço da sua inteligência” (CAMPOS 1931-32).

O estudo sobre os jesuítas, desde o seu nascimento como Ordem religiosa até à atualidade, e em particular o fenómeno anti jesuíta estudado por José Eduardo Franco foi uma contribuição importante para a História e Antropologia religiosas da Europa Moderna e Contemporânea e em particular da História da Companhia de Jesus.

Para suportar todo o processo de investigação, tivemos a oportunidade única de trazer à luz do dia um espólio documental que se encontra no arquivo da Província Portuguesa da Companhia de Jesus em Portugal, e que consideramos ter sido um recurso de enorme relevo para a nossa pesquisa, no contexto da sua primeira utilização para pesquisa histórica.

Adicionalmente, o estudo de documentos inéditos como uma pequena obra elaborada por ex missionários jesuítas em 1834 que se encontra na biblioteca da revista Brotéria, desperta o interesse para este período de seis anos, período de profundas transformações no campo político, social e das mentalidades. 

Também na coleção privada da família Conefrey encontra-se um copiador, no qual se destaca um Requerimento escrito pelos habitantes de Coimbra (de ambas as fações políticas) ao governo do regente D. Pedro, dando conhecimento do não envolvimento dos missionários Jesuítas na política do país.

Destaca-se, inclusive, nos Reservados da Biblioteca Nacional de Portugal, um espólio documental relativo à correspondência trocada entre António Ribeiro Saraiva e diversas personalidades, como por exemplo, a Princesa da Beira, D. Maria Teresa, o Padre Provincial francês Godinot e o Duque de Cadaval, relativas ao assunto dos jesuítas em Portugal, revelando estes o interesse e preocupação das principais figuras do reino para com estes “homens de Deus”. Espólio composto por centenas de caixas e já estudado em parte por Maria Teresa Mónica.

Como resultado deste estudo, acreditamos ter cumprido o objetivo de evidenciar o alinhamento de D. Miguel e dos jesuítas no que respeita à fidelidade mútua às antigas tradições, e contribuir para a identificação de novas áreas de pesquisa no âmbito da temática em apreço.

(…)


Artigo completo em:

VEIGA, Francisca Branco, “D. Miguel e os jesuítas: fidelidade mútua às antigas tradições 1829-1834” . In Revista de História da Sociedade e da Cultura, vol. 21 (2021), pp. 217-240.

https://impactum-journals.uc.pt/rhsc/issue/view/539

A formação de um noviço da Companhia de Jesus no Noviciado da Cotovia (1616-1759)

[Pregação (Martins: Via Spiritus 11, 2004)].

Santo Inácio de Loyola reuniu em dois documentos toda a legislação jesuítica pela qual a Ordem se manteve una (corpo e mente): as Constituições e os Exercícios Espirituais, completando a primeira os segundos. A primeira cuida da vida em grupo, isto é, organiza a Companhia de Jesus e a vida dos seus membros, os segundos cuidam da parte espiritual e individual dos indivíduos.

Para o noviço da Companhia de Jesus a oração vocal e mental, a correcção dos hábitos, a assimilação dos valores da vida espiritual, assistir às instruções sobre a doutrina cristã e sobre a vida religiosa específica do instituto, fazem parte da sua formação de base.

O noviciado vai estruturar-se, basicamente, à volta de seis experiências/provações que se consideram principais (Const. 64-70) e que constituem “tempos fortes” de aprofundamento e confirmação da vocação:

primeira, um mês de Exercícios Espirituais que dão ao jesuíta a base e estrutura que orientará a sua vida espiritual e vão ser uma verdadeira escola de oração, de identificação com Cristo, de busca e acolhimento da vontade de Deus;

a segunda, será servir em hospitais durante outro mês, onde vão ser chamados a ajudar nos trabalhos, a servir e a conviver com os doentes – uma oportunidade para ter contacto com a realidade do sofrimento, bem como desenvolver a capacidade de abertura, de relação e de solidariedade, vão baixar-se e humilhar-se;

a terceira consiste num mês de peregrinação, sem dinheiro e mendigando, a fim de se habituarem a comer e a dormir mal. É um tempo para descobrir o valor do essencial na vida e deixar amadurecer a confiança na providência divina. O colégio de Coimbra ainda mantém o registo dos Avisos para os peregrinos, que são conselhos de vida espiritual destinados aos peregrinos;

as outras três experiências são, exercer ofícios domésticos para se humilhar, ensinar a doutrina cristã e confessar e predicar, consoante os tempos, os lugares ou a sua própria capacidade.

Trata-se, por tanto, de provar com estas experiências se a atitude e disposição do noviço está de acordo com a vida em missão na Companhia de Jesus além de criar no noviço atitudes correspondentes a um apóstolo evangélico.

No fim do noviciado, passadas todas as provações vão entregar-se, de acordo com as suas aptidões e talentos, às várias ocupações que a Companhia de Jesus lhes proporciona: estudo e lides literárias; serviço doméstico; Ministérios sacerdotais[1].

[Ministérios da Companhia de Jesus (Martins: Via Spiritus 11, 2004)].

O Padre António Franco no seu livro Imagem da Virtude em o Noviciado da Companhia de Jesu na Corte de Lisboa, refere o fim dos noviços da Cotovia:

«…o Padre lhe reprezentou esta caza, declarou o fim, pêra que se fundava, o qual era criaremse nella sugeytos, que fossem estudar aos collegios, e depois se repartissem pellas missoens da India, China, Japaõ, e outras da gentilidade, pêra pregar o Evangelho; donde resultava a Deos grande gloria, e augmento à fe Catholica»[2].

Faz referência às missões como «…o seu dia de allivio…»[3].


[1] Rodrigues, Francisco, História da Companhia de Jesus na Assistência de Portugal, Porto : Liv. Apostolado da Imprensa, 1931- ,  T.I, v. I, p. 506.

[2] FRANCO, António, Imagem da Virtude em o Noviciado da Companhia de Jesu na Corte de Lisboa, Coimbra : no Real Collegio das Artes da Companhia de Jesu, 1717,  p.14.

A.N.T.T., Colecção do Colégio dos Nobres, Liv. 187, CAPº 3

[3] FRANCO, António, Ibidem, p.8.

Através de um grande esforço de aproximação, do fomento do intercâmbio científico e de uma missionação empenhada, os missionários Portugueses da Companhia de Jesus desempenharam um papel importante, a partir dos finais do século XVI e, em especial, durante o século XVII, na aproximação cultural entre Portugal e a China. Alguns destes missionários da Companhia de Jesus foram nomeados Mandarins pelos Imperadores da China como recompensa pelos seus méritos científicos e pedagógicos, entre eles: Padre Gabriel de Magalhães, Padre Manuel Dias Júnior, Padre Tomás Pereira, Padre João Francisco Cardoso, Padre André Pereira, Padre Domingos Pinheiro, Padre Félix da Rocha, Padre José de Espinha, Padre André Rodrigues. In VEIGA, Francisca M.C. Branco, Astrónomos Portugueses na China, Mestrado em Património Cultural de Matriz Cristã pela Universidade Católica Portuguesa, Cadeira de Museologia, 2006.

Veja-se, inclusive, VEIGA, Francisca Branco. Noviciado da Cotovia: O Passado dos Museus da Politécnica 1619-1759. Dissertação (Mestrado em Património Cultural) – Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2009.

Jesuítas Matemáticos Portugueses no Império da China (século XVI-XVIII)

Post comemorativo das 50 publicações do blogue

Nos séculos XV e XVI desenvolveram-se em Portugal os meios técnicos necessários que possibilitaram as grandes navegações, as quais, por sua vez, vieram a permitir progressos científicos notáveis nos mais variados domínios, com destaque para a Náutica, a Cartografia, a Construção Naval, a Medicina e a Botânica.

As viagens dos Descobrimentos obrigaram os portugueses a considerar o regime dos ventos e das correntes no Atlântico e a desenvolver a náutica astronómica, isto é, a capacidade de conhecer a posição aproximada dos navios em alto mar.

Para esse feito utilizaram-se instrumentos de observação astronómica como o quadrante e o astrolábio náuticos ou ainda a balestilha, que permitiam determinar a altura de um astro sobre o horizonte e dessa forma calcular a latitude do lugar onde se realizava a observação.

Lisboa tornou-se no centro de intercâmbio científico entre os Colégios Europeus e as missões orientais.

Quase todos os professores que passaram por Lisboa estudaram no Colégio Romano, acompanhando de perto as grandes descobertas e as grandes polémicas científicas da época.

Os mais preparados davam aulas no Colégio de Santo Antão e traziam as novidades científicas mais recentes.

Conteúdos ensinados no Colégio Santo Antão-o-Novo
Fotografia: Francisca Branco Veiga

Entrada dos Matemáticos no Império da China

Três dos Imperadores da Dinastia Qing
Imperador Kangxi
Imperador Yongzheng
Imperador Qianlong
Palácio Imperial da Dinastia Qing em Shenyang, com  114 edifícios, construídos entre 1625-26 e 1783. 

Através de um grande esforço de aproximação, do fomento desse intercâmbio científico e de uma missionação empenhada, os missionários portugueses da Companhia de Jesus desempenharam um papel importante a partir dos finais do século XVI e, em especial, durante o século XVII, na aproximação cultural entre Portugal e a China.

Na China, todos os nobres, incluindo os imperadores, se espantavam com as novas ideias ocidentais. Mais importante, a explicação exata da regularidade astronómica e do calendário foram algumas das eficazes ferramentas simbólicas que ajudaram o governo Qing a estabelecer o poder no país.

No dia 1 de agosto do 1º ano do reinado de Shun Zhi (1644 AD), o calendário tradicional chinês (Calendário Dai Tong) foi declarado inexato.

Adam Schall (1591 – 1666) astrónomo e matemático, fez a sugestão ao Imperador de que calculasse o calendário usando os novos instrumentos astronómicos ocidentais que foram logo feitos entrar no Palácio Qing pelo portão principal.

Retrato do jesuíta alemão Johann Adam Schall von Bell (1592–1666),
missionário na China (dinastias Ming e Qing) de 1622 até sua morte em 1666.

No ano seguinte, o governo Qing revelou ao público o “Calendário Shi Xian” que tinha sido estabelecido por Adam Schall, a quem foi atribuído o título de “Tou Xuan” (Mestre) pelo Imperador Shun Zhi.

Ferdinand Verbiest (1623 – 1688) recorreu a um quadrante, um sextante, um altazímute, um nível equatorial e outros instrumentos ocidentais, reproduzidos das ideias de Kepler, para calcular com exatidão o primeiro dia da Primavera. 

Ferdinand Verbiest foi nomeado para tratar dos assuntos do “Qin Tian Jian” (Tribunal das Matemáticas) e encarregou-se prontamente de desmantelar o Observatório Astronómico de Pequim, que incluía equipamento das anteriores dinastias Yuan e Ming, substituindo tudo por avançados instrumentos produzidos sob a sua direção.

Um retrato de Ferdinand Verbiest (9 de outubro de 1623 – 28 de janeiro de 1688),
missionário jesuíta flamengo na China durante a dinastia Qing.

Portugueses no Tribunal das Matemáticas

Observatório Astronómico de Pequim,
gravura do século XVIII

Entre 1583 e 1805, portugueses presidiram, em Pequim, ao célebre Tribunal das Matemáticas – uma espécie de Ministério do Interior encarregue de elaborar o Calendário Imperial e que empregava 150 a 200 funcionários.

Sobre a atividade científica dos portugueses em Pequim escreve Francisco Rodrigues:

“Matheus Ricci, auxiliado pela dedicação de tantos portugueses como Duarte Sande, António de Almeida, Francisco Cabral, João Soeiro, João da Rocha, Gaspar Ferreira e Manuel Dias, sénior, chegou a gozar de tamanha reputação pela sua ciência que julgava a sua permanência segura no Celeste Império.”

Menos de dois anos antes da sua morte (1610), escrevia com satisfação neste sentido:

“Sobretudo pelos mapas e livros que estampámos, da nossa Matemática e pelas muitas novidades nesta matéria, até hoje desconhecidas da China e por nós ensinadas, nos dão o maior crédito em assuntos matemáticos e nos guardam respeito extraordinário, O que porém mais os impressiona, por ser cousa nunca ouvida entre eles desde que há memória, é o terem vindo à China estrangeiros, que lhes possam ser mestres em todas as ciências com tão grande superioridade.”

Alguns portugueses Presidentes do Tribunal das Matemáticas

Gabriel de Magalhães – An Wensi, Jingming

Manuel Dias Júnior – Yang Manuo, Yenxi

Tomás Pereira – Xu Risheng, Yingong

João Francisco Cardoso – Mai Dacheng, Ershang

Félix da Rocha – Fu zoulin, Lisi

André Rodrigues – An Guoning, YongKang

O jesuíta Tomás Pereira jaz agora nos jardins da embaixada portuguesa em Pequim.
Trata-se de um desenho do relógio que Tomás Pereira fabricou para a torre de uma igreja, em Pequim.
Introduziu no interior da torre um tambor com espigões, semelhantes aos das caixas de música, que acionavam arames ligados aos badalos de um carrilhão o qual, a todas as horas, tocava músicas tradicionais chinesas.

Vários mandarins chineses aconselharam os astrónomos portugueses a adotarem o traje dos letrados chineses, pois passariam a usufruir do estatuto dos Letrados, o que reforçaria grandemente a sua posição e credibilidade tanto junto dos mandarins como junto das populações.

Traje do Astrónomo chinês em 1675

Portugal – China: Encontro de Culturas

Através de um grande esforço de aproximação, do fomento do intercâmbio científico e de uma missionação empenhada, os missionários portugueses da Companhia de Jesus desempenharam um papel importante, a partir dos finais do século XVI e, em especial, durante o século XVII, na aproximação cultural entre Portugal e a China.

Alguns destes missionários da Companhia de Jesus foram nomeados mandarins pelos Imperadores da China como recompensa pelos seus méritos científicos e pedagógicos. Entre eles destacamos: Padre Gabriel de Magalhães; Padre Manuel Dias Júnior; Padre Tomás Pereira; Padre João Francisco Cardoso; Padre André Pereira; Padre Domingos Pinheiro; Padre Félix da Rocha; Padre José de Espinha; Padre André Rodrigues.

NOSSA SENHORA DA ROCHA E A COMPANHIA DE JESUS NO REFORÇO DA LEGITIMAÇÃO DE D. MIGUEL

1829 – 1834

Durante o vintismo, assistiu-se a um avolumar do movimento beato, valorizando-se o culto mariano, o do Santíssimo Sacramento, bem como a confissão e a comunhão frequentes, a assistência à missa e a obtenção de indulgências. Para além de se encontrar inserido no aumento das práticas devocionais que tinham marcado os últimos tempos do Antigo Regime, este aumento da religiosidade vai ser aproveitado pela contrarrevolução.

Assim, a «milagrosa aparição» de uma imagem de Nª Sr.ª da Conceição da Rocha numa gruta de Carnaxide, em finais do mês de maio de 1822, desperta um novo movimento devocional que vai ser aproveitado pelos contrarrevolucionários, que o apresentam como um sinal precursor da queda próxima do sistema constitucional. Diz o republicano e maçon Faustino da Fonseca:

“A Senhora Apparecida vinha como castigo aos pedreiros livres, para, em nome de Deus, livrar Portugal da terrivel seita dos maçons, da sua obra monstruosa, a constituição. Fizeram-se romarias, em que Carlota Joaquina, D. Miguel, e a alta roda tinham o primeiro logar. A imagem recebeu esmolas valiosíssimas, que os absolutistas, no interesse politico, e os crédulos, na sua ilimitada ingenuidade, levavam-lhe em pomposas romarias, velas acesas, entoando cânticos. Carnaxide tornou-se o ponto de reunião dos adversários do regímen liberal e o foco das conspirações, porque ahi podiam encontrar-se fóra da vigilância da policia. A Senhora da Rocha era a bandeira da nova cruzada”[1]

Continuando, asseverava:

“Podiam lá admitir um pacto constitucional, eles que tinham feito depender da intervenção da Senhora da Conceição da Rocha, de outros santos passeiados em triumpho, a queda do infame regímen, filho da revolução de 1820?”[2]

Na opinião de outro liberal, Joaquim Martins de Carvalho, «como elemento contra o partido liberal foi inventada em 1822 a Senhora da Conceição da ROCHA». Refere o redator do Conimbricense que,

 “As cartas que os jesuítas escreviam de Portugal para França, quando estiveram neste paiz nos anos de 1829 a 1834, acham-se cheias de historias, e referencias á Senhora da Conceição da ROCHA, por onde se mostra largamente o quanto os jesuítas, ligados com D. Miguel e os seus partidários, faziam dessa invocação um instrumento da politica absolutista”[3]

Também Manuel Borges Grainha se refere a esta ligação D. Miguel – Nª Sª da Rocha – Jesuítas:

“Os Jesuítas, apoiados por D. Miguel, exploram escandalosamente a devoção pela imagem por imaginários milagres que atraíam ao local numerosas peregrinações de fiéis. Ia-se ao ponto de proclamar que a aparição da imagem representava a certeza da dominação absoluta de D. Miguel”[4]

Exemplo disto é a carta de 24 de setembro de 1829, do Padre Delvaux ao Padre Varlet, que se encontrava no Colégio em Passage, descrevendo o aparecimento da imagem numa gruta de Carnaxide, e mostrando a sua importância na intervenção política sobre o povo, instigando este contra os ideais liberais:

“Les bons Portugais lui attribuent le retour de leur roi. Ils ne cessaient de l’invoquer, pour lui, pendant sa longue absence, aussi l’un de ses premiers soins en arrivant fut d’aller se jeter à ses pieds. Que les conseils de Dieu, que sa miséricorde sont admirables! Un peu d’argile, une petite bonne vierge, grande comme celle des pupitres de vos enfants! O sagesse humaine, où êtes vous?  Cependant il est três-vrai que notre senhora da Rocha a fait reculer la révolution en 1823, au jour même de l’événement de son apparition; qu’elle a fait plus de miracles en Portugal qu’il n’en avait fallu pour y planter la foi”[5]

Em 1825 a Novena da Milagrosa Imagem da Senhora da Conceição da Rocha fazia uma leitura política deste “aparecimento”[6]. A descoberta desta imagem numa gruta em Carnaxide, para além de ter sido considerado um fenómeno milagroso por ser a aparição da mãe de Deus junto dos homens, representou o milagre anunciado da queda da Constituição, que se verificou em maio de 1823 por intervenção do infante D. Miguel, que através de um golpe militar derrubara as primeiras Cortes liberais em Vila Franca, restaurando os direitos de seu pai enquanto rei absoluto. Na Dedicatória desta Novena, Fr. Cláudio da Conceição referia diretamente os benefícios feitos a Portugal por intermédio do aparecimento da imagem da Virgem em Carnaxide, «nos dias em que ele se viu coberto da sua maior humilhação», e aos portugueses «quando eles se achavam mais aflitos e atribulados, atemorizando os seus perseguidores, pressagiando grandes vantagens», e por fim «fazendo o triunfo de Portugal, o triunfo da Monarquia e o triunfo da Religião»[7]. Exaltando a Religião Cristã, ele advertia:

 “… se nada pode subsistir sem Religião, se a Sociedade, a Patria, os Magistrados, o Sacerdocio, e até o mesmo Soberano não podem estar seguros sem Religião, porque os Revolucionarios de todos os tempos, e em todas as Nações forão sempre homens sem Religião, sigamos, sigamos os dictames desta mesma Santa Religião; porque deste modo o Povo Portuguez, estando firme na sua Crença, he agradável a Deos, he temível aos homens, sendo bons Catholicos, são bons vassalos, taes os exige a Religião, taes os necessita o Estado”[8].

Entronizada após a Vilafrancada como padroeira da «feliz Restauração» e defensora do Trono e do Altar, torna-se símbolo da vitória sobre os liberais, levando toda a família real a se deslocar à Sé de Lisboa a 23 de junho de 1823 para, solenemente, lhe agradecer a sua proteção[9].

D. Miguel, imagem da Vilafrancada, defensor do absolutismo e líder da contrarrevolução conjuntamente com a sua mãe, a rainha Carlota Joaquina, torna-se seu fiel e particular devoto. Mais tarde foi, inclusive, feita uma estampa de contornos populares representando-o a ele e a duas das suas irmãs em oração na Sé diante da imagem, agradecendo o restabelecimento de uma lesão numa perna provocada por uma queda[10].

Como defensor da união entre o Trono e o Altar, o Padre Delvaux, Superior da missão jesuíta portuguesa, partilhava:

“Cependant il est três-vrai que notre senhora da Rocha a fait reculer la révolution en 1823, au jour même de l’événement de son apparition; qu’elle a fait plus de miracles en Portugal qu’il n’en avait fallu pour y planter la foi”[11].

Um ano depois da Vilafrancada, com o pretexto de combater uma conspiração maçónica de que afirmava ser alvo o rei e toda a família real, invocando a proteção de Nossa Senhora da Rocha tenta um novo golpe militar, o qual falhou (Abrilada)[12]. Segundo o Padre Delvaux, D. Miguel terá mandado gravar a imagem de Nossa Senhora da Rocha dentro de um Coração de Jesus, distribuindo-a no dia 30 de abril de 1824 pelos seus apoiantes em armas, a quem se dirigiu referindo a grande confiança que nela depositava[13].

Em fevereiro de 1828, D. Miguel regressa do exílio a que tinha sido forçado após a Abrilada. O momento da sua chegada foi assinalado com festas consagradas à Virgem da Rocha em freguesias dos arredores de Lisboa como Benfica, Porcalhota e na própria Carnaxide[14].  Esta imagem reforçava a ideia de que a Nª Sª da Rocha de Carnaxide consagrava a legitimação sagrada do poder miguelista, tornando a causa da religião inseparável da causa do rei[15]. E em carta de dezembro de 1830 escrevia o Superior da Missão Portuguesa para França ao Padre Gury sobre uma superstição popular que “exploravam” em Carnaxide:

“… je vous ai parlé de Nossa Senhora da Rocha, c’est le salut du Portugal; et pour nous il est bien consolant de voir que le bon Dieu semble avoir destiné notre petite Compagnie à exploiter, si je puis parler de la sorte, de plus en plus cette dévotion dans le royaume et à son profit. Vous avez vu comment cette bonne petite Mère (vous savez que sa statuette a seulement quelques pouces de haut) a daigné protéger nos Pères à la mission de Carnaxida”[16]

A utilização da palavra exploiter pelo Padre Delvaux foi aproveitada pelo redator do jornal O Conimbricense, que associou a expressão ao «fanatismo em proveito do partido miguelista»[17]. Refere Joaquim Martins de Carvalho que,

 “As cartas que os jesuítas escreviam de Portugal para França, […], acham-se cheias de historias, e referencias á Senhora da Conceição da Rocha, por onde se mostra largamente o que os mesmos jesuítas, ligados com D. Miguel e os seus partidários, faziam d’essa invocação um instrumento da politica absolutista”[18]

Foi publicado na Gazeta de Lisboa do dia 19 de março de 1833, já em plena Guerra Civil, uma ordem do Cardeal Patriarca para que se conduzisse a «milagrosa» imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, que se achava na Basílica de Santa Maria, em procissão até à Igreja de S. Roque, antiga Igreja e Casa de Provação da Companhia de Jesus, sede da Ordem em Portugal entre 1565 e1759, onde deveria passar alguns dias exposta aos fiéis e em agradecimento por ter salvo a cidade da epidemia que tinha assolado Portugal nos últimos anos. D. Frei Patrício, crente da Senhora da Rocha, evocava que existia uma linha de continuidade entre o tempo do seu aparecimento (com D. João VI) e o atual (com D. Miguel):

 “Meus amados filhos (…) recordemo-nos ao menos da época não muito remota em que comecámos a tributar-lhe culto (à Virgem Maria) debaixo do título dessa venerável imagem, quando a Providência dispôs que de descobrisse no seio de uma rocha (…) Ela foi o sinal maravilhoso que anunciou o termo da execranda rebelião que então maquinava a ruína desta Monarquia (…). Invocada agora debaixo desse mesmo título e como Padroeira destes reinos (…) ela fará brilhar a mesma virtude e todo o seu poder em favor da Nação aflita contra outros rebeldes que a oprimem”[19]

A derrota dos miguelistas no fim da Guerra Civil e a expulsão de D. Miguel do reino em 1834 retirou a simbologia a esta imagem da Virgem que os políticos e eclesiásticos quiseram transformar em «padroeira da contrarrevolução».


[1] FONSECA, Faustino da – El-Rei D. Miguel, p. 79.

[2] Ibidem, p. 227.

[3] O Conimbricense, nº 3772, de 9 de outubro de 1883.

[4] GRAINHA, Manuel Borges – História da franco-maçonaria em Portugal, p. 112.

[5] Carta do Padre Delvaux ao Padre Varlet, Collége du Passage. Lisboa, 24 de setembro de 1829. In CARAYON, Auguste – Documents inédits concernant la Compagnie de Jésus, vol. XIX, p. 168.

[6] Em 1825 editou-se, em Lisboa, na Imprensa Régia, um opúsculo intitulado Novena da Milagrosa Imagem da Senhora da Conceição da Rocha que oferece Fr. Cláudio da Conceição. Padre Arrábido, pregador régio e cronista do reino, responsável pela obra Gabinete Histórico, que começou a ser publicada em 1818 e cujo vol. IX, datado de 1823, narra os factos que, em maio de 1822 inauguraram em Portugal o culto a uma nova invocação da Virgem, Nossa Senhora da Conceição da Rocha de Carnaxide. In Novena da Milagrosa Imagem da Senhora da Conceição da Rocha que à mesma oferece Fr. Cláudio da Conceição. Lisboa: Na Imprensa Régia, 1825.

[7] Ibidem, pp. III-V.

[8] Ibidem, p. XV (Advertencia).

[9] LOUSADA, Maria Alexandre; FERREIRA, Maria de Fátima Sá e Melo – D. Miguel. Mem Martins: Círculo de Leitores, 2006, pp. 42-43.

[10] El-Rei D. Miguel I e as suas augustas irmãs orando a Nossa Senhora da Rocha. Lisboa: José Augusto Amaral Frazão Vasconcelos, 1910.

[11] Carta do P. Delvaux ao Padre Varlet, Collége du Passage. Lisboa, 24 de setembro de 1829. In CARAYON, Auguste – Documents inédits concernant la Compagnie de Jésus, vol. XIX, p. 168.

[12] SILVA, Armando Barreiros Malheiro da – Miguelismo. Ideologia e Mito. Coimbra: Minerva História, 1993, pp. 257-258, segundo o jesuíta francês, o Padre Delvaux.

[13] Note sur Don Miguel roi de Portugal. In CARAYON, Auguste – op. cit., p. 502.

[14] FAVINHA, M.E.M.; SOUSA, S.M.A. – “Comemorações político-religiosas do centenário de Nossa Senhora da Rocha na imprensa periódica portuguesa (1822/1922)”. In Cultura: Revista de História e Teoria das Ideias, 9, 1997, p. 396.

[15] Carta do Padre Hippolyte Moré ao Padre Brumauld. Lisboa, 22 de novembro de 1832 (no Coleginho da Graça): “Quand nous sommes arrivés on faisait une neuvaine à Notre Senhora da conceiçao da Rocha pour la conservation de notre bon Roi don Miguel et pour l’heureux succès de la guerre”. In CARAYON, Auguste – Documents inédits concernant la Compagnie de Jésus: Notes historiques, vol. X, pp. 32-45; ARCHIVE PROVINCE FRANCE COMPAGNIE DE JÉSUS (APFCJ), DELVAUX, Philippe- Joseph (1787/1865), Ms. H, DEL 1, Pasta 6 Mission du Portugal (1829/1830), Lisbonne, 24 Septembre 1829 – Relatorio do P. Delvaux sobre a chegada a Portugal (Carta do Padre Delvaux ao Padre Varlet, Collége du Passage. Lisboa 24 de setembro de 1829).

[16] Carta do P. Delvaux ao R.P. Gury, em Lyon.  Lisboa, 24 de dezembro de 1830. In CARAYON, Auguste – Documents inédits concernant la Compagnie de Jésus, vol. XIX, p. 276.

[17] O Fanatismo Religioso como Elemento Político. In O Conimbricense, nº 3772, de 9 de outubro de 1883, p.1.

[18] Ibidem.

[19] Gazeta de Lisboa, nº 67, 19 de março de 1833 (escrita no dia 18 de março).

Nossa Senhora da Rocha
Foto: Francisca Branco Veiga; Pedro Branco Veiga
Nossa Senhora da Rocha
Foto: Francisca Branco Veiga; Pedro Branco Veiga

Santuário de Nossa Senhora da Rocha
Localizado no vale do Jamor, em Linda-a-Pastora (concelho de Oeiras).
El-Rei D. Miguel I e as suas augustas irmãs orando a Nossa Senhora da Rocha.
Lisboa: José Augusto Amaral Frazão Vasconcelos, 1910.
Local onde se encontra a imagem de Nossa Senhora da Rocha
Igreja do Santuário (interior)
Acesso à gruta onde apareceu a imagem da Virgem
Acesso à gruta onde apareceu a imagem da Virgem
Gruta onde apareceu a imagem da Virgem
Mantos para Nª Sª da Rocha bordados pelas mãos de duas princesas portuguesas
Foto: Francisca Branco Veiga; Pedro Branco Veiga

31 julho 1833, D. PEDRO DÁ ORDEM DE EXPULSÃO AOS MISSIONÁRIOS JESUÍTAS DE LISBOA

No dia 31 de julho, dia de Santo Inácio de Loiola, foram obrigados a sair do Colégio de Santo Antão-o-Velho alguns padres e irmãos jesuítas que se encontravam em Portugal desde 13 de agosto de 1829.

Com a entrada de D. Pedro em Lisboa, no dia 28 de julho, a resposta foi uma descida dos juízes à casa de Santo António, com um grande aparato da cavalaria e infantaria. Recordava o P. Delvaux o porquê da dispersão tão rápida desta missão portuguesa da Companhia de Jesus:

“1º. Que Don Pedro était bien persuadé que nous n’étions en Portugal que des instruments de son frère, comme il conste par les moyens qu’il prit pour nous engager dans son propre parti, et par la défiance avec laquelle lui et les principaux agents de cette révolution arrivèrent armés contre la Compagnie.

 2º. Que le refus constant d’entrer dans les vues de l’empereur fondé uniquement sur l’esprit, la lettre et la pratique de notre Institut, ne faisait cependant que confirmer la créance à notre inviolable attachement à Don Miguel.

3º. Que les actes de celui-ci étant tous annulés par le nouveau gouvernement, nous retombions naturellement sous les arrêts de proscription du roi Joseph Ier[1]

Partiram para a Inglaterra num grande navio de comércio inglês. No dia 16 de agosto, desembarcaram no porto de Liverpool, sendo levados para o seminário de Stonyhurst . Outros, partiram no dia 4 de agosto num brigue genovês fretado pelo Núncio Apostólico, chegando a Génova no dia 17 do mesmo mês.

O ano de 1833 marcava o fim da Missão Jesuíta em Lisboa mas, no Colégio das Artes, em Coimbra, ainda ficavam 18 missionários, vindo a ser expulsos por D. Pedro no ano seguinte.


Inácio de Loyola, nascido Iñigo López de Oñaz y Loyola (Azpeitia, 31 de maio de 1491 — Roma, 31 de julho de 1556), foi o fundador da Companhia de Jesus.
Morreu em Roma em 31 de julho de 1556.
Foi canonizado a 12 de Março de 1622 pelo Papa Gregório XV. O seu dia é festejado a 31 de julho.

Santo Inácio de Loyola, autor desconhecido, século XVII
Exposição “Ver novas todas as coisas”
Museu de São Roque, Lisboa

[1] CARAYON, Auguste – Documents inédits concernant la Compagnie de Jésus, vol. XIX, 1866, pp. 444-445.

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