RETRATO DE FERNÃO TELES DE MENESES, Fundador do Noviciado da Cotovia (MNHNC)

Fernão Teles de Meneses.
@franciscabrancoveiga
Autor (es)
 Desconhecido
Datação
c. 1630-40
Proveniência
Noviciado da Cotovia
Inscrição: Maiúsculas, no canto inferior esquerdo:
FERNAN TELLES / DE MENEZES / FVNDADOR DES / TA CAZA DA PRO / VAÇAM DA COMPª / DE IHS

Pintura de aparato de Fernão Teles de Meneses, fundador do Noviciado da Cotovia, datada do século XVII (c. 1630–1640), de autoria desconhecida, possivelmente de origem espanhola. Proveniente da antiga sacristia da igreja do noviciado, encontra-se atualmente à guarda do MUHNAC.

A composição apresenta uma forte carga iconográfica associada ao período filipino, evidenciada, entre outros elementos, pela armadura filipina que enverga. Fernão Teles de Meneses empunha um bastão de comando, símbolo da sua função de Governador das Índias, enquanto a luva destacada remete para o seu cargo de Governador do Algarve. Ao peito ostenta a Cruz de Cristo, insígnia honorífica [1].

O fundo da pintura é composto por um cenário de aparato, onde se destaca uma mesa coberta com um manto ricamente bordado e um reposteiro, possivelmente em veludo, com pregas pronunciadas e pendentes decorativos. A tela parece articular os dois mundos da figura retratada: o do guerreiro e o do político.

Do ponto de vista pictórico, observa-se um certo desequilíbrio na execução: embora a generalidade da composição revele uma pintura de grande qualidade, as feições da figura central apresentam menor rigor técnico, o que poderá indicar a intervenção de mais do que um artista. A obra caracteriza-se ainda por um claro-escuro marcadamente intenso.

A moldura não é original, sendo provavelmente do século XIX. A pintura apresenta repintes e evidências de restauro em zonas da tela anteriormente rasgadas.

No canto superior esquerdo, encontra-se um escudo partido com as armas de Fernão Teles de Meneses e de sua esposa, D. Maria de Noronha: o primeiro esquartelado com leões altivos e campo liso (Teles de Meneses); o segundo com as armas do Reino, relativas à família Faro [2]

A pintura foi restaurada por Francisco Bueto (?), em 30 de junho de 1878 (AHMUL, Conta_Jul_1878_doc59).

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[1] Cruz de Cristo – História

Em todas as gravuras a imagem de Fernão Teles de Meneses exibe um medalhão da Ordem Honorífica que lhe foi atribuída e que lhe conferiu o grau de Comendador.

Origens na Ordem dos Templários

A Cruz de Cristo tem origem na Ordem dos Templários, uma ordem religioso-militar fundada no século XII com o propósito de proteger os peregrinos cristãos na Terra Santa.

Com a extinção da Ordem dos Templários pelo Papa Clemente V, em 1312, o rei D. Dinis procurou garantir a continuidade dos bens e da missão dos Templários em Portugal. Para isso, solicitou ao Papa a criação de uma nova ordem.

Criação da Ordem de Cristo (1319)

Em 1319, o Papa João XXII autorizou oficialmente a fundação da Ordem de Cristo em Portugal.

Esta nova ordem:

  • Herdou os bens e propriedades dos Templários em território português.
  • Adoptou a cruz vermelha, que viria a ser conhecida como Cruz de Cristo, como símbolo.

A Cruz de Cristo e os Descobrimentos

Durante os séculos XV e XVI, a Cruz de Cristo tornou-se um símbolo fortemente associado aos Descobrimentos Portugueses.

  • Era pintada nas velas das naus e caravelas, como as de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral.
  • Representava a fé cristã, o poder da Coroa Portuguesa e a missão evangelizadora das explorações ultramarinas.

Da Ordem Religiosa à Ordem Honorífica

Com o passar do tempo, a Ordem de Cristo ficou cada vez mais subordinada à autoridade real.

  • Em 1834, com a extinção das ordens religiosas em Portugal, a ordem foi secularizada.
  • Passou a ser usada como uma ordem honorífica do Estado, concedida a quem prestasse serviços relevantes à Nação.

Ordem Militar de Cristo (actualidade)

Hoje em dia, a Ordem Militar de Cristo é uma das Ordens Honoríficas Portuguesas, atribuída pelo Presidente da República.

É conferida a cidadãos (portugueses ou estrangeiros) que se tenham distinguido por:

  • Serviços relevantes prestados ao Estado Português.
  • Mérito nas áreas da administração pública, diplomacia, ou carreira militar.

Insígnia e Graus

Existem vários graus honoríficos, como: Cavaleiro, Oficial, Comendador, Grande-Oficial, e Grã-Cruz.

O símbolo da ordem é a Cruz de Cristo – uma cruz vermelha com braços em forma de flor-de-lis.

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[2] O seu brasão apresenta-se dividido verticalmente em duas partes. No lado esquerdo, ocupando o primeiro e o quarto quartel, figura um leão rampante. No lado direito, sete torres quadradas de ouro, lavradas a negro e dispostas em 3, 2, 2, preenchem o campo. Ao centro, encontram-se cinco escudetes azuis dispostos em cruz, cada um carregado com cinco besantes de prata colocados em sautor, todos inseridos num contorno. O fundo vermelho desta secção simboliza a vitória, a fortaleza e a ousadia.

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In VEIGA, Francisca Branco. Noviciado da Cotovia 1619-1759. Ed. Autor, 2025.

VEIGA, Francisca Branco, RETRATO DE FERNÃO TELES DE MENESES, Fundador do Noviciado da Cotovia (MNHNC) (blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [28 de maio de 2025].

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O Desaparecimento da “Assunção da Virgem” de Domingos da Cunha: Um Painel Perdido do Noviciado da Cotovia

Encontra-se em paradeiro desconhecido a pintura a óleo de grandes dimensões que adornava o altar-mor da igreja do Noviciado da Cotovia, da Companhia de Jesus, local onde atualmente se encontram o Museu Nacional de História Natural e da Ciência.

Assunção da Virgem. Pintura de Domingos da Cunha

Datada de 1635, a sua iconografia representa a Assunção da Virgem. Um manuscrito da Biblioteca Nacional de Portugal sobre a História de Lisboa refere que a Capela-mor da igreja deste noviciado jesuíta era notavelmente bem proporcionada e possuía no retábulo uma pintura da autoria do pintor Domingos da Cunha.

«…o lugar onde deveria estar a tribuna exibia um grande e belo painel que representa a subida da Virgem Senhora para o Céu, assistida pelos sagrados Apóstolos e pelos coros dos anjos, que a acompanham no seu triunfo. Obra de um religioso da mesma casa, que não só foi insigne na arte da pintura, mas também na virtude e perfeição religiosa…»[1]

Raul Lino, na sua obra Documentos Para a História da Arte em Portugal, regista um episódio significativo relacionado com o inventário e o sequestro de bens pertencentes à Casa do Noviciado de Nossa Senhora da Assunção da Cotovia. Este processo foi conduzido por ordem de Sua Majestade Fidelíssima e supervisionado pelo Real Erário, tendo a remessa e transferência dos bens ocorrido a 5 de outubro de 1759, no contexto da extinção da Companhia de Jesus em Portugal.

O documento detalha o espólio do altar-mor da referida Casa, que incluía um retábulo com a imagem da Senhora da Assunção, executada em pintura sobre madeira, adornado com cortinas de tela bordadas a ouro, evidenciando a riqueza decorativa da época[2].

A última referência a este painel foi feita por Gustavo de Matos Sequeira, em 1916, que informou que a referida pintura se encontrava, à data, numa arrecadação do último corredor norte do edifício do atual Museu Nacional de História Natural e da Ciência, juntamente com outros objetos do antigo noviciado, onde haviam sido depositados «…depois do incêndio de 1843»[3]. Já em 1936, Costa Lima não conseguiu localizá-la nesse sítio[4].

Neste painel, eram claramente visíveis as influências do seu mestre, Eugénio Caxés, dentro dos cânones naturalistas madrilenos, que, segundo Vítor Serrão, se evidenciavam «na agitação das formas barrocas da Virgem e da glória angelical, e na pose dos Apóstolos em contemplação, que rodeiam o túmulo em baixo, lembrando os da Assunção da Virgem de Eugénio Caxés (1618), no Mosteiro de Guadalupe, ou os da tela do Museo Cerralbo, em Madrid»[5].

A pintura Assunção da Virgem, de Domingos da Cunha, constitui não apenas um testemunho da excelência artística no seio da Companhia de Jesus no século XVII, mas também um vestígio simbólico de uma época marcante da história religiosa e cultural portuguesa. O seu percurso — desde o destaque no altar-mor do Noviciado da Cotovia até ao seu desaparecimento, na sequência da extinção da Ordem e do incêndio de 1843 — reflete as transformações operadas pela passagem do tempo, bem como as mudanças políticas, religiosas e patrimoniais que marcaram os séculos XVIII a XX. A perda desta obra, atualmente apenas documentada em fontes manuscritas e registos eruditos, sublinha a importância da preservação do património e da investigação histórica na reconstituição de memórias artísticas esquecidas. Embora o seu paradeiro continue por apurar, a memória desta pintura permanece viva como símbolo de uma arte devocional que serviu não só a fé e a doutrina, mas também os projetos espirituais e ideológicos da Companhia de Jesus.


[1] BNP, cód. 145 e 429, Capítulo XV, Da Casa do Noviciado da Companhia de Iesus, s.p.

[2] Raúl Lino, “Noviciado da Cotovia e Hospício de São Francisco de Borja [do] Arquivo do Tribunal de Contas”. In Raul Lino, [et al], Documentos para a história da arte em Portugal, vol. 4, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1969.

[3] Sequeira, Depois do terramoto, Lisboa: Academia das Sciências, 1916, pp. 252-254.

[4] J. da Costa Lima, “Para a identificação da obra do Mestre Cabrinha”, In Brotéria cultural, vol. XXIII, 1936, p. 29.

[5] Vítor Serrão, A pintura Proto-Barroca em Portugal, 1612-1657. Coimbra: [s.n.], 1992, p. 135.

A Piétà: Ícone de Dor e Esperança na Arte Sacra

Pietà, Igreja Matriz de Oeiras
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Na Igreja Matriz de Oeiras, repousa uma imagem que atravessa o tempo com um silêncio eloquente: a Piétà, representação da Virgem Maria acolhendo nos braços o corpo morto de Jesus, acabado de ser descido da cruz. A cena, embora não descrita em detalhe nos Evangelhos, tornou-se, ao longo dos séculos, um dos mais profundos ícones da arte sacra cristã.

Simbolicamente, a Piétà condensa o mistério da dor redentora. Maria, mãe e discípula, sustém o Filho com um olhar que carrega tanto o luto como a entrega. É a imagem da compaixão absoluta, da fé que permanece mesmo quando tudo parece perdido. Cristo, despojado de vida, torna-se sinal do dom total — a carne vencida que anuncia, paradoxalmente, a vitória sobre a morte.

Iconograficamente, esta composição remonta à espiritualidade medieval, desenvolvendo-se sobretudo a partir do século XIV, e ganhando formas mais humanizadas e dramáticas durante o Renascimento. A Piétà da Matriz de Oeiras inscreve-se nesta tradição, unindo sobriedade e expressão numa peça que não pretende apenas ser vista, mas venerada.

Durante a Semana Santa, a sua presença adquire um peso ainda mais denso. É então que os fiéis se aproximam deste mistério com o coração em silêncio, reconhecendo-se naquela dor e encontrando nela um caminho de esperança. A arte sacra, neste contexto, não é apenas ornamento — é meio de revelação. Ela fala ao espírito através da beleza, despertando-o para o invisível.

A Piétà é, assim, um espelho de fé: um momento suspenso entre a morte e a promessa, entre o humano que sofre e o divino que salva. Na sua quietude, ela continua a falar — a cada geração, a cada olhar que se detém diante dela.

Pietà de Michelangelo (Basílica de São Pedro no Vaticano)

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VEIGA, Francisca Branco, A Piétà: Ícone de Dor e Esperança na Arte Sacra (blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [10 de abril de 2025].

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Já conhece a história do Noviciado da Cotovia? Que aspetos da vida política/religiosa portuguesa do século XVII gostaria de explorar? Veja aqui 👇

Noviciado da Cotovia 1619-1759O Primeiro Noviciado da Companhia de Jesus na Província Portuguesa

Uma pesquisa apaixonada que convida a entrar no mundo do primeiro noviciado da Companhia de Jesus em Portugal.

Situado no local onde hoje se encontra o Museu Nacional de História Natural e da Ciência, este noviciado teve um papel decisivo na formação religiosa e académica jesuíta entre os séculos XVII e XVIII. Através do estudo do espólio preservado e das fontes históricas associadas, procurei reconstruir o passado deste edifício e da sua comunidade, explorando também o papel da Arte Sacra, tão presente na sua igreja e nos seus espaços.

Este trabalho oferece uma visão integrada da história, arquitetura, ensino e arte no Noviciado da Cotovia, inserindo as suas peças no contexto artístico da época e valorizando a memória cultural deste património muitas vezes esquecido.

Depois de anos de investigação apaixonada, sinto-me honrada por poder partilhar esta obra, na esperança de que proporcione uma leitura rica e envolvente a todos os que se interessam pela história de Portugal, pela arte religiosa e pelo património jesuíta.

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VEIGA, Francisca Branco, Noviciado da Cotovia 1619-1759 (blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [24 de Março de 2025].

O livro está disponível para aquisição em formato físico na Amazon, e convido todos a conhecerem esta parte fascinante da nossa história.

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Sala «das esferas» do Colégio de Santo Antão-o-Novo (atual Hospital de S. José)

Colégio da Companhia de Jesus

Cenas alegóricas alusivas às disciplinas que eram ensinadas no Colégio de Santo Antão. Sala «das Esferas». Atual Salão Nobre do Hospital de São José.
Fotografias: @franciscabrancoveiga

No Colégio de Santo Antão, em Lisboa, funcionou desde finais do século XVI até ao século XVIII uma Aula de Esfera pública, uma das mais relevantes instituições de ensino científico da época em Portugal.

Esta designação derivava dos tratados sobre “a esfera”, que tratavam dos princípios da cosmografia, fundamentais para a formação dos navegadores e estudiosos da época. A Aula de Esfera fazia parte do currículo jesuíta, que desempenhava um papel central na educação científica e na formação de elites portuguesas, em especial nos domínios da matemática aplicada à navegação, cartografia e astronomia.

Disciplinas ensinadas na Aula de Esfera:

  • Arte de Navegar – estudo dos métodos de navegação, incluindo o uso de instrumentos náuticos como o astrolábio, o quadrante e a balestilha.
  • Geografia e Hidrografia – exploração e descrição dos continentes, oceanos e rotas marítimas, com especial enfoque nas possessões ultramarinas portuguesas.
  • Cosmografia, construção e uso de globos – conhecimentos sobre a forma da Terra e a representação cartográfica do mundo conhecido.
  • Astrologia Judiciária / Astrologia Prática – estudo da influência dos astros sobre os acontecimentos terrestres e a sua aplicação à navegação e ao planeamento de expedições.
  • Geometria – fundamental para a formação dos alunos que ingressavam na carreira militar, permitindo o domínio da engenharia e da balística.
  • Astronomia – estudo do movimento dos astros e da sua aplicação à navegação astronómica.
  • Matemática aplicada à cartografia e navegação – cálculo de latitudes, longitudes e projeções cartográficas.
  • Física e mecânica – princípios fundamentais para a compreensão da balística e do funcionamento de máquinas e instrumentos científicos.

Os alunos da Aula de Esfera pertenciam a três grandes grupos:

  1. Futuros especialistas em navegação e cartografia, que serviriam a Coroa portuguesa na exploração e administração das possessões ultramarinas.
  2. Jovens nobres aspirantes à carreira militar e às conquistas coloniais, que necessitavam de conhecimentos em geometria, balística e estratégia militar.
  3. Missionários, que partiam para territórios ultramarinos e necessitavam de formação científica para desempenharem o seu papel na evangelização e no contacto com civilizações estrangeiras.

A Aula de Esfera do Colégio de Santo Antão desempenhou um papel central na cultura científica portuguesa do século XVII. Era a única instituição em Portugal onde se ensinavam ciências ligadas à Matemática com um caráter tão prático e aplicado. O seu ensino estava diretamente relacionado com os interesses expansionistas da Coroa e com a necessidade de manter a liderança portuguesa na navegação e na exploração marítima.

Muitos dos homens que se distinguiram na cartografia, na astronomia e na administração dos territórios ultramarinos passaram por esta instituição. Lisboa era, à época, um ponto de encontro para intelectuais e cientistas europeus a caminho da Ásia e das Américas, e os mais preparados entre eles contribuíam para o ensino na Aula de Esfera, introduzindo os mais recentes avanços científicos.

Professores notáveis da Aula de Esfera:

  • Giovanni Paolo Lembo (G.P. Lembo) – astrónomo jesuíta italiano, colaborador na construção de instrumentos de observação astronómica.
  • Cristóvão Galo – matemático e estudioso da cartografia e navegação.
  • Simão Fallónio – especialista em astronomia e geografia.
  • Valentim Estancel – professor de matemática e cosmografia.
  • Inácio Vieira – destacado estudioso da astronomia e seus usos na navegação.
  • Francisco da Costa – mestre em astrologia e cosmografia.
  • João Delgado – professor de geometria e balística.
  • Cristóvão Griemberger – astrónomo e matemático.
  • Francisco Machado – cartógrafo e especialista em construção de globos.
  • Sebastião Dias Cristóvão Galo – matemático e estudioso da arte de navegar.
  • Inácio Stafford – especialista em astrologia prática e judiciária.
  • Luís Gonzaga – professor de física e mecânica aplicada à navegação.

Devido à falta de espaço e ao crescimento do ensino jesuíta em Lisboa, o Colégio de Santo Antão na Mouraria foi substituído, a 8 de novembro de 1593, por um novo espaço, denominado Colégio de Santo Antão-o-Novo, situado no local onde atualmente se encontra o Hospital de São José.

O atual Salão Nobre do Hospital de São José, também conhecido como Sala das Esferas, era a antiga aula magna do colégio jesuíta de Santo Antão-o-Novo. Esta sala mantém uma rica decoração, incluindo oito painéis de azulejos representando cenas alegóricas das disciplinas ensinadas no Colégio de Santo Antão. Entre as disciplinas representadas destacam-se:

  • Óptica
  • Geografia
  • Geometria
  • Balística
  • Astronomia
  • Mecânica
  • Navegação
  • Cartografia

A Aula de Esfera foi um pilar fundamental da ciência náutica e matemática em Portugal, contribuindo para o prestígio dos navegadores portugueses e para o avanço do conhecimento geográfico e astronómico durante a Época dos Descobrimentos.

Colégio de Santo Antão-o-Velho (Coleginho),
Mouraria, Lisboa
Colégio de Santo Antão-o-Novo em 1836, em desenho de Luís Gonzaga Pereira

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VEIGA, Francisca Branco, Sala «das esferas» do Colégio de Santo Antão-o-Novo (atual Hospital de S. José) (blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [17 de Fevereiro de 2025].

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Igreja do Loreto: primeiro sermão dos Jesuítas em Portugal (7 de março de 1830)

No dia 7 de março de 1830 aconteceu o primeiro sermão dos novos missionários realizado na igreja do Loreto com a presença do rei D. Miguel e das suas irmãs, do Patriarca de Lisboa e do Arcebispo de Petra, com grande assistência. Este momento foi reproduzido na Gazeta de Lisboa do dia seguinte:

“…Igreja de Nossa Senhora do Loureto desta Corte, ouvir o Sermão de Missão, que pela primeira vez alli pregou hum dos Padres Jesuítas, que se achão nesta Capital, (e cuja Missão continuão estes Padres na mesma Igreja). […] e pouco depois começou o Míssionario o seu discurso expressando-se já em Portuguez claro, e com unção e energia próprias do Apostólico zelo, que anima estes venerandos Padres, por espaço de huma hora, em hum púlpito maior que os usuaes para esse fim alli disposto”[1]

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Entre as personagens célebres que estiveram nesta Igreja contam-se o Padre António Vieira (1676); o Rei D. João VI, a Rainha e sua corte; o seu filho, D. Miguel e as suas irmãs; ou o Núncio Apostólico Alexandre Justiniani.

O apoio dado pelos Duques de Lafões e Cadaval e pelo Núncio apostólico a esta missão foi um passo muito importante para que a empresa, levada a cabo pela missão jesuíta, se confirmasse aos olhos de todos. No dia 25 de março o P. Delvaux escrevia ao P. Druilhet, que se encontrava no Collége du Passage (no norte de Espanha), descrevendo todos os momentos inerentes a este momento, os apoios, os medos, a força e receios dos amigos.

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O fresco do teto é do pintor Pedro Alexandrino (nasceu em 1729, em Lisboa, e faleceu em 1810, na mesma cidade)[A].

Conta o P. Delvaux: “Les deux familles qui nous sont le plus cordialement attachées sont celles de Lafoens et de Cadaval; c’ est de là surtout que nous venaient les avis pleins dû plus tendre intérêt”[2].

Foi o próprio duque de Cadaval que avisou o P. Barrelle para que no seu discurso, na Igreja do Loreto, agradecesse ao rei o restabelecimento da Companhia de Jesus, tornando, deste modo, o assunto como um ato consumado e aprovado pelo próprio monarca.

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No altar-mor encontra-se a imagem da padroeira Nossa Senhora do Loreto.
A estátua tricentenária, é esculpida em madeira escura de cedro do Líbano, e é uma cópia da estátua de Nossa Senhora do Loreto que se venerava na Santa Casa do Loreto, em Itália.

A presença da família real (D. Miguel, a rainha-mãe D. Carlota Joaquina e as suas filhas) nesta igreja, e no dia do primeiro sermão dos missionários jesuítas, tornou claro o apoio dado pelo rei ao restabelecimento da Companhia de Jesus em Portugal. 


[1] Gazeta de Lisboa, nº 58, de 9 de março de 1830.

[A] Conhecido como pintor dos frades, pelas suas obras de índole religiosa. Da sua vasta obra, destacam-se os quadros S. Cristóvão e O Salvador do Mundo, patentes na Sé Catedral de Lisboa e os notáveis trabalhos das pinturas dos tetos, em “trompe l’oeil”,  da capela do Palácio da Bemposta. Em 1785, Pina Manique nomeou-o um dos diretores da Academia do Nu

[2] Carta do Padre Delvaux ao Padre Druilhet, em Collège du Passage. Lisboa, 25 de março de 1830. In CARAYON, Auguste – Documents inédits concernant la Compagnie de Jésus, vol. XIX, pp. 220-233.

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VEIGA, Francisca Branco, Igreja do Loreto: primeiro sermão dos Jesuítas em Portugal (7 de março de 1830) (blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [20 de Janeiro de 2024].

In VEIGA, Francisca Branco, Companhia de Jesus. O breve regresso no reinado de D. Miguel. Ed. Autor, 2023.

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O jornalismo liberal na emigração como instrumento de luta política 1828-1832

Excerto de fotografia que se encontra em Jornalismo século XIX. https://www.newsmuseum.pt/pt/imortais/jornalismo-sec-xix

As perseguições políticas promovidas pelos absolutistas em Portugal, no início do século XIX, marcaram um período de intensa repressão e instabilidade. Nesse contexto, verificou-se uma onda de emigração, envolvendo intelectuais e burgueses liberais. Estes, profundamente influenciados pelos ideais do Iluminismo europeu, que teve como figuras de destaque intelectuais como Montesquieu, Voltaire, Diderot, D’Alembert, Rousseau, Adam Smith ou John Locke, considerados promotores da revolução de 1820, viam a liberdade de imprensa como um elemento fundamental da liberdade e um meio essencial para proteger o sistema constitucional contra abusos e injustiças governamentais.

Entre os exilados, destacavam-se figuras notáveis como José Ferreira Borges (1786-1838) ou José da Silva Carvalho (1782-1856), que, já em posições de relevo nas suas carreiras, foram obrigadas a abandonar o país devido à perseguição política. Muitos destes indivíduos transformaram-se, a partir do estrangeiro, em verdadeiras sentinelas do liberalismo, utilizando a imprensa como uma arma política poderosa contra os inimigos desse ideário.

Dão-se alguns exemplos de uma imprensa combativa que se tornou uma ferramenta fundamental para dar voz à causa liberal:

O Pelourinho, publicado entre 1831 e 1832 a cargo de José Pinto Rebelo Carvalho de forma semiclandestina, e considerado o jornal mais violento da fação liberal (Vargues e Torgal, 1993-94, p. 83).

O Precursor, que contou com a publicação de apenas três números entre setembro e outubro de 1831, em Londres, e de caráter mais conciliatório e moderado, da responsabilidade de Almeida Garrett, e outras publicações dirigidas por exilados notáveis, que foram instrumentos de mobilização e propaganda política, visando desestabilizar o absolutismo e reforçar os valores liberais.

A Aurora, surgia em Londres entre 1831-1832 e que contou com 45 números impressos pelas mãos de Rodrigo da Fonseca Magalhães e Marcos Pinto Soares Vaz Preto, na qualidade de redatores principais, e de Cândido José Xavier, D. Luís do Rego Barreto e barão de Rendufe. Teve como objetivo principal a difusão das ideias liberais no território português.

Londres tornou-se, a partir de 1828, o principal centro de difusão da propaganda política liberal portuguesa. Sob a liderança de figuras como Palmela, Garret e Ferreira Borges, foram organizados esforços para enviar artigos e publicações que criticavam a política miguelista, promoviam os ideais liberais em Portugal e procuravam atrair o apoio dos principais governos europeus à causa de D. Pedro e de sua filha, D. Maria II. Estas iniciativas tinham objetivos claros: inspirar a resistência contra o absolutismo, divulgar os valores liberais e demonstrar a viabilidade de um triunfo liberal no país.

Em suma, a luta pela liberdade e pela restauração do sistema constitucional português foi intensamente marcada pela força e influência dos exilados liberais. Através da imprensa e da propaganda, conseguiram não apenas resistir à repressão, mas também manter viva a esperança de um futuro político mais justo e igualitário, contribuindo significativamente para as transformações que marcaram a história de Portugal no século XIX.

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Os pensadores iluministas destacaram-se pelas suas contribuições em diversas áreas do conhecimento e da política, promovendo ideias que influenciaram profundamente o mundo moderno. Entre os principais pensadores, encontram-se:

Voltaire, um dos maiores críticos da tirania, do fanatismo e do ateísmo. Defendia a liberdade e a razão, acreditando que a razão era o caminho para o progresso. Além disso, era um defensor da monarquia esclarecida, um modelo de governo onde o monarca aplicava os ideais iluministas em benefício do povo.

Montesquieu teve um impacto significativo no sistema de governo contemporâneo, sendo um defensor da divisão de poderes em legislativo, executivo e judicial. Foi crítico do autoritarismo político e da escravatura e destacou-se pela sua defesa das leis como garantes da liberdade política e de outros direitos individuais.

Adam Smith, conhecido como o “pai da economia moderna”, opunha-se ao monopólio e ao mercantilismo. Defendia que a riqueza das nações resultava do trabalho e era a favor de uma economia onde o Estado não interferisse. Além disso, defendia a propriedade privada e a liberdade económica como pilares fundamentais de uma sociedade próspera.

Jean-Jacques Rousseau foi um crítico dos contratualistas e via o estado de natureza como um estado amoral. Para ele, o homem era naturalmente bom, mas a sociedade, ao introduzir a propriedade privada, corrompia-o, originando desigualdades sociais e exploração. Propunha um novo contrato social baseado na vontade geral, defendendo o conceito de povo soberano como a base da autoridade legítima.

Denis Diderot destacou-se como enciclopedista do Iluminismo. Criticava o absolutismo e defendia a igualdade, a racionalidade e o acesso universal à educação. Era também um defensor do pensamento científico, sustentando que a matéria era a origem dos fenómenos existentes. Para além disso, promovia um pensamento ético que reconhecia a influência da materialidade na vida prática e fazia um elogio ao ceticismo como uma abordagem essencial para o conhecimento.

John Locke é reconhecido como o “pai do liberalismo”. Defendia o empirismo, acreditando que as ideias resultavam da experiência sensorial e da reflexão. Para Locke, o homem no estado de natureza era livre, igual e possuidor de direitos naturais como a liberdade, a vida e a propriedade. Propunha que a sociedade fosse organizada para proteger esses direitos e defendia a divisão de poderes em legislativo, executivo e federativo.

Estes pensadores foram fundamentais para lançar as bases de profundas transformações políticas, sociais e económicas, promovendo valores e ideias que continuam a influenciar as sociedades modernas e a sua organização.

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VEIGA, Francisca Branco, O jornalismo liberal na emigração como instrumento de luta política 1828-1832 (blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [10 de Janeiro de 2024].

In VEIGA, Francisca Branco, Companhia de Jesus. O breve regresso no reinado de D. Miguel. Ed. Autor, 2023, pp. 277-282.

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Marcos e Curiosidades do Forte de São Julião da Barra, em Oeiras

Planta do Forte de São Julião da Barra
Século XVI (A.)

O Forte de São Julião da Barra, localizado em Oeiras, é uma das mais emblemáticas fortificações costeiras de Portugal, com uma rica história que atravessa séculos e reflete momentos cruciais da política, religião e defesa do país. Inicialmente construído para proteger a entrada do rio Tejo e salvaguardar a cidade de Lisboa de ameaças marítimas, o forte tornou-se, ao longo do tempo, muito mais do que um bastião militar. Palco de episódios marcantes, como a prisão de jesuítas durante as reformas do Marquês de Pombal e a execução do general Gomes Freire de Andrade em 1817, a fortaleza também foi cenário de tensão e transformação política, testemunhando mudanças ideológicas e sociais que moldaram o destino da nação.

Além do seu papel estratégico, o Forte de São Julião da Barra está repleto de curiosidades e detalhes históricos, como a sua relação simbólica com a Torre do Bugio e os relatos de antigos prisioneiros que vivenciaram o isolamento nas suas muralhas. Cada elemento do forte, desde as suas imponentes torres até os subterrâneos que outrora serviram de cárcere, carrega histórias que ilustram a importância deste monumento como um verdadeiro guardião da memória coletiva portuguesa.

Em setembro de 1758, todas as casas da Companhia em Lisboa foram cercadas pela tropa. Eram sete: a casa professa de S. Roque, fundada durante o governo de S. Francisco de Borja, 3.° Geral da Companhia; o colégio de Santo Antão; o colégio de S. Francisco Xavier; a casa do Noviciado da Cotovia, assim chamada devido ao nome da colina em que se encontrava situada, que foi depois colégio dos Nobres; o seminário irlandês de S. Patrício; a residência de S. Francisco de Borja, Procuradoria das províncias ultramarinas; e o noviciado de vocações para as missões de Goa, Japão e China, vulgarmente chamado de Arroios.

A 3 de Setembro de 1759 foi promulgada a “Lei dada para a proscrição, desnaturalização e expulsão dos regulares da Companhia de Jesus, nestes reinos e seus domínios”.  Simbolicamente decretada um ano após a tentativa de regicídio, a expulsão oficial dos jesuítas de Portugal culminou no embarque de cerca de 1100 membros da Companhia de Jesus na zona de Belém. Dali, partiram em direção aos Estados Pontifícios, encerrando um capítulo marcante de perseguição religiosa e política no país.

Alegoria à expulsão dos jesuítas
Autor Desconhecido; c. 1759; Museu da Cidade
A interpretação alegórica desta aguarela é evidenciada pelos elementos iconográficos que acompanham a figura central do padre jesuíta. A tocha acesa que inflama o globo terrestre, junto à mitra papal e à coroa real, simboliza a suposta afronta da Companhia de Jesus ao poder eclesiástico e ao poder monárquico. O livro fechado aos seus pés representa a interdição das atividades educativas da Ordem em Portugal, enquanto o saco de moedas de ouro alude aos bens da Companhia que foram confiscados pelo Estado. No fundo da composição, uma nau afastando-se ao largo simboliza a lei de 3 de setembro de 1759, que decretou a expulsão dos jesuítas do reino. Sobre a cena, um céu tormentoso lança um raio que atinge o rosto do clérigo, sublinhando a punição divina ou política atribuída à sua figura.

Em janeiro deu-se a prisão de dez dos principais membros da Companhia de Jesus. Entre eles estavam o Padre João Henriques, Provincial da Companhia de Jesus em Portugal; o Padre Gabriel Malagrida, missionário apostólico; o Padre José Moreira, confessor do Rei e da Rainha; o Padre Timóteo de Oliveira, confessor do Príncipe do Brasil e da Duquesa de Bragança; o Padre Jacinto da Costa, diretor espiritual do príncipe D. Pedro; o Padre Francisco Duarte, historiador da Província Portuguesa; o Padre Inácio Soares, professor de teologia no Colégio das Artes de Coimbra; o Padre João Alexandre, Procurador Geral da Província do Malabar; o Padre João de Matos, Procurador da Casa Professa; e o Padre José Perdigão, Procurador da Província Portuguesa. Estas prisões, feitas sob a acusação de graves crimes, perpetuaram-se na história como um dos momentos mais sombrios para a Companhia de Jesus em Portugal.

FORTE DE SÃO JULIÃO DA BARRA 1759

O nome do Forte de São Julião da Barra é frequentemente abreviado pelo povo para “São Gião”, uma forma mais popular e informal. A festividade em honra deste santo, que foi martirizado em Antioquia sob os imperadores Diocleciano e Maximiano, ocorre a 9 de janeiro. Nas correspondências dirigidas a esta fortaleza, é comum utilizar as designações “Torre” ou “Barra de São Gião”. A origem do nome remonta à imponente torre que integra o forte, onde, todas as noites, se acende um farol equipado com 25 luzes, servindo como guia para as naus que se aproximam da entrada do Tejo.

Planta dos cárceres de S. Julião da Barra, desenhada pelo P. Lourenço Kaulen.
Aqui chegou o P. Eckart em 1762 e ficou até março de l777. Anselmo Eckart, Memórias de um Jesuíta Prisioneiro de Pombal. Braga: Livraria A. I., 1987, p. 176ª; Do original autografo do P. Kaulen Relação de algumas cousas que succederão aos religiosos da Companhia de Jesus…, p. 15 B.

O período de detenção do padre jesuíta Anselmo Eckart na Torre de São Julião da Barra, entre 1762 e março de 1777, fornece um valioso testemunho sobre a vida e as características das fortalezas que protegiam a entrada do Tejo no século XVIII. As suas Memórias de um Jesuíta Prisioneiro de Pombal não só relatam a experiência pessoal de um religioso em tempos de perseguição, mas também oferecem um olhar detalhado sobre a organização militar e simbólica destas estruturas, como a Torre de São Lourenço, mais conhecida como Torre do Bugio.

O padre jesuíta Anselmo Eckart chegou à Torre de S. Julião em 1762 e ficou até Março de l777. Refere este em Memórias de um Jesuíta Prisioneiro de Pombal:

«Esta torre enfrenta uma outra que sobressai no meio do mar, chamada vulgarmente Torre do Bugio, ou do macaco por ser uma imitação da fortaleza de S. Julião. Macaco de imitação também, porque quando o forte de S. Julião dispara uma peça de artilharia logo a Torre do Bugio responde com outro tiro. É esta Torre dedicada a S. Lourenço, e celebra-lhe o dia da comemoração como sua festa principal. Está munida de doze grandes canhões a que vulgarmente chamam os doze Apóstolos. A guarnição é feita por soldados de S. Julião, que se rendem todos os meses»[1] .

Forte de São Lourenço do Bugio, também conhecido como Forte de São Lourenço da Cabeça Seca ou simplesmente Torre do Bugio.
Bugio visto do Forte de São Julião da Barra.

Fotografia @franciscabrancoveiga

O relato de Eckart destaca a relação simbólica e operacional entre o Forte de São Julião e a Torre do Bugio, refletindo o rigor defensivo e o valor estratégico destas edificações. A descrição minuciosa das tradições associadas às fortalezas, como a celebração do dia de São Lourenço e o uso dos “Doze Apóstolos”, revela não apenas a dimensão militar, mas também a interseção entre devoção religiosa e vida quotidiana na guarnição. Este testemunho constitui uma fonte histórica rica, ilustrando a realidade das fortificações costeiras portuguesas numa época de desafios internos e externos.

Segundo Eckart os jesuítas «foram conduzidos para a Torre de S. Julião, onde os sepultaram vivos nos subterrâneos que Pombal mandara cavar»[1].

FORTE DE SÃO JULIÃO DA BARRA 1817

Em maio de 1817, implicado e acusado de liderar uma conspiração, Gomes Freire de Andrade (Viena, 27 de janeiro de 1757 – Oeiras, Oeiras e São Julião da Barra, Forte de São Julião da Barra, 18 de outubro de 1817) foi detido, preso, tratado como um criminoso, condenado à morte e enforcado (embora tenha pedido para ser fuzilado), na manhã de 18 de outubro, no Forte de São Julião da Barra, em Oeiras, por crime de traição à Pátria. As suas cinzas foram lançadas ao mar.

Execução de Gomes Freire de Andrade

Com a expulsão dos franceses e a queda de Napoleão, a família real portuguesa permanecia no Brasil, enquanto os ingleses continuavam a exercer um domínio quase colonial sobre Portugal. Este controle humilhava os verdadeiros patriotas, que viam o país subordinado aos interesses britânicos. O descontentamento era generalizado: o povo revoltava-se porque grande parte dos rendimentos nacionais era enviada para o Rio de Janeiro, enquanto as classes mais instruídas ansiavam por mudanças, inspiradas pelas ideias liberais que já se espalhavam pela Europa. Um clima de impaciência e fervor revolucionário tomava conta dos corações patrióticos.

Neste cenário, Gomes Freire de Andrade, suspeito de conspirar contra o domínio britânico e o absolutismo monárquico, foi preso, junto a outros companheiros, em 25 de maio de 1817. Após um julgamento marcado por graves irregularidades e injustiças, o corajoso general foi condenado à morte. A sentença foi divulgada apenas dois dias após a sua execução, evidenciando o ódio de Beresford, que, numa última humilhação, negou a Gomes Freire um fuzilamento honrado, digno de um soldado, e ordenou que ele fosse enforcado, como se fosse um criminoso vulgar.

A execução ocorreu às 9 horas da manhã de 18 de outubro de 1817. O cenário era tanto trágico quanto emblemático: Gomes Freire, sereno e altivo, vestia uma alva, mantendo a compostura apesar do frio e das pedras que feriam os seus pés. A expressão cruel do carrasco contrastava com a dignidade do general. Após o enforcamento, o corpo de Gomes Freire foi incinerado numa pira de lenha, e os seus restos mortais, em um ato de desrespeito final, foram lançados ao mar. Este episódio ficou gravado na história como um dos mais sombrios atos de repressão contra os ideais de liberdade e justiça em Portugal.

Roque Gameiro, de parceria com Alberto de Sousa, participou na ilustração dos Quadros da História de Portugaleditada em 1917. 

Em memória de Gomes Freire de Andrade, executado em 1817, uma lápide e um silhar de azulejos com a sua efígie foram colocados sobre a porta da torre do Forte de S. Julião.

Fotografia @franciscabrancoveiga
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Quarto/prisão onde esteve Gomes Freire de Andrade
Fotografia @franciscabrancoveiga
Quarto/prisão onde esteve Gomes Freire de Andrade
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FORTE DE SÃO JULIÃO DA BARRA 1834

Pela Portaria de 24 de maio de 1834, dirigida ao Corregedor de Coimbra, quatro dias antes da publicação do Decreto da extinção das Ordens religiosas, determinava Joaquim António de Aguiar que «d’ella saiam [os Jesuítas] immediatamente, dando-lhes itinerário», e no prazo mais curto possível se apresentassem na secretaria de estado, onde se providenciaria os meios para o seu embarque com destino ao exílio[2]. Tinha a Companhia de Jesus honras de perseguição em decreto especial.

Os Padres Jesuítas, que se encontravam em Coimbra e seguiam em direção a Lisboa, foram encaminhados para a Torre de São Julião da Barra, onde chegaram no dia 6 de junho do ano corrente. A decisão visava mantê-los sob custódia, protegendo-os de possíveis ataques populares, já que o clima ainda era tenso devido às recentes vitórias obtidas contra o Exército Miguelista.

Carta em Francês, que a bordo do navio e no dia da partida (7 de julho de 1834) dirigiu por despedida ao governador do Foret de S. Julião da Barra o P. Mallet, Superior da Missão portuguesa da Companhia de Jesus.

«A bordo em 7 de julho de 1834

Senhor Governador Chegou o dia em que devemos deixar este país agradável, onde não existem nem as prisões que não tenham os seus atrativos! Dentro de algumas horas voltaremos a ver, provavelmente nunca mais as veremos, as muralhas do Forte de S. Julião, […] Em nome de todos os meus colegas tenho a honra de estar, com a maior estima e eterna gratidão»[3].

In summa, o Forte de São Julião da Barra simboliza um espaço de grande significado histórico e político, servindo como palco de eventos marcantes que refletem as tensões e transformações de Portugal ao longo dos séculos. Desde a expulsão dos Jesuítas em 1759, uma medida que consolidou a autoridade do Marquês de Pombal e reafirmou o poder do Estado sobre a Igreja, até a execução de Gomes Freire de Andrade em 1817, um marco trágico da luta entre absolutismo e liberalismo, este forte tem sido testemunha silenciosa de perseguições e mudanças ideológicas.

A sua função como prisão e fortaleza militar, associada ao controle e à repressão, também se entrelaça com um simbolismo de resistência e memória, perpetuado por documentos, relatos e até homenagens póstumas, como a lápide dedicada a Gomes Freire.

Assim, o Forte de São Julião da Barra permanece não apenas como uma estrutura defensiva à entrada do Tejo, mas como um marco da história portuguesa, carregando em suas paredes os ecos das disputas políticas, das perseguições religiosas e dos anseios por liberdade e justiça.

XXXXXXXX

(A.) – CARITA, Rui; Cardoso, António Homem, O Escudo do Reino: A Fortaleza de S. Julião da Barra, Ministério da Defesa Nacional, 2007.

[1] In Anselmo Eckart, Memórias de um Jesuíta Prisioneiro de Pombal. Braga: Livraria A. I., 1987, pp. 183; 104.

[2] Portaria de 24 de maio de 1834, dirigida ao Corregedor de Coimbra, para proceder à imediata expulsão dos Jesuítas. ARQUIVO UNIVERSIDADE DE COIMBRA (AUC), Colégio das Artes, Relações de Livros existentes em antigo Cartório – tombos de bens, privilégios e doações do Património antigo e novo (dos extintos colégios da Companhia de Jesus). Inventário de Bulas, Alvarás, sentenças e outros títulos com remissão para as gavetas do Cartório, [Manuscrito].V. cx.; SILVA, Antonio Delgado da – Collecção da legislação Portugueza desde a ultima compilação das ordenações: Legislação de 1833 a 1834, vol. VIII, anno de 1834. Lisboa: Typ. Maigrense, 1835, p. 438; Chronica Constitucional de Lisboa, nº 124, de 27 de maio de 1834.

[3] Produções dos Padres Jesuitas durante o tempo q estivérao na Torre de Saõ Julião da Barra, anno 1834.

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VEIGA, Francisca Branco, Marcos e Curiosidades do Forte de São Julião da Barra, em Oeiras (blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [02 de Dezembro de 2024].

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Luís Vaz de Camões, retalhos

(Comemoração dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões)

Camões lendo os Lusíadas ao rei D. Sebastião na Penha Verde, em Sintra.
Desenho de Manuel Macedo, executado por ocasião do III Centenário da morte de Luís de Camões (excerto). In Camões lendo os “Lusiadas” a D. Sebastião na Penha Verde, em Cintra [Material gráfico] / Manuel Macedo Pereira Coutinho. – Lisboa : Bertrand, Ldª, 1934. – 1 litogravura : papel, p & b ; 20 x 30 cm.

Um dos principais autores desta história foi Almeida Garrett, alguém com uma grande influência em Portugal. No seu poema Camões (1825), no canto VII, Garrett conta como Camões narrou ‘Os Lusíadas’ a D. Sebastião.

Aqui ficam os versos:

VII (IX)

“E el‑rei, como inquieto, ao aio antigo:

— «Dom Aleixo, entre tantos pretendentes

O vosso protegido não no vejo.»

— «Ei‑lo, senhor, o nobre cavaleiro

Que desejais ouvir.»

— «Sim, quero ouvi‑lo,

Quero e desejo: não ignoro o preço

Das boas letras, nem dum raro engenho

A estima desvalio: em prol da pátria

Uns obramos coa espada; cumpre a outros

Coa pena honrá‑la.»”

Almeida Garrett situou o momento da leitura na Penha Verde (hoje corresponde a uma propriedade privada):

VII (X)

— «Iremos, para ouvir‑vos,

Da Penha‑verde à fresquidão sentar‑nos.

Calmoso vai o tempo; e ademais, prazem

Dobrado entre a verdura os dons das musas.»

#DSebastiao #almeidagarrett #sintraportugal

XXXXXX

«Está-se a Primavera trasladando

em vossa vista deleitosa e honesta;

nas lindas faces, olhos, boca e testa,

boninas, lírios, rosas debuxando.

De sorte, vosso gesto matizando,

natura quanto pode manifesta

que o monte, o campo, o rio e a floresta

se estão de vós, Senhora, namorando.

Se agora não quereis que quem vos ama

possa colher o fruto destas flores,

perderão toda a graça vossos olhos.

Porque pouco aproveita, linda Dama,

que semeasse Amor em vós amores,

se vossa condição produz abrolhos.

Se Agora não Quereis quem vos Ama»

(Luís de Camões, Sonetos)

#Camões#poemasdecamoes#500anos#23DEJANEIRO#aniversario2024

XXXXXX

Luís Vaz de Camões nasceu em 23 de janeiro de 1524 (!), na cidade de Lisboa.

Num soneto do poeta é feita uma alusão a um eclipse solar visível em Portugal um ano antes do seu nascimento.

Imagem

Retrato póstumo de Luís de Camões, oferecido por Fernão Teles de Meneses a D. Luís de Ataíde, datado de Goa, 1581.

In https://franciscabrancoveiga.com/…/fernao-teles-de…/

#fernaotelesdemeneses #governadordaindia #noviciadodacotovia

XXXXXX

Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões, obra publicada em Lisboa em 12 de março de 1572, no período literário do Classicismo, ou Renascimento tardio, três anos após o regresso do autor do Oriente.

Os Lusíadas na edição monumental da obra editada por D. José Maria de Sousa Botelho Mourão, Morgado de Mateus.

Os Lusíadas: Poema épico / de Luís de Camões Nova ed. correcta, e dada à luz / por Dom Joze Maria de Souza-Botelho, Morgado de Mateus, sócio da Academia Real das Sciencias de Lisboa. – Paris: Officina Typographica de Firmin Didot, 1817.- [8], CXXX, [2], 413p.;37cm.- Contém anotações ms. de José Maria de Souza-Botelho.-Lombada em pele. Literatura portuguesa-poesia épica.

O Morgado de Mateus confiou a François Gérard, pintor de Luís XVIII, a escolha e a direção dos desenhadores e dos abridores das 12 gravuras (Évariste Fragonard, Alexandre Desenne, Raphael-Urbain Massard, …).

Fotografia: Francisca Veiga

#historia4all#lusiadas#luisdecamoes

XXXXX

Luís de Camões

Os Lusíadas

Canto IX (Est. 1-95)

Ilha dos Amores

«95

E fareis claro o Rei que tanto amais,

Agora cos conselhos bem cuidados,

Agora co as espadas, que imortais

Vos farão, como os vossos já passados.

Impossibilidades não façais,

Que quem quis, sempre pôde; e numerados

Sereis entre os Heróis esclarecidos

E nesta «Ilha de Vénus» recebidos.»

Monumento de Homenagem a Luís de Camões

Parque dos Poetas – Oeiras

Autoria do escultor Francisco Simões

Fotografia: Francisca Branco Veiga

#Camões#parquedospoetas#oeirasvalley#franciscosimões#lusiadas#ilhadosamores

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Luis de Camões

Palácio Nacional de Mafra, Portugal, Autoria? | Séc. XIX

Fotografia: Francisca Veiga

#historia4all #camoes #luisvazdecamoes #palaciodemafra

A mais antiga edição de Os Lusíadas existente na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra.
Edição em castelhano, de 1591.

XXXXXX

LUSÍADAS

(Canto X, estrofes 154–156)

Considerações finais do poeta

Camões apresenta-se a D. Sebastião como um poeta cujo patriotismo o motiva a servir o país através das armas e da escrita.

154

Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo,

De vós não conhecido nem sonhado?

Da boca dos pequenos sei, contudo,

Que o louvor sai às vezes acabado.

Nem me falta na vida honesto estudo,

Com longa experiência misturado,

Nem engenho, que aqui vereis presente,

Cousas que juntas se acham raramente.

155

Pera servir-vos, braço às armas feito,

Pera cantar-vos, mente às Musas dada;

Só me falece ser a vós aceito,

De quem virtude deve ser prezada.

Se me isto o Céu concede, e o vosso peito

Dina empresa tomar de ser cantada,

Como a pres[s]aga mente vaticina

Olhando a vossa inclinação divina,

156

Ou fazendo que, mais que a de Medusa,

A vista vossa tema o monte Atlante,

Ou rompendo nos campos de Ampelusa

Os muros de Marrocos e Trudante,

A minha já estimada e leda Musa

Fico que em todo o mundo de vós cante,

De sorte que Alexandro em vós se veja,

Sem à dita de Aquiles ter enveja.

As estrofes finais de Os Lusíadas retomam a Dedicatória do Canto I, estabelecendo um vínculo entre o início e o desfecho da epopeia, ao dirigir-se uma vez mais a D. Sebastião. Contudo, enquanto na abertura o propósito era oferecer-lhe a obra como expressão de lealdade e homenagem, neste momento final Camões relembra ao jovem monarca a responsabilidade que lhe cabe na condução do povo português e na regeneração moral e política do reino. Simultaneamente, exorta-o à realização de novos feitos heróicos, dignos de serem perpetuados em verso, apelando a um compromisso firme com a grandeza da pátria.

Na sua invocação final, o poeta caracteriza-se de modo humilde, enfatizando a sua condição modesta e a falta de reconhecimento: «humilde, baixo e rudo, / De vós não conhecido nem sonhado». Apesar disso, afirma reunir qualidades excecionais — o estudo honesto, a experiência e o engenho — que, como refere, «juntas se acham raramente».

Camões denuncia ainda a vileza da sociedade em que está inserido, ciente de que não será valorizado pelos seus contemporâneos. Reforça, por isso, o apelo a D. Sebastião, instando-o a contemplar os feitos passados como inspiração para restaurar a glória nacional. Neste contexto, coloca-se inteiramente ao serviço do rei, quer pelas armas — disposto a combater, se necessário — quer pelas letras, pronto a exaltar os futuros feitos de Portugal em nova e renovada epopeia.

#historia4all#franciscabrancoveiga#camoes#lusiadas#cantox

Como referir este texto:

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VEIGA, Francisca Branco, Luís Vaz de Camões, retalhos(blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [02 de Novembro de 2024].

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Capela da Rainha Santa Isabel, Castelo de Estremoz

Isabel de Aragão ( 4 de janeiro de 1271– Estremoz, 4 de julho de 1336)

DESCRIÇÃO ARTÍSTICA

O acesso a esta capela barroca faz-se por um portão em ferro e de seguida por uma porta em mármore da região, onde se destaca o brasão real. A escadaria em mármore, é decorada com azulejos seiscentistas. À entrada, duas pias em brecha da Arrábida. A capela é de nave única, com planta retangular e abóbada de berço.

Por cima da porta, um coro em mármore branco de Estremoz, no qual se lê um agradecimento à Rainha Santa Isabel pela intervenção divina que em 1808 protegeu Estremoz das pilhagens e massacres das tropas francesas. A rematar, as armas reais das Casas de Portugal e de Aragão. Lateralmente, azulejos setecentistas representando dois anjos custódios.

No altar-mor, três imagens do século XX: ao centro a Rainha Santa, à direita São Filipe Néri e à esquerda São Lázaro.

Nas paredes, pinturas atribuídas a André Gonçalves (Lisboa, 1685 – Lisboa, 1762)  e painéis de azulejo da oficina de Teotónio dos Santos (batizado em 24 de fe-vereiro de 1688, na Igreja de S. João de Santa Cruz da cidade de Coimbra – morreu em 10 de outubro de 1762, em Lisboa).

AZULEJOS

  1. O Milagre da criança salva pela Rainha de morrer afogada no rio Tejo;
  2. O Milagre das águas do Tejo que se apartam, recorda a lenda de Santa Iria cujo o túmulo foi encontrado no fundo do rio.

D. Isabel avança pelo rio para prestar homenagem à Santa quando por milagre as águas se apartam.

  • A Lenda da mulinha ou a Paz de Alvalade, relata o episódio histórico da batalha de Alvalade que opôs D. Dinis ao filho o Infante D. Afonso. Estando os exércitos a postos, a rainha surge montada na sua mula apelando à paz.

PINTURAS

  1. O Milagre das Rosas testemunha a sua bondade para com os pobres a quem às escondidas do rei ia levar pão e dinhei-ro. Um dia, o esposo desconfiado pergunta-lhe o que leva no regaço. D. Isabel abrindo o avental responde – “São Rosas, Senhor”. O pão havia-se transformado em rosas!
  2. O Milagre da transformação do vinho em água relata um episódio da vida da Rainha quando esta adoece e o médico a aconselha a tomar um copo de vinho tinto. Por milagre, o vinho trazido dentro de uma pequena garrafa, transforma-se no copo, em água.
  3. A Tomada de hábito da Rainha Santa Isabel.
  4. O Milagre de Arrifana. Em 1325, indo D. Isabel a caminho de Santiago de Compostela, cura uma criança cega, na vila de Arrifana, Santa Maria da Feira.
  5. As Rainhas servem as freiras no Convento de Santa Clara-a -Velha, ao centro a sua nora, a Rainha D. Beatriz e à esquerda, Santa Isabel envergando o hábito de Clarissa mas com a coroa real.
  6. O Milagre da Aparição da Virgem a Santa Isabel. No leito da morte tem uma visão da Virgem Maria. D. Isabel pede à nora que se afaste para dar lugar à “Senhora de vestes bran-cas” que ninguém, senão ela, viu.

No teto, pintura do final do século XVIII com a subida de Santa Isabel ao céu.

O púlpito é da segunda metade do século XIX, ao qual outrora se acedia por uma escada em madeira.

À direita do altar-mor, uma estreita porta dá acesso a um pequeno compartimento que diz a tradição ter feito parte dos aposentos da rainha Santa Isabel e local onde morreu.

A 11 de fevereiro de 1282, com aproximadamente 11 anos, Isabel de Aragão casou-se então por procuração com o soberano português D. Dinis na capela de Santa Ágata no Palácio real de Barcelona. Do seu casamento com o rei D. Dinis teve dois filhos: D. Afonso IV (8 de fevereiro de 1291 – 28 de maio de 1357), sucessor do pai no trono de Portugal; Constança (3 de janeiro de 1290 – 18 de novembro de 1313), que casou em 1302 com o rei Fernando IV de Castela.

Isabel faleceu, tocada pela peste, em Estremoz, a 4 de julho de 1336, com 65 anos, tendo deixado expresso em seu testamento o desejo de ser sepultada no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha.

No século XVII, a rainha D. Luísa de Gusmão, regente em nome de seu filho D. Afonso VI, transformou em capela o quarto em que a Rainha Santa Isabel havia falecido.

AtribuiçõesRepresentada como rainha de Portugal, com rosas no regaço do vestido ou vestida com o hábito da Ordem Terceira de São Francisco, com o bordão de peregrina a Santiago de Compostela.

O acesso a esta capela barroca faz-se por um portão em ferro e de seguida por uma porta em mármore da região, onde se destaca o brasão real.

ESCADARIA QUE DÁ ACESSO À CAPELA.

Escadaria de quatro lances, em mármore, é decorada com azulejos seiscentistas.

CAPELA

A capela é de nave única, com planta retangular e abóbada de berço.


Por cima da porta, um coro em mármore branco de Estremoz, no qual se lê um agradecimento à Rainha Santa Isabel pela intervenção divina que em 1808 protegeu Estremoz das pilhagens e massacres das tropas francesas. A rematar, as armas reais das Casas de Portugal e de Aragão. Lateralmente, azulejos setecentistas representando dois anjos custódios.


TETO DA CAPELA

Nas paredes, pinturas atribuídas a André Gonçalves (Lisboa, 1685 – Lisboa, 1762)  e painéis de azulejo da oficina de Teotónio dos Santos (batizado em 24 de fe-vereiro de 1688, na Igreja de S. João de Santa Cruz da cidade de Coimbra – morreu em 10 de outubro de 1762, em Lisboa).


ACESSO À SACRISTIA

À direita do altar-mor, uma estreita porta dá acesso a um pequeno compartimento que diz a tradição ter feito parte dos aposentos da rainha Santa Isabel e local onde morreu.

ACESSO AO QUARTO ONDE MORREU A RAINHA SANTA ISABEL.

À direita do altar-mor, uma estreita porta dá acesso a um pequeno compartimento que diz a tradição ter feito parte dos aposentos da rainha Santa Isabel e local onde morreu.

Como referir este texto:

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VEIGA, Francisca Branco (2024), Capela da Rainha Santa Isabel, Castelo de Estremoz (blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [28 de Setembro de 2024].

FOTOGRAFIAS: @franciscabrancoveiga e @joseveiga

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