1829-1832

Fotografia: Francisca Branco Veiga
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Os Açores desempenharam um papel importante nas lutas liberais, sendo responsáveis pela difusão dos ideais liberais em Portugal continental.
No Miradouro da Santa Iria, na freguesia de Porto Formoso, no concelho da Ribeira Grande encontra-se um painel de azulejos assinalando a Batalha da Ladeira da Velha que se deu no dia 3 de agosto de 1831.

Fotografia: Francisca Branco Veiga
Podemos ler no painel de azulejos:
“No dia 3 de agosto de 1831, nos Montes da Ladeira da Velha, localizados a Nascente deste Miradouro, Concelho da Ribeira Grande, as tropas fiéis a D. Pedro IV haviam de vencer o exército do Rei de tradição absolutista, seu irmão, D. Miguel. Foi uma batalha decisiva. Por ela se consolidou a vitória das forças liberais no arquipélago dos Açores, bem como se abriu o caminho que, depois de uma guerra civil cruenta, levaria em évora Monte, aos 26 de maio de 18334, à queda do absolutismo e à reposição, em Portugal, da Carta Constitucional”.

Fotografia: Francisca Branco Veiga

Fotografia: Francisca Branco Veiga

Fotografia: Francisca Branco Veiga

Fotografia: Francisca Branco Veiga

Fotografia: Francisca Branco Veiga
Esta batalha consolidou a vitória das forças liberais no arquipélago dos Açores, abrindo o caminho para o fim do regime miguelista/absolutista em Portugal.
Entretanto, D. Miguel já tinha enfrentado no dia 11 de agosto de 1829 a vitória dos liberais, comandadas pelo Duque da Terceira, na Vila da Praia (Ilha Terceira, Açores), que impediram a esquadra miguelista de 4.000 homens de desembarcar na ilha. Foi a primeira vitória liberal contra os absolutistas e que deu inicio à Guerra Civil ou à Guerra dos dois Irmãos (1828-34).
Angra transformou-se em sede da Junta Provisória (isto é, capital do Reino) em nome da futura rainha D. Maria II, filha de D. Pedro.

Batalha da Praia da Vitória (11 de agosto de 1829). Gravura de autor desconhecido, s.d. Palácio de Queluz. D. Pedro d’Alcântara de Bragança, 1798-1834. Lisboa: Secretária de Estado, 1986

Vila da Praia, Ilha Terceira, Açores
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No dia 6 de janeiro de 1832, notícias colhidas pelo jornal Morning Post, de Londres, anunciavam uma expedição liberal com destino ao reino português. No dia 12 de fevereiro, D. Pedro partia de Belle isle (França), rumo à Ilha Terceira, na nau Rainha de Portugal, após ter abdicado do trono brasileiro em 7 de abril de 1831, em favor de seu filho mais novo Pedro II.

Imperador Pedro I entrega sua abdicação ao Major Lima e Silva, a Imperatriz Amélia sentada ao fundo com o então Príncipe Imperial, D. Pedro no colo. In Revista de História da Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro: SABIN) 7 (74).
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No mesmo dia em que os jesuítas franceses tomam posse do Colégio das Artes (22 de fevereiro), D. Pedro, após um périplo pela Europa em busca de apoios à causa liberal, desembarca em Angra (do Heroísmo) juntando-se aos liberais que aí se encontram e para, a partir daí, organizar a reconquista do trono para a sua filha.
No dia 3 de março decretava a dissolvência da Regência da Terceira, reassumindo a autoridade que nela estava delegada, e como esta ação representava uma afronta contra D. Miguel e contra Portugal, era preciso mostrar à nação, à Europa e ao mundo os seus direitos inquestionáveis. Assim, no dia 28 de março de 1832, manda publicar ao seu ministro, o Visconde de Santarém, uma circular dirigida ao Núncio Apostólico e a todos os ministros e cônsules acreditados em Lisboa, prevenindo-os da dita agressão, da injustiça da mesma e das medidas enérgicas que o governo estava tomando para anular esse atentado contra a soberania nacional[5].
Os acontecimentos políticos precipitavam-se e agitavam o governo miguelista. D. Miguel, num decreto de 16 de junho de 1832, revelava essa inquietude: “… a facção revolucionária continua a perturbar a tranquilidade destes reinos, […] projetando a sua invasão para destruir a ordem, as hierarquias, corporações eclesiásticas, e religiosas, despojar meus fiéis vassalos, empregos, foros e liberdades”[1].
No dia 6 de julho D. Miguel envia uma circular ao Corpo Diplomático de Lisboa, comunicando o estabelecimento do “estado de sítio” das praças e terras marítimas do Reino, face à ameaça de uma invasão[2].
Com a notícia de uma possível chegada das esquadras liberais ao Porto, saí de Coimbra para Aveiro o regimento de milícias que aí se encontrava em alerta. E na defesa do Trono e do Altar vão pegar em armas muitos eclesiásticos. Esse serviço foi aprovado pelo ministro da Justiça Luiz de Paula Furtado de Castro do Rio de Mendonça, num aviso dirigido ao bispo de Coimbra, D. Joaquim da Nazaré. Enuncia o dito Aviso:
“… as três dignidades da sua Sé Cathedral, que são o deão, chantre e mestre-eschola, juntamente com o provisor do bispado, se dirigiram a v. ex.ª, para por sua intervenção se offerecerem a sua majestade, a fim de serem empregados no serviço militar da cidade de Coimbra, ou em qualquer outro, que sua majestade houvesse por bem designar-lhes […] e que pouco depois os mais capitulares da mesma sé, e o reitor, mestres e mais empregados do seminário de v. exª se lhe apresentaram também para fazerem eguaes oferecimentos […] assim mesmo quiseram dar provas n’esta occasião do seu grande amor pelo seu legitimo soberano, e da sua fidelidade pela sua religião, e pela sua pátria …”[3]
No dia 7 de julho avista-se na costa portuguesa a esquadra liberal vinda dos Açores, desembarcando D. Pedro com o seu exército de 7.500 homens, no Mindelo, no dia 8 e entrando no Porto no dia seguinte, dando início ao Cerco do Porto[4].

Vista da praia do Arnosa de Pampelido, onde desembarcou D. Pedro e o exército libertador.
Gravura publicada no Elogio Histórico do Rei D. Pedro IV, pelo Marquês de Resende, apresentado na Academia das Ciências de Lisboa em 1836 e publicado em 1867.
Palácio Nacional de Queluz
[1] Decreto de 16 de junho de 1832. Apud LOUSADA, Maria Alexandre – O miguelismo (1828-1834): o discurso político e o apoio da nobreza titulada. Provas de aptidão pedagógica e capacidade científica apresentadas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Trabalho de síntese. Lisboa: FL-UL, 1987, p. 28.
[2] Circular dirigida ao Nuncio de Sua Santidade, ao Enviado Extraordinário, o Ministro Plenipotenciário de Sua Magestade Catholico, ao Encarregado de Negocios dos Estados Unidos da America, e aos Cônsules das mais Noções Estrangeiras residentes nesta Corte. In Gazeta de Lisboa, nº 158, de 6 de julho de 1832.
[3] O Conimbricense, nº 3191, de 10 de janeiro de 1882, p.3. Vide Anexo 53 – O Conimbricense, 10 01 82
[4] Sobre o Cerco do Porto veja-se SORIANO, Luz – História do cerco do Porto: precedida de uma extensa noticia sobre as differentes phazes politicas da monarchia desde os mais antigos tempos até ao anno de 1820…. Lisboa: Imp. Nacional, 1846-1849; FERRÃO, António – Reinado de D. Miguel: o cerco do Porto: 1832-1833. [S.I.: s.n.], 1940 (Lisboa: Tip. Gráf. Santelmo).
[5] SILVA, Antonio Delgado da – Collecção da legislação Portugueza desde a ultima compilação das ordenações: Legislação de 1828 a 1832, vol. VII, parte 3. Lisboa: Typ. Maigrense, 1835, p. 8.
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In VEIGA, Francisca Branco, Companhia de Jesus, O Breve Regresso no Reinado de D. Miguel. Ed. Autor, 2023.
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VEIGA, Francisca Branco (2023), GUERRAS LIBERAIS – Da Batalha da Praia da Vitória (Ilha Terceira, Açores) ao Cerco do Porto(blogue da autora Francisca Branco Veiga). Disponível em: https://franciscabrancoveiga.com/ [22 de Agosto de 2023].
VEIGA, Francisca Branco, Companhia de Jesus. O Breve Regresso no Reinado de D. Miguel. Ed. Autor, 2023, 437 p. (Livro disponível na Amazon.es)


































